segunda-feira, 31 de julho de 2017

As portas da percepção: Céu e inferno. Primeira parte: AS PORTAS DA PERCEPÇÃO. Obra: 1954.

Aldous Huxley, livros
As portas da percepção, para quem não o (a) leu na integra ou na sua resenha, ele se trata da descrição do próprio autor do livro, Aldous Huxley sobre sua experiência de ingestão de mescalina. Huxley, “foi um escritor inglês e um dos mais proeminentes membros da família Huxley”. Enfatizo que não é minha intenção fazer qualquer discurso a favor ou contra o uso das drogas, (minhas convicções guardo-as comigo), mas sim, com o objetivo de fazer uma exposição pertinente a respeito do livro. Outro ponto que é preciso informar para os desinformados que Huxley não foi um apologista das drogas; no sentido a utilizá-las a fim de alienar-se do mundo (hedonismo), ou para experimentar uma “conversão mística”. Conforme no prefácio, o resenhista esclarece na citação: “Huxley fez do excesso da sabedoria e de curiosidade um caminho para o palácio do êxtase: é a razão que, percebendo sua insuficiência perante a pluralidade do mundo, busca uma abertura para novas formas de percepção que sejam uma alternativa ao solipsismo (essa perversão do idealismo) e ao behaviorismo (perversão do empirismo). (Prefácio, pág. 13).
Portanto, ele não foi um aficionado a drogar-se para obter prazer ou para a fuga da realidade como salientado acima, no entanto, buscou ter uma experiência para expandir a percepção da consciência. Muitos de nós na nossa consciência não alterada, sem o efeito psicoativo, no caso agora, especificamente da mescalina, não observamos as coisas, objetos naquilo que elas são de fato. Passando despercebidos, por não darmos valor como deveriam ser colocados, por nossos outros afazeres cotidianos são tidos como obsoletos que para o autor é o essencial nas suas sutilidades imperceptíveis que não são observados.
Comenta quando ingeriu, [...]. Que numa manhã de sol, “tomou quatro decigramas de mescalina, dissolvidos em meio copo d´água”. (Citação, pág. 24). A priori o que autor descreve, em sua experiência com mescalina, é que as tonalidades das cores tinham uma atração maior na percepção que nas formas geométricas. Na cadeira, nos livros, nas flores, ou nos quadros de pintura, (todos estes objetos considerados insignificantes, tornaram-se fascinantes). Cita também, vários pintores e suas obras, e as expõe com sua impressão, descrevendo as peculiaridades de cada obra artística. Muitos se perguntariam como ele conseguiu vislumbrar estas novas percepções? Na (página 32), Huxley explica sobre a válvula redutora, que são nosso cérebro e o nosso sistema nervoso, é ele que dificulta a abertura para o conhecimento de “outros mundos”: “De acordo com tal teoria, cada um de nós possui, em potencial, a Onisciência. Mas, visto que somos animais, o que mais nos preocupa é viver a todo o custo. Para tornar possível a sobrevivência biológica, a torrente da Onisciência tem de passar pelo estrangulamento da válvula redutora que são nosso cérebro e sistema nervoso. O que consegue coar-se através desse crivo é um minguado fio de conhecimento que nos auxilia a conservar a vida na superfície deste singular planeta”. Mais a frente ele explica que alguns indivíduos parecem ter nascido com uma espécie de desvio da válvula de redução, (página 33): “[...] algumas pessoas parecem ter nascido com uma espécie de desvio que invalida essa válvula redutora.
Em outras, o desvio pode surgir em caráter temporário, seja espontaneamente, seja como resultado de “exercícios espirituais” voluntários, do hipnotismo ou da ingestão de drogas”. O que ocorreu com Huxley após a ingestão da droga, foi que ele se tornou a parte de sua individualidade, o que se nomeia de despersonalização ou desindividualização. As coisas inerentes do dia-a-dia, que é comum a todos nós se tornaram irrelevantes naquele momento, era como se ele fosse o objeto que via. Na (pág. 43), ele comenta: “E, no entanto, um deles era minha esposa, e o outro, um homem que eu considerava e de quem muito gostava. Mas ambos pertenciam a um mundo do qual, naquela ocasião, a mescalina me havia tirado – o mundo dos personalismos, da dimensão tempo, dos julgamentos morais e das considerações utilitárias; o mundo – e era esse aspecto da vida humana que, acima de tudo, mais desejava esquecer – o mundo da autoafirmação, da convicção, da supervalorização da palavra e das noções idolatramente cultuadas”.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

