sábado, 16 de setembro de 2017

Segunda parte: Céu e inferno. Há inferno do mesmo modo como há céu [...], "o fariseu e o pecador" arrependido.

As portas da percepção: Céu e inferno; Céu e inferno; o fariseu e o pecador arrependido
Só me dediquei, até este momento, à experiência visionária bem-aventurada, a sua interpretação em termos de teologia e a sua tradução em arte. Mas nem sempre essa experiência é celestial. Por vezes ela é terrível. Há inferno do mesmo modo como há céu. (págs. 123 – 124).
Assim como este, o inferno visionário possui sua luz e seu valor preternaturais. Mas seu significado é intrinsicamente aterrador, e a luz é a “luz fumegante” do Livro tibetano dos mortos, a “escuridão visível” de Milton. No Journal d’une schizophrène [Diário de uma esquizofrênica], registro autobiográfico da passagem de uma jovem pela loucura, o mundo do esquizofrênico é chamado le d’éclairement – “o país da iluminação”. Esse é um nome que um místico bem poderia ter escolhido para designar seu paraíso.
Mas para a pobre Renée – a vítima da esquizofrenia – a iluminação é infernal: um intenso clarão elétrico sem uma sombra, ubíquo e implacável. Tudo o que, para o visionário são, é uma fonte de alegria, traz a Renée tão-somente pavor a um tétrico sentimento e irrealidade. O sol estival é maligno; o brilho das superfícies polidas nas sugere gemas, e sim maquinaria e chapas esmaltadas; a intensidade de existência que anima cada objeto, quando examinado de perto e abstraído seu aspecto utilitário, é sentida como uma ameaça.
E há, ainda, o horror infinito. Para o visionário são a percepção do infinito em um finito particular é uma revelação de sublime imanência; para Renée, isso era uma comprovação do que ela chama o sistema – vasto mecanismo cósmico, que existe unicamente para produzir crime e castigo, solidão e irrealidade. (págs. 123 – 124).
A sanidade mental é uma questão de gradação, e há um grande número de visionários que vê o mundo tal como Renée o viu, mas consegue, a despeito disso, viver fora dos manicômios. (pág. 124 – 125). Tal como os visionários positivos, eles também vêem o Universo transfigurado – mas para pior. Tudo nele, das estrelas, no céu, à poeira sob seus pés, é indizivelmente sinistro e repugnante; cada acontecimento vem carregado de ódio, cada objeto acusa a presença de um Horror infinito, todo-poderoso, eterno.
Esse mundo negativamente transfigurado consegue insinuar-se, de tempos em tempos, na literatura e nas artes. Ele desvirtua e ameaça por meio das últimas paisagens de Van Gogh; foi o quadro e o tema de todos os contos de Kafka; foi o lar espiritual de Géricault, foi habitado por Goya durante os anos de sua surdez e solidão; foi entrevisto por Browning ao escrever Childe Roland; teve seu lugar, diante das teofanias, nas novelas de Charles Williams.
A experiência visionária negativa é, frequentemente, seguida de sensações corpóreas de natureza bastante especial e característica. As visões felizes são, via de regra, associadas a uma sensação do corpo, a um sentimento de despersonalização. (É, sem dúvida, esse sentimento que possibilita aos índios que praticam o culto do peiote usar a droga, não apenas como um atalho para atingir o mundo das visões, mas também como instrumento para criar uma solidariedade afetiva dentro do grupo de participantes.) Mas, quando as experiências visionárias são terríveis e o mundo se transfigura para pior, a individualização é intensificada e o visionário negativo sente-se preso a um corpo que parece tornar-se cada vez mais denso, mais comprimido, até que acaba por sentir-se reduzido à condição de torturada consciência de um aglutinado de matéria compacta, não maior que uma pedra que pudesse ser contida entre as mãos. (pág. 125).
Vale a pena observar que muitos dos sofrimentos narrados nas várias descrições do inferno são castigos de pressão e constrição. Os pecadores de Dante eram enterrados na lama, encerrados em troncos de árvores, aprisionados em blocos de gelo, esmagados entre rochas. Seu inferno é psicologicamente verdadeiro. Muitas de suas punições são experimentadas pelos esquizofrênicos e por aqueles que tomam mescalina ou ácido lisérgico, sob condições desfavoráveis.
Qual a natureza dessas condições desfavoráveis? Como e por que é o Céu transformado em Inferno?
Em certos casos, a experiência visionária negativa é o resultado de causas primordialmente fisiológicas. A mescalina tende, após sua ingestão, a se acumular no fígado. Se esse órgão estiver doente, isso pode levar a mente a sentir-se no Inferno. Mas, o que é mais importante, do ponto de vista de nosso presente estudo, é o fato de que a experiência visionária negativa pode ser produzida por meio puramente psicológicos. O temor e a angústia barram o caminho para o Outro Mundo celestial e mergulham no inferno quem ingerir a droga.
E o que é verdade para quem toma mescalina também é válido para os que têm visões espontâneas ou sob a influência do hipnotismo. Foi com base nesse fundamento psicológico que ergueu-se a doutrina teológica da preservação da fé – doutrina essa com que nos defrontamos em todas as grandes religiões do mundo. Os escatologistas sempre tiveram dificuldade em conciliar seu racionalismo e sua moral com as realidades brutais da experiência psicológica. (pág. 126). Como racionalistas e moralistas, sentem que o bom comportamento deve ser recompensado e que o virtuoso merece subir ao Céu. Mas, como psicologistas, sabem também que a virtude não é a condição única, nem é suficiente, para uma experiência visionária feliz. Sabem que as simples boas ações são importantes, e que é a fé, ou a confiança no amor, que assegura a bem-aventurança dessa experiência.
As emoções negativas – o medo, que é a ausência de confiança; o ódio, a ira ou a maldade, que eliminam o amor – trazem consigo a certeza de que a experiência visionária, se e quando produzir, será aterradora.
O fariseu é um homem virtuoso; mas a sua virtude é de uma espécie compatível com as emoções negativas. Suas experiências visionárias têm, pois, maiores possibilidades de serem infernais que bem-aventuradas.
A natureza da mente é tal que o pecador que se arrepende, e pratica um ato de fé em um poder mais alto, tem maior probabilidade de encontrara bem-aventurança na experiência visionária do que o sustentáculo da sociedade, de consciência tranquila, mas que abriga na mente justas indignações, indignações, inquietações, a respeito de bens e ambições materiais, hábitos arraigados de reclamar, desprezar e condenar. Daí a enorme importância conferida, em todas as grandes religiões, ao estado de espírito no momento da morte.
Experiência visionária não é a mesma coisa que experiência mística. Esta se situa além do reino do dualismo, enquanto aquela ainda permanece dentro de sua esfera de ação. O Céu está vinculado ao inferno, e “subir ao Céu” não representa liberação maior do que a descida ao horror. O Céu representa apenas uma posição vantajosa, da qual o sublime Princípio poderá ser apreciado com maior clareza que ao nível da existência individual de todo o dia. (pág. 127).

Segunda parte: Céu e inferno. Os Paraísos, inclusive a Nova Jerusalém, são adornados de pedrarias que refulgem [...]. (pág. 99 – 102).

As portas da percepção: Céu e inferno; Nova Jerusalém
A maior parte dos paraísos é adornada de edifícios, e estes, tal qual as árvores, as águas, os montes e as campinas, refulgem de pedrarias. Todos conhecemos a Nova Jerusalém: “E sua muralha fora erigida em jaspe, e a cidade de ouro puro e vidro cristalino. E os alicerces da muralha da cidade eram inteiramente ornados de pedras preciosas”.
Descrições semelhantes podem ser encontradas na literatura doutrinária do bramanismo, do budismo e do islamismo. O céu é sempre uma região de pedras preciosas. Qual a razão para isso? Os que raciocinam baseados em todas as atividades humanas, dentro de um quadro de referência social e econômica, hão de encontrar respostas deste gênero: as gemas são raríssimas na Terra. Poucos as possuem. A fim de encontrar uma compensação para isso, os doutrinadores dessa maioria assolada pela pobreza recobriram seus paraísos imaginários de pedras preciosas. Essa hipótese do “tesouro no Céu” contém, sem dúvida, alguma verdade; mas não consegue explicar por que as pedras preciosas chegaram a ser consideradas como tal em nosso mundo.