OS FALSOS DOUTORES E MESTRES DA LEI


Evangelho, Artigo, falso profetasAssim diz o SENHOR acerca dos profetas que fazem errar o meu povo, que mordem com os seus dentes, e clamam paz; mas contra aquele que nada lhes dá na boca preparam guerra. Portanto, se vos fará noite sem visão, e tereis trevas sem adivinhação, e pôr-se-á o sol sobre os profetas, e o dia sobre eles se enegrecerá. E os videntes se envergonharão, e os adivinhadores se confundirão; sim, todos eles cobrirão os seus lábios, porque não haverá resposta de Deus. Mas eu estou cheio do poder do Espírito do SENHOR, e de juízo e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado. (Miquéias 3:5-8).
Os falsos mestres dos tempos antigos, obravam com a mesma leviandade e dissimulação, similarmente como o fazem alguns dos pregadores atuais que são atraídos por aqueles que têm algo para oferecer-lhes em troca; promovem heresias, com adesão às campanhas de prosperidades; como conseguir seu "par ideal", como desfrutar de uma vida "abençoada no casamento"; como ser abençoado nas suas finanças e etc. Os valores espirituais e os mandamentos divinos são postos a escanteio, e assim, vão nutrindo a mente e os corações humanos com mentiras e a avareza, isso por amor ao lucro e às coisas concernentes a esta vida apenas. Substituíram a mensagem central de nossa esperança cristã, "o Reino dos Céus" pelo "Reino do mundo", pois suas práticas se direcionaram a satisfazerem o desejo da carne. Como bem disse o Apóstolo Paulo: "Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cuja glória e para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas." (Filipenses 3.18-19).
Muitas dessas pessoas que frequentam estes templos, deixaram de ouvir o verdadeiro Pastor de suas almas, que é Cristo Jesus, Senhor Nosso, por dar ouvidos a falsos mestres que estão preocupados mais em se pastorearem do que pastorear as "ovelhas". Por isso que os sinais estão sendo manifestos a cada dia, e muitos daqueles que se deixaram levar pelas tendências do mundo, no fim se darão muito mal. Conforme o Senhor Jesus Cristo alertou: E, como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do Homem. Comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos. Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se há de manifestar (Lucas 17: 26 - 30).

Tiago A. Vitti

Logoterapia - A presença ignorada de Deus

Logoterapia, Viktor E. FranklNessa moldura de uma tal imagem do ser humano, contudo, falta simplesmente aquela característica ontológica fundamental da realidade humana que acabei denominando de “autotranscendência” da existência. Isso quer dizer que ser humano significa dirigir-se além de si mesmo, para algo diferente de si mesmo, para alguma coisa ou alguém. Em outras palavras, o interesse preponderante do ser humano não é por quaisquer condições internas dele próprio, sejam elas prazer ou equilíbrio interior, mas ele é orientado para o mundo lá fora, e neste mundo procura um sentido que pudesse realizar ou uma pessoa que pudesse amar. E, com base em sua auto compreensão ontológica pré-reflexiva, tem conhecimento de que ele se autorrealiza precisamente à medida que se esquece de si próprio [...].

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Viktor Frankl: Análise Existencial e Logoterapia