O homem tem consumido tempo, energias e dinheiro, em enorme escala, para encontrar, explorar e lapidar essas pedras brilhantes. Por quê? O utilitário não consegue oferecer explicação para um tão fantástico comportamento. Mas, tão logo se levam em conta os fatos da experiência visionária, tudo se aclara. Nas visões, o homem encontra uma profusão de “pedras de fogo” e Weir Mitchell descreve como “frutos transparentes”. Essas coisas têm luz própria, exibem um colorido preternatural e possuem um valor também extraterreno. Os objetos materiais que mais se assemelham a essas fontes de iluminação das visões são as pedras preciosas. Adquirir uma dessas pedras é possuir algo cuja preciosidade está assegurada pelo fato de elas existirem no Outro Mundo.
Daí essa paixão, de outro modo inexplicável, que o homem possui pelas gemas; e essa atribuição que ele faz de virtudes terapêuticas e mágicas a tais pedras. A cadeia causal – disso começa no Outro Mundo psicológico da experiência visionária, desce à terra e remonta novamente ao Céu do Outro Mundo teológico. Sob esse aspecto, as palavras de Sócrates, no Fédon, assumem um valor novo. Existe, diz-nos ele, um mundo ideal, acima e além do mundo material. “Nessa outra terra as cores são muito mais puras e esplendorosas do que cá embaixo [...] As próprias montanhas, as pedras mesmas, possuem maior brilho e matizes mais belos, por sua nitidez e intensidade. As pedras preciosas deste mundo inferior – nossas apreciadíssimas cornalinas, nossos jaspes, esmeraldas, e todas as demais, não passam de minúsculos fragmentos dessas pedras das alturas. Na outra terra, não há pedra que não seja preciosa nem exceda em beleza quaisquer de nossas gemas”. (págs. 100 – 101).
Em outras palavras: as pedras preciosas o são porque guardam uma débil semelhança com as luminosas maravilhas entrevistas pela percepção interior do visionário. “O panorama desse mundo”, diz Platão, “é uma visão para espectadores bem-aventurados”; pois ver as coisas “tais como elas são em si mesmas” é uma benção suprema e inexprimível.
Entre os povos que desconhecem o vidro ou as pedras preciosas, o céu é adornado, não com minerais, mas com flores. Na maioria dos Outros Mundos, descritos pelos escatologistas primitivos, crescem flores de um esplendor preternatural; e mesmo nos paraísos das religiões mais avançadas, refulgentes de pedrarias e de vidro, elas conservam seu lugar. Basta que nos lembremos do lótus das tradições brâmane e budista, das rosas e lírios do Ocidente.
“Deus primeiro plantou um jardim.” Essa afirmação encerra uma profunda verdade psicológica. A floricultura tem sua origem – ou, seja como for, uma de suas origens – no Outro Mundo dos antípodas da mente. Quando os fiéis oferecem flores diante do altar, estão devolvendo aos deuses coisas que eles sabem ou (caso não sejam visionários) sentem, vagamente, serem originárias do Céu.
E essa devolução a sua origem não é mero simbolismo; é também uma questão de experiência imediata, pois o tráfego entre nosso Velho Mundo e seus antípodas, entre o Aqui e o Além, faz-se ao longo de uma estrada de dupla circulação. As gemas, por exemplo, vêm do céu visionário da alma, mas também podem transportar a alma de volta a esse céu. Contemplando-as, os homens se sentem literalmente transportados, levados para essa Outra Terra do diálogo platônico, ao recanto encantado onde cada seixo é uma pedra preciosa. E efeitos semelhantes podem ser produzidos por artefatos de vidro ou metal, candeeiros luzindo na escuridão, imagens e adornos de cores brilhantes, flores, conchas e penas ou panoramas vistos à luz transfiguradora da aurora ou do crepúsculo, como Shelley viu Veneza, do alto dos montes Eugâneos. (págs. 101 – 102).
Na verdade, podemos nos arriscar a uma generalização e dizer que tudo que, na natureza ou numa obra de arte, lembra esses objetos imensamente valiosos, dotados de luz interior, encontrados nos antípodas da mente, é capaz de induzir, ainda que de forma apenas parcial e atenuada, a experiência visionária. Quanto a isto, um hipnotizador nos dirá que, se um paciente puder ser induzido a fitar fixa e atentamente um objeto brilhante, poderá entrar em transe. E que, quer ele entre em transe ou apenas mergulhe em sono hipnótico, estará perfeitamente apto a ter visões interiores e, no primeiro caso, a ver o mundo exterior transfigurado.