Viktor Emil Frankl; logoterapia, análise existencial; psicologia; Artigo
"A pessoa espiritual é perturbável, mas não destrutível por via de uma doença psicofísica. O que uma doença pode destruir o que ela pode desorganizar, é só o organismo psicofísico. Este organismo representa, todavia, tanto o espaço de ação da pessoa como o seu campo de expressão. A desorganização do organismo não significa menos, mas também não significa mais do que a obstrução do acesso à pessoa - nada mais! E isto devia ser o nosso credo psiquiátrico: esta crença absoluta no espírito pessoal, - esta crença "cega" na pessoa espiritual "invisível", mas indestrutível! Minhas senhoras e meus senhores, se eu não tivesse esta crença então preferia não ser médico". (Viktor E. Frankl).
"O espírito é, como tal, naturalmente invisível; a pseudo-metafísica espírita quer, todavia, torná-lo de algum modo visível. O espírito, como invisível, não se pode ver; em certo sentido, tem-se, portanto, de crer no "espírito". Todavia, a metafísica espiritista - na medida em que ela torna o espírito em alguma coisa visível, portanto, o quer ver -, numa palavra, a crença no espírito do "que vê o espírito", torna-se, exatamente, por isso, também uma superstição". (Viktor E. Frankl).
Tal como Bruno Bettelheim, Viktor Frankl sofreu a experiência dos campos de concentração nazistas, da qual resultou a obra Um Psiquiatra Deportado Testemunha. Frankl formulou a análise existencial em psiquiatria - cuja prática terapêutica é a logoterapia - antes dessa experiência terrível, mais precisamente em 1934. A análise existencial opõe-se à psicanálise. Para Frankl, a vontade de sentido é mais dominante na economia mental do homem que o princípio de prazer de Freud e a vontade de poder de Adler: os doentes de Frankl não sofrem somente de frustrações sexuais ou de complexos de inferioridade, mas é, a maioria das vezes, confrontados com um vazio existencial que lhes provoca vertigens. A neurose - vista como um tipo de existência ou de ser-no-mundo - revela um ser frustrado do sentido da vida. Frankl defende que a necessidade fundamental do homem não é nem a satisfação sexual nem a valorização de si, mas a plenitude de sentido. Ao automatismo freudiano de um aparelho mental, opõe a autonomia espiritual do homem que, no seu íntimo, é um ser responsável. A existência humana tem, ao mesmo tempo, o caráter de um problema, tal como a vida, e o caráter de uma resposta: não é o homem quem deve pôr a questão do sentido da vida, porque o interrogado é o próprio homem. Lançado no jogo do mundo, o homem é desafiado a dar uma resposta às questões que a sua vida lhe coloca. A resposta dada pelo homem é sempre uma resposta em ato. A análise existencial de Frankl encara a neurose como um tipo de existência: o objetivo do seu método terapêutico é conduzir o homem à consciência da sua responsabilidade. Aquilo que na logoterapia se torna consciente não é o instinto, como sucede na psicanálise, mas o espiritual: o homem é um ser responsável, porque não é somente ser de pulsão, mas também e fundamentalmente ser espiritual. Toda a ação terapêutica está centrada não nas pulsões, mas no inconsciente espiritual: a tarefa do psiquiatra é libertar a pessoa espiritual do handicap psicofísico.
Sören Kierkegaard definiu o homem como "uma síntese de alma e corpo" e, ao mesmo tempo, como "uma síntese do temporal e do eterno". A noção de homem incondicionado de Frankl está muito próxima da noção de existência humana de Kierkegaard, o que lhe permite criticar a problemática da terapêutica psicocirúrgica na sua relação controversa com a psicoterapia. Para facilitar a compreensão desta controvérsia médica, penso poder afirmar que Frankl censura basicamente o materialismo subjacente à utilização da psicocirúrgica, até porque ele próprio recomendou algumas vezes esse procedimento cirúrgico para aliviar os seus doentes do sofrimento desnecessário e sem sentido:
"Deixar sofrer um homem desnecessariamente é um erro médico".
A cirurgia cerebral é indicada não para privar o homem do sofrimento da esfera do eu - sofrimento necessário e com sentido, o que equivaleria à auto alienação, mas para aliviá-lo do sofrimento sem sentido, pondo o eu em descanso. Egas Moniz (1874-1955) recebeu o Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina em 1949, prêmio partilhado com Walter Rudolf Hess (1881-1973), por ter desenvolvido a angiografia cerebral e a técnica de lobotomia frontal ou de leucotomia pré-frontal concebida como uma terapêutica para determinadas perturbações emocionais. Os mass media e muitos neurocientistas não perdoaram a Egas Moniz o fato de conceber a destruição de uma grande porção do encéfalo como uma forma de tratamento e, por isso, contam que este médico português acabou estranhamente paralisado por um tiro disparado na espinha por um dos seus pacientes lobotomizados. Portanto, foi feita justiça poética contra o médico português que, sem suporte teórico substancial, acreditava que podia corrigir o excesso de emoção através deste procedimento cirúrgico. De facto, nesse tempo sombrio, Klüver & Bucy mostraram que lesões no encéfalo podiam alterar o comportamento emocional e, na década de 30, John Fulton e Carlyle Jacobsen relataram que lesões do lobo frontal tinham efeitos calmantes nos chimpanzés.