Mas, finalmente, como e por que a vista de um objeto brilhante haverá de induzir um transe ou um estado de devaneio? Será isso, como afirmavam os vitorianos, simples questão de fadiga ocular de que venha a resultar uma exaustão nervosa generalizada? Ou será mais razoável explicar o fenômeno em termos puramente psicológicos, dizendo que a concentração, conduzindo ao monoideísmo, acaba por produzir a dissociação?
Há, porém, ainda uma terceira hipótese: os objetos brilhantes podem recordar a nosso inconsciente as visões que ele desfruta nos antípodas da mente, e essas obscuras insinuações da vida no Outro Mundo são tão fascinantes que passamos a dar menos atenção a este mundo e, assim, nos tornamos capazes de experimentar, conscientemente, algo que, no inconsciente, jamais nos abandona.


sábado, 9 de setembro de 2017

A RELAÇÃO DA REJEIÇÃO PATERNA NA CONDUTA SEXUAL DE RISCO DAS MULHERES

Artigos, Rejeição Paterna, Psicologia, Transtorno da Personalidade Borderline, Relação Paterna
A partir do conhecimento de mulheres que foram rejeitadas por seus pais quando crianças, ou na pré-adolescência, e que na vida adulta tiveram uma vida desregrada, (inconstante nos relacionamentos de cunho sexual); é que este comportamento disfuncional, muito possivelmente, tenha relação nas rejeições imputadas dos pais. A rejeição paterna é identificada como um dos fatores para o desencadeamento do comportamento sexual disfuncional nas mulheres. O resultado disso é inúmeros relacionamentos que sempre fracassam, mas que tem como pano de fundo, compensar a frustração e a dor de terem sido desprezadas pelos pais.
Há um transtorno que é denominado de Transtorno da Personalidade Borderline, que faz com que mulheres apresentem um comportamento sexual de risco, (sem entrar na condição da perversão sexual ou da ninfomania). Vejamos algumas considerações referenciais, conforme o DSM-V, sobre esta psicopatologia: “Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline fazem esforços frenéticos para evitarem um abandono real ou imaginado (Critério 1). A percepção da separação ou rejeição iminente ou a perda da estrutura externa podem ocasionar profundas alterações na autoimagem, afeto, cognição e comportamento”. [...].
Outro ponto a ser considerado, é que a predominância é muito maior em mulheres, do que em homens. “O Transtorno da Personalidade Borderline é diagnosticado predominantemente em mulheres (cerca de 75%)”. [...]. “Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline tem um padrão de relacionamentos instáveis e intensos (Critério 2). Ele(a)s podem idealizar potenciais cuidadores ou amantes já no primeiro ou no segundo encontro, exigir que passem muito tempo juntos e compartilhar detalhes extremamente íntimos na fase inicial de um relacionamento. Pode haver, entretanto, uma rápida passagem da idealização para a desvalorização, por achar que a outra pessoa não se importa o suficiente, não dá o bastante, não está "ali" o suficiente”. (DSM-V).
A palavra "rejeição", surge dentro do contexto de diagnóstico, que nos traz o DSM-V, como critério 1, para o diagnóstico do transtorno já mencionado. Mas, gostaria de fazer um parênteses; não li ainda nenhum artigo científico, ou com referência bibliográfica, que coloca especificamente a “rejeição paterna”, como fator predominante para a manifestação do Transtorno da Personalidade Borderline (Obs. é óbvio que fica subentendido, que o DSM-V, utiliza o termo: rejeição de maneira generalizada, o que pressupõe a rejeição paterna) como um dos principais fatores para desencadear o Transtorno da Personalidade Borderline.
Através de tudo o que já vimos, fica o questionamento, "A rejeição paterna é um fator predominante, para o acometimento desse transtorno comportamental a estas mulheres?" A resposta é que 'sim', pois o pai exerce papel fundamental no desenvolvimento psicossexual dos filhos e filhas, neste caso agora específico as mulheres.