Confiante no princípio segundo o qual se o sistema límbico controla a emoção, conforme estipulado pelo circuito de James Papez (hipocampo, hipotálamo e giro do cíngulo), então as pessoas com problemas emocionais - pacientes melancólicos, obsessivo-compulsivos e esquizofrênicos - podem ser clinicamente ajudadas, Egas Moniz não se inibiu e desenvolveu o procedimento cirúrgico da psicocirúrgica, aplicando-o aos seres humanos. Milhares de cirurgias foram realizadas em todo o mundo nos anos 40 e 50 do século XX, usando diversos procedimentos: os pacientes submetidos a estes procedimentos cirúrgicos, em especial os esquizofrênicos, tornaram-se meras sombras dos seus eus anteriores. Egas Moniz queria "golpear literalmente as associações delirantes" (Frankl) dos seus pacientes, como se o seu procedimento fosse uma intervenção cirúrgica na psique e como se o bisturi pudesse atingir a realidade da alma. A sua explicação redutora lembra o chamado delírio interpretativo racionalizante secundário. Segundo Frankl, a leucotomia não toca a pessoa espiritual - o seu eu inalterado, a sua existencialidade, mas apenas o organismo psicofísico - a sua facticidade: "O corpóreo é condição, mas não causa do psico-espiritual. A doença física limita as possibilidades de desenvolvimento da pessoa espiritual, e o tratamento somático restitui-lhas, dá-lhe, de novo, oportunidade para se desdobrar e isto ensina-nos a clínica. O que nós podemos explicar através da clínica é somente a diminuição das possibilidades do espiritual; mas podemos compreender a realidade do espiritual unicamente a partir de uma metaclínica" (Frankl). A lobotomia deixou de ser utilizada, exceto nos casos de perturbação obsessiva intratável, onde a operação moderna se limita a uma cingulotomia, em vez de uma lobotomia frontal completa.
A maioria dos neurocientistas tende a ser materialista na sua atividade experimental, embora o fisicalismo enquanto filosofia seja impensável: o materialismo radical auto-anula-se enquanto figura do pensamento. No entanto, no seio da própria ciência, surgiram críticas antimaterialistas que merecem atenção. Pioneiros geniais das neurociências tais como Charles Sherrington e W. Penfield abandonaram o materialismo, adotando a defesa da autonomia da alma, e John C. Eccles e Karl Popper defenderam sempre um dualismo interacionista. Alistar Hardy acusa as concepções monistas que predominam na comunidade científica de serem excessivamente perigosas para o futuro da civilização, porque estas ideias convertem a dimensão espiritual do homem simplesmente num produto superficial de um processo material. O dogma fisicalista é tão injustificável quanto os dogmas mais absurdos da Igreja Medieval. Diversos psiquiatras mostraram que a crença no reducionismo tem um efeito desastroso e nefasto sobre a saúde mental, especialmente sobre a prudência e o juízo do homem. Viktor Frankl acredita que uma das maiores ameaças à saúde mental é o vazio existencial. Com efeito, o número de pacientes (20%) afligidos pelo sentimento de vacuidade interior - o sentimento de total e absoluta falta de sentido da vida, especialmente em face da morte, que recorrem à ajuda clínica, aumenta assustadoramente em todo o mundo, sobretudo nos países ocidentais.
Frankl pensa que esta perturbação é o resultado direto e desastroso da negação do valor e de uma vida com valor - atitude característica da moderna sociedade cientificamente orientada, ou seja, da crença de que, como a ciência é, em grande medida, reducionista quanto à sua técnica, o reducionismo é a única filosofia em que devemos crer. Para Frankl, existe no homem uma tendência intrínseca para procurar significados que possa compreender e valores que possa atualizar. O reducionismo predominante mais não é do que um disfarce do niilismo que, na sua versão atual, deixou de anunciar o "nada" para afirmar simplesmente "nada mais do que": a psiquiatria, a psicoterapia e a psicanálise apresentam o homem como um ser reflexo ou um feixe de instintos, como ser condicionado, acionado e determinado, ora pelo complexo de Édipo, ora por sentimentos de inferioridade. Ora, afirmar que o homem nada mais é do que feixe de reflexos ou feixe de pulsões é apresentá-lo como "uma marionete - ou, como se diz hoje em dia, um zumbi - que esperneia por meio de fios, ora ridiculamente visíveis, ora escondidos" (Frankl).