A constatação que diz o DSM-V, que já foi exposto é que elas idealizam na figura do parceiro sexual, a figura do pai ausente, não encontrando neste (desvalorização), vai em busca de outro; é como uma forma de diminuir a dor do trauma deixado pelo progenitor, o que jamais isso ocorrerá; isso é apenas uma forma de recalque para não se posicionar firmemente para a resolução do trauma.
Concluo o texto com algumas citações do artigo intitulado: A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil, da autora: Edyleine Belline Peroni Benczik. Vamos analisar algumas delas:

1) As teorias psicológicas e as pesquisas científicas afirmam e fundamentam o papel da figura paterna no desenvolvimento e no psiquismo infantil. É pressuposto da teoria psicanalítica o papel estruturante do pai, a partir da instauração do complexo de Édipo. Na trama familiar, o sujeito se constrói e sai do estado de natureza para ingressar na cultura. Freud, em seu trabalho Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância, afirma: “na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada”.
2) Para Aberatury (1991), o lugar do pai, entre seis e doze meses, não é tão destacado na literatura, como acontece com a figura materna, no entanto, o contato corporal entre o bebê e o pai, no cotidiano, é referência na organização psíquica da criança, devido à sua função estruturante para o desenvolvimento do ego.
3) A partir de um estudo de caso clínico e de uma rigorosa revisão da literatura, relacionada à importância da figura paterna na vida dos filhos, Eizirik e Bergamann afirmam que a ausência paterna tem potencial para gerar conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo da criança, bem como influenciar o desenvolvimento de distúrbios de comportamento.
4) Segundo Muza, crianças que não convivem com o pai acabam tendo problemas de identificação sexual, dificuldades de reconhecer limites e de aprender regras de convivência social. Isso mostraria a dificuldade de internalização de um pai simbólico, capaz de representar a instância moral do indivíduo.
5) A privação do pai pode ter consequências graves, a longo prazo, com problemas na modulação e na intensidade do afeto. 6) O vazio promovido pela ausência do pai, segundo Ferrari, é formado pela noção das crianças de não serem amadas pelo genitor que está ausente, com uma grande desvalorização de si mesmas, em consequência disso. Além dessa autodesvalorização, ocorrem os sentimentos de culpa por a criança se achar má, por acreditar haver provocado à separação e até por ter nascido.

Como destacado nas citações, a importância do pai para o desenvolvimento dos filhos, é essencial para que haja o pleno desenvolvimento saudável do recém nascido(a).  Para que, quando adulto, não apresente dificuldades de interação social, comportamento disfuncional de afeto e problemas de ordem psíquica. Apesar de especificar o trato da importância relacional, entre pai-filho no artigo utilizado para contextualizar o texto, não podemos ignorar que a referência teórica, pode ser utilizada às mulheres, principalmente no que conferem os itens descritos acima: 3, 4 e 5. Como vimos e ratificado, os pais de meninas, têm um papel importante para as mulheres, principalmente no que diz respeito ao comportamento sem alterações anormais (fazemos uma alusão ao Transtorno da Personalidade Borderline); a importância de adquirir interesse moral; e a estruturação afetiva normal.


Referência:

BENCZIK., Edyleine Bellini Peroni. A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. Psicopedagogia: Trabalho realizado no Psiquê - Núcleo de Psicologia, São Paulo, p.67-75, 18 jan. 2011.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Segunda e última parte: CÉU E INFERNO

Psicologia, Céu e inferno, Aldous Huxley, livro
Na segunda parte do livro: Céu e inferno, veremos o autor se utilizar de algumas figuras de linguagem, para ilustrar o quanto a nossa mente, possui regiões ainda a serem “desbravadas”, semelhante segundo o texto: “qual a terra de há um século, nossa mente ainda possui suas misteriosas Áfricas e Amazônias, seus ignotos bornéus”. (pág. 85). [...]. “A mente humana é composta do que poderemos chamar de um Velho Mundo de seu consciente e, para além de um mar divisório, de uma série de Novos Mundos – as não muito longínquas Virgínias e Carolinas de seu subconsciente coletivo, com sua flora de símbolos e suas tribos de hábitos nativos; e além, muito além, do outro lado de vasto oceano, finalmente os antípodas da consciência cotidiana – o mundo da Experiência visionária”. (pág. 86).