O homem é algo mais do que aquilo que pode ser explicado completamente pelo biológico, psicológico e sociológico: o biologismo, o psicologismo e o sociologismo pecam contra o espiritual, construindo imagens do homem que ameaçam o próprio homem e que o impedem de alcançar um humanismo: "Enquanto virmos no homem somente isto ou aquilo condicionado, enquanto não virmos no homem também o incondicionado, não descobrimos o verdadeiro homem, o Homo Humanus, mas sim uma espécie de homúnculus. A partir do biologismo, psicologismo e sociologismo não há qualquer caminho para o humanismo, mas para um simples homunculismo!" (Frankl). Nesta perspectiva que aponta para um pensamento metaclínico, o verdadeiro niilismo não é o existencialismo, que afirma a irredutibilidade do ser humano, recusando tratá-lo como coisa entre coisas, mas o reducionismo que, nas escolas e nas universidades, socializa as pessoas, levando-as a crer na concepção reducionista do homem e na visão reducionista da vida – o clericalismo científico, segundo a expressão feliz de Teixeira de Pascoaes. O vazio existencial é, portanto, a frustração da força motivacional fundamental do homem: a vontade de sentido, completamente distinta da vontade de poder dos adlerianos e do desejo de prazer dos freudianos.
Hyman confirmou esta perspectiva existencial nos seus pacientes submetidos à cirurgia cerebral: a procura de sentido é uma força motivacional básica do animal symbolicum (Ernst Cassirer). Esta descoberta da necessidade de sentido no ser humano levou Frankl a tomar uma posição oposta à de Freud a respeito da religião. A teoria freudiana da religião é sobejamente conhecida: Deus mais não é do que uma imagem interiorizada do pai todo-poderoso e a religião, uma neurose obsessiva. Frankl rompe claramente com esta noção de Deus, defendendo a solidez da ideia de Deus na sua obra O Deus Inconsciente. Além disso, certas neuroses são produzidas pelo recalcamento da religiosidade. Frankl não proclama uma determinada religião universal: o que ele pensa é que o homem caminha para uma religião pessoal, na qual cada um descobrirá a sua própria linguagem. De certo modo, a religião pessoal decorre do próprio processo de secularização da sociedade e da consciência e do seu corolário - a privatização da religião. A afirmação de Marx segundo a qual:
"a religião dos trabalhadores não conhece Deus dado que procura restaurar a divindade do homem"
Que chocou Henri de Lubac e que foi completamente explicitada por Ernst Bloch, vai ao encontro da noção de que os homens diferentes têm valor diferente, mas dignidade igual: a dignidade incondicional de todos os seres humanos, incluindo os psicóticos, os doentes e os que sofrem. O homem é condicionalmente um ser (espiritual) incondicionado: "O homem é mais do que organismo psicofísico; ele é pessoa espiritual. Como tal, ele é livre e responsável - livre do psicofísico e livre para a realização de valores e a satisfação mental da sua existência (Dasein)" (Frankl). O homem luta não só pela existência, mas também e, sobretudo por um conteúdo da existência: a tarefa mais notável da ação psiquiátrica é ajudá-lo nesta luta por um sentido da existência e pelo auxílio recíproco na descoberta do sentido. A imagem do homem esboçada por Frankl não oferece soluções definitivas para os problemas metaclínicos - as perguntas eternas da humanidade pensante: o seu objetivo é estimular as pessoas e convidá-las para o pensamento metaclínico, convocando-as para a necessidade de uma decisão. Num sentido amplo, a concepção frankliana da religião e do seu papel essencial na vida e na promoção da saúde das pessoas foi recentemente suportada empiricamente pela pesquisa no domínio da neurociência espiritual (D'Aquili & Newberg, 2000, Lee & Newberg, 2005, Newberg & Lee, 2005): a religião não só desempenha um papel crucial na vida de milhares de pessoas, como também exerce um efeito positivo sobre a sua saúde.

Referência:

https://www.algosobre.com.br/psicologia/viktor-frankl-analise-existencial-e-logoterapia.htm

terça-feira, 18 de abril de 2017

Logoterapia: A psicoterapia existencial humanista de Viktor Emil Frankl. Parte 9. (Por Estudando Psi - YouTube)


Logoterapia: A psicoterapia existencial humanista de Viktor Emil Frankl. Parte 8. (Por Estudando Psi - YouTube)

Logoterapia: A psicoterapia existencial humanista de Viktor Emil Frankl. Parte 7. (Por Estudando Psi - YouTube)

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