Um pouco mais a frente na página posterior, ele indaga a respeito de como se chegar ou transportar-se “do Velho para o Novo Mundo, do continente das vacas e dos cavalos familiares para o do canguru e do ornitorrinco”. (pág. 87). “Existem dois métodos para isso. Nenhum dos dois é perfeito, mas ambos são suficientemente eficientes, fáceis e seguros para justificar sua adoção por aqueles que sabem o que estão fazendo. No primeiro caso, a alma é transportada para seu longínquo destino por meio de uma droga – a mescalina ou o ácido lisérgico. No segundo, o veículo é de natureza psicológica, e a passagem para os antípodas da mente se faz pelo hipnotismo. Ambos os métodos transportam a percepção para a mesma região, mas a droga possui maior alcance e leva seus passageiros até mais longe, no interior da terra incógnita”. (pág. 87).
“Como e por que produz a hipnose tais efeitos? Não o sabemos, mas isso tampouco nos interessa, no caso presente. [...]. Quanto aos efeitos fisiológicos da mescalina, já possuímos algumas noções. Ela, possivelmente (pois ainda não temos certeza), interfere com os sistemas enzimáticos que regulam o funcionamento do cérebro. Tal atuação diminui a eficiência deste instrumento destinado a dirigir a mente para os problemas da vida na superfície de nosso planeta. Essa redução do que podemos chamar de eficiência biológica do cérebro parece permitir o acesso de certas classes de acontecimentos mentais ao consciente, acontecimentos esses que são normalmente eliminados por não possuírem valor, do ponto de vista da sobrevivência. [...]. Uma pessoa sob a influência da mescalina ou do ácido lisérgico deixará de ter visões se receber uma grande dose de ácido nicotínico. Isso explica a eficiência do jejum como produtor de visões. Reduzindo a taxa de açúcar disponível, o jejum reduz a eficiência biológica do cérebro e torna assim possível o acesso ao consciente de material desprovido de valor, do ponto de vista da sobrevivência. Além do mais, causando uma deficiência de vitaminas, remove do sangue aquele conhecido eliminador de visões – o ácido nicotínico. Outro inibidor das visões é a experiência rotineira, diária, perceptiva. Os psicologistas experimentais chegaram à conclusão de que, se confinarmos um homem a um “ambiente restrito”, onde não haja luz, ruído ou odores, e se mergulharmos em banho tépido, onde haja apenas um objeto quase imperceptível que ele possa tocar, o paciente em breve começará a “ver coisas”, “ouvir coisas” e a ter estranhas sensações no corpo”. (págs. 87 – 88).
Resumidamente, o autor conclui que os visionários, desejam chegar ao que ele denominou de antípodas da mente, não é só por objetivo de torturar o corpo para expiar pecados, mas [...]“Milarepa, em sua caverna no Himalaia, e os anacoretas da Tebaida seguiram, em essência, o mesmo método e atingiram, de modo geral, os mesmos resultados. Um milhar de quadros das Tentações de Santo Antônio dão testemunho da eficiência da dieta limitada e do ambiente restrito. É evidente que o ascetismo possui uma dupla motivação. Não é só por pretender expiar culpas passadas e evitar punições futuras que homens e mulheres torturam seus corpos; é também porque anseiam por visitar os antípodas da mante e fazer um pouco de vigelegiatura visionária. Sabem, empiricamente, e louvando-se em informações de outros ascetas, que o jejum e o ambiente confinado transportá-lo-ão aonde quer que desejem ir. Sua autopunição poderá ser a porta do paraíso. (Mas ela também pode se transformar – e este é um ponto que será examinado posteriormente – na porta para as regiões infernais)”. (pág. 89).
As experiências possuem uma regularidade, mas que são estranhas, mas com um ponto singular, que há neles é a experiência da luz. Tudo é muito iluminado “e parece possuir um fulgor que emana de si mesmo”. (pág. 89). A respeito dos sonhos para nós seres humanos, apresentarem ser preto e branco ele nos diz, “[...] o professor Calvin Hall, que tem coligido informações sobre muitos milhares de sonhos, diz-nos que cerca de dois terços de todos eles são em preto-e-branco”. A conclusão é, escreve o dr. Hall, “de que a presença da cor nos sonhos não nos proporciona qualquer informação sobre a personalidade do individuo.”[...] a explicação concernente é “o que é real é colorido; o que é fruto de nossa imaginação, associado ao poder criador de nosso intelecto, é desprovido de cores”. (págs. 90 – 91).
Todos os relatos descritos por experiências com visões, preservados em todas as culturas tradicionais, sobre os diversos mundos – “os mundos habitados pelos deuses, pelos espíritos dos mortos, pelo homem em seu primitivo estado de inocência”. (pág. 97). Há em todas as descrições “induzidas ou espontâneas” e “países de fadas da religião e do folclore” a semelhança conforme o relato do livro, de uma luz sobrenatural, de intensa cor, tais são as características de todos os outros mundos e idades áureas. Outro ponto a ser destacado, é que o brilho sobrenatural está ligado há uma beleza ingente, que não se pode descrevê-lo de tão inefável beleza. Alguns dos lugares, que as citarei suscintamente, para não me alongar nas narrativas são: 1) na tradição greco-romana o belíssimo jardim das Hesrépides, os campos Elísios e a radiosa ilha de Leuke, para a qual Aquiles foi transportado. 2) Menon foi para outra ilha iluminada, lá para o Levante. 3) Ulisses e Penélope viajaram na direção oposta com Circe, na Itália. 4) Ainda mais para o Oriente ficavam as ilhas da Bem-Aventurança, citadas em primeiro lugar por Hesíodo, e de cuja existência havia tanta certeza, ainda no sé. I a.C., que Sertório planejou enviar, da Espanha, uma frota para descobri-las. 5) Existem menções no folclore dos celtas e, do outro lado do mundo, no dos japoneses, ilhas encantadas maravilhosas. 6) Avalon , no extremo ocidental e, Horosain, no extremo oriental, se situa a terra de Uttarakuru – o outro mundo dos hindus. 7) Há uma citação no livro de Ezequiel na Bíblia, sobre o Jardim do Éden. 8) Outra descrição, é aferida no folclore dos celta e teutões; onde se fala muito pouco de pedras preciosas, mas que possuem outra substância que, para eles, era igualmente maravilhosa – o vidro. 9) Os gauleses possuíam uma terra bem-aventurada a que a descreveram de Ynisvitrin – a ilha do vidro; e um dos nomes do reino dos mortos dos germânicos era Glasberg – terra do vidro. Também o Apocalipse se refere ao Mar de Vidro.
Por este motivo que em todos os relatos antigos para os visionários, havia pedras preciosas, ouro, luz intensa e prédios, edifícios de uma cor sobrenatural, e é claro, as paisagens existentes com muitas árvores de um verdor arrebatador, frutos de um intenso brilho e cor, e dos rios azuis lindíssimos que banham estes paraísos. Estes atributos encontrados nestas visões elevavam a mente, para um êxtase ou arrebatamento da alma. A descrição a seguir, mostrará que os homens se influenciaram com estes relatos, condicionando na arquitetura de templos, igrejas, entre outros edifícios, vidraças coloridos, peças de ouro, prata de um polimento que enleva os circunspectos que os frequentam. Deixarei para citar, em outro momento particular, o que o livro, nos esclarece sobre a iniciativa de se utilizarem, pedras, peças polidas, vidros etc., nos diferentes edifícios, inclusive, nas visões em que há discrições do mesmo. Mas agora, farei uma explanação citatória, referente às paisagens na concepção do autor e de William Blake, “Blake, por exemplo, viu paisagens visionárias “de uma perfeição que vai além de tudo o que a Natureza mortal e transitória possa produzir” e “infinitamente mais perfeitas e ordenadas que quaisquer coisas jamais vistas por olhos humanos”. Eis uma descrição desse panorama visionário, feita por Blake em uma das reuniões em casa da sra. Aders: “Outro dia, à tardinha, andando a pé, cheguei a um prado e vi, em seu canto mais afastado, um curral de ovelhas. Num plano mais próximo, o solo estava coberto de flores; e tanto o curral repleto de juncos como seus lanudos inquilinos possuíam uma estranha beleza pastoral. Mas, quando voltei a olhar, já não havia mais rebanho vivo, e sim belas esculturas”. Representada com o auxilio das tintas, essa visão poderia, creio eu, lembrar a beleza inexcedível de um dos mais vigorosos esboços a óleo de Constable, que representa um animal no mágico estilo realista do carneiro aureolado de Zurbarán, hoje exposto no Museu de San Diego. Mas Blake jamais produziu qualquer coisa que, mesmo de longe, lembrasse um tal quadro. Ele se contentava em falar e escrever sobre os panoramas que divisava em suas visões e em se concentrar em seus desenhos do Querubim”. (págs. 115 – 116).
Mais a frente fará algumas elucubrações sobre alguns artistas que pintavam paisagens ou que enfim, que estas pinturas causavam enlevo, dos quais cita, Rousseau o Aduaneiro, de paisagens Sung, de longínquas montanhas, nuvens e torrentes [...]. Cita ainda, Claude Monet, sobre a obra os Nenúfares, quando conversava com Roger Fry – dizendo – “de serem tão horrivelmente desordenados, tão desprovidos de um plano de composição adequado. Estavam totalmente errados, do ponto de vista artístico. E, no entanto, ele se via forçado a admitir, e no entanto... E no entanto, devo acrescentar agora, eles eram arrebatadores”. (pág. 120).
O autor para finalizar o livro, faz um antagonismo diante dos fenômenos visionários. Se existem por um lado à visão do paraíso, por outro lado, ocorrerá para alguns a experiência angustiante do inferno. “Só me dediquei, até este momento, à experiência visionária bem-aventurada, a sua interpretação em termos de teologia e a sua tradução em arte. Mas nem sempre essa experiência é celestial. Por vezes ela é terrível. Há inferno do mesmo modo com há céu. [...]. A partir de então ele o autor fará um comentário sobre uma paciente de esquizofrenia, “mas a pobre Renée – a vitima da esquizofrenia – a iluminação é infernal: um intenso clarão elétrico sem uma sombra, ubíquo e implacável. Tudo o que, para o visionário são, é uma fonte de alegria, traz a Renée tão-somente pavor e um tétrico sentimento de irrealidade. O sol estival é maligno; o brilho das superfícies polidas não sugere gemas, e sim maquinaria e chapas esmaltadas; a intensidade de existência que anima cada objeto, quando examinado de perto e abstraído seu aspecto utilitário, é sentida como uma ameaça. E há, ainda, o horror infinito. Para o visionário são, a percepção do infinito em um finito particular é uma revelação de sublime imanência; para Renée, isso era uma comprovação do que ela chama o sistema – vasto mecanismo cósmico, que existe unicamente para produzir crime e castigo, solidão e irrealidade”. (pág. 124).
[...] A experiência visionária negativa é, frequentemente, seguida de sensações corpóreas de natureza bastante especial e característica. As visões felizes são, via de regra, associadas a uma sensação de separação do corpo, a um sentimento de despersonalização. (É, sem dúvida, esse sentimento que possibilita aos índios que praticam o culto do peiote usar a droga, não apenas como um atalho para atingir o mundo das visões, mas também como instrumento para criar uma solidariedade afetiva dentro do grupo de participantes.) Mas, quando as experiências visionárias são terríveis e o mundo se transfigura para pior, a individualização é intensificada e o visionário negativo sente-se preso a um corpo que parece tornar-se cada vez mais denso, mais comprimido, até que acaba por sentir-se reduzido à condição de torturada consciência de um aglutinado de matéria compacta, não maior que uma pedra que pudesse ser contida entre as mãos. Um pouco mais à frente nas próximas páginas, Huxley irá explanar sobre o tema inferno, com suas peculiaridades, que são o castigo e a opressão. Citará os pecadores de Dante que eram enterrados na lama, encerrados em troncos de árvores, aprisionados em blocos de gelo. (pág. 126). Ele comentará, que o inferno que sofreram, era psicologicamente verdadeiro; e dirá que muitas das punições que sofreram são experimentadas pelos esquizofrênicos. Não me alongarei sobre o assunto, pois oportunamente o quero citá-lo integralmente para um post posterior, com o tema: “o pecador arrependido e o fariseu”, mas, para encerrar o assunto desta última parte, ele faz uma análise do virtuoso, que é o racionalista e moralista, o associando ao fariseu. Justificando que, “o fariseu é um homem virtuoso; mas sua virtude é de uma espécie compatível com as emoções negativas. Suas experiências visionárias têm, pois, maiores possibilidades de serem infernais que bem-aventuradas”. (pág. 127).

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