sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O continente de Tiro não teria sido Atlântida, mencionado pelo Profeta Ezequiel?

Quem nunca ouviu falar sobre o continente de Atlântida, seja através de documentários, séries ou livros? Diante de elucubrações que se contrapõem, em afirmativas e refutações, estudiosos de várias áreas e da arqueologia, não chegam a um consenso se de fato a sua história é real ou fictícia.
O conceito histórico de Atlântida, foi sendo criado através de premissas arqueológicas, com a descoberta de artefatos de ouro e prata, que os cientistas supõem serem oriundos da época de Atlântida. Ademais de relatos Bíblicos do Profeta Ezequiel, que descreveu sobre um continente de nome Tiro, (não seria Atlântida?) e dos diálogos do filósofo grego, Platão, caracterizando e afirmando sobre a existência de Atlântida. Já o seu conceito "lendário", está muito relacionado aos mistérios que envolvem o seu desaparecimento, seu grande avanço tecnológico, (que era impensável para o seu tempo).
O Profeta Ezequiel descreve a destruição do continente de Tiro, que por semelhança de Atlântida foi derrocado nos mares. Podemos, então, fazer conjecturas e correlação com os relatos de Platão ao supormos que seja possivelmente Atlântida. Contudo, ainda existem muitas dúvidas e questionamentos por parte de muitos pesquisadores. É que apesar de todo o aparato científico da modernidade, não foi possível encontrar nenhum vestígio estrutural das ruínas, como prova cabal de sua existência. 
Nos capítulos 26, 27 e 28 de Ezequiel, há os motivos de sua queda, suas riquezas e sobre o seu comércio marítimo. Além do livro de Ezequiel, há o livro de José Alvarez López, com o título: A reconstrução de Atlântida, que utilizarei para embasar o texto. Somente há uma incongruência no livro de José Alvarez Lopez, dizendo que Társis seria Atlântida. Já o Livro de Ezequiel, afirma que Társis era uma Colônia fenícia da Espanha (Gn 10, 4; Is 23, 1; 50, 9) que fazia comércio de metais com Tiro, conforme nota de rodapé. E que segundo o Livro de Ezequiel, Tiro estava localizada nos mares e, esta que foi destruída e não Társis.
Vejamos, alguns versículos Bíblicos do Livro de Ezequiel, sobre o continente de Tiro:
“No décimo primeiro ano, no primeiro dia do mês, a palavra do Senhor me foi dirigida nestes termos: “Filho de homem, Tiro disse a respeito de Jerusalém: “Ah! Ah! Está quebrada a porta dos povos! Ela se voltou para mim! A cidade opulenta ficou arruinada! Ez 26, 1-2.
“Sobre ti entoarão um canto fúnebre e te dirão: ‘Como te arruinaste, varrida dos mares, cidade famosíssima! Ela era uma potência marítima com seus habitantes, espalhava terror em toda a parte. Agora tremem as ilhas no dia de tua queda, as ilhas que estão no mar estarrecem com teu fim’. Pois assim diz o Senhor DEUS: Quando fizer de ti uma cidade em ruínas, como as cidades desabitadas, quando fizer de ti e as grandes águas te cobrirem, então te farei morar nas profundezas da terra, nas ruínas antigas com os que descem à cova, para que não voltes a ser restabelecida na terra dos vivos. Farei de ti um objeto de terror e deixarás de existir. Serás procurada mas nunca serás encontrada – oráculo do Senhor DEUS” Ez 26, 17-21.
“A palavra do SENHOR me foi dirigida nestes termos: Quanto a ti filho de homem, entoa um canto fúnebre sobre Tiro. Dirás a Tiro, situada à entrada do mar, entreposto internacional para muitas ilhas: Assim diz o Senhor DEUS: Tiro, tu disseste: sou um navio de perfeita beleza! O coração do mar é tua fronteira, teus construtores aperfeiçoaram tua beleza”. Ez 27, 1-4.
“Navios de Társis formavam tuas caravanas comerciais. Estavas bem abastecida e rica no coração dos mares. Em alto-mar te conduziram teus remadores, mas o vento oriental desmantelou-te no coração dos mares. Tua opulência, mercadorias e artigos, teus marinheiros e tua tripulação, teus reparadores e guerreiros que estiverem contigo, com toda a multidão que houver dentro de ti, afundarão em pleno mar quando naufragares.” Ez 27, 25-27.
“Agora estás desmantelada no mar, nas profundezas das águas! Teus artigos e toda a tripulação a bordo afundaram”. Ez 27, 34.
“A palavra do SENHOR me foi dirigida nestes termos: “Filho de homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor DEUS: Porque teu coração se tornou orgulhoso, tu disseste: ‘Sou um deus, ocupo um trono divino no coração dos mares’. Tu, porém, és mortal e não um deus. És mais sábio do que Daniel! Segredo algum te é obscuro. Com talento e habilidade fizeste fortuna, acumulaste ouro e prata em teus tesouros. Com grande tino comercial fizeste fortuna. Mas teu coração se tornou soberbo com a fortuna”. Ez 28, 1-5.
A destruição de Tiro foi uma resposta de Deus, pela soberba e injustiça de seu rei com Jerusalém. Há muitos exemplos na Bíblia Sagrada (AT) que relataram punições a outros povos, como Sodoma e Gomorra; com o faraó do Egito, e outros reinos. Deus na sua justiça não deixaria impune as atrocidades cometidas pelo rei de Tiro, e nem de outras nações que futuramente se tornariam ímpias. 
A arrogância do rei de Tiro que o levaram-no a queda, pois desprezava por assim dizer a magnificência e autoridade de Deus sobre a humanidade; isso por se considerar um deus. As riquezas perverteram o bom senso, fazendo-o achar que estava acima de Deus e das pessoas. Por isso Deus o destronou de sua posição; porque a soberba é odiosa a Deus e até mesmo aos homens. "Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes." Tiago 4:6.
Quem é arrogante tem o hábito de pisar, humilhar e escarnecer dos mais fracos. O poder que é concedido ao homem, revelam o seu verdadeiro caráter! Mas ele e todos os que governam com totalitarismo nesse mundo, se esquecem de que Deus resiste aos soberbos e faz justiça aos pobres e oprimidos. Os soberbos e escarnecedores nunca conseguirão obter a santificação e a vida eterna! Portanto quem humilha, um dia será humilhado e destituído de seu poder temporal. "Quando vem a soberba, então vem a desonra; mas com os humildes está a sabedoria". Provérbios 11:2.
Atrelado ao texto de Ezequiel, gostaria de citar os textos do livro: A reconstrução de Atlântida por José Alvarez López; nos seus subtítulos: Relato da Atlântida por Platão e o Relato da Atlântida em suas íntegras:

Relato da Atlântida por Platão (Merejkowsky e a bomba atômica)

O diálogo de Platão chamado Timeo foi considerado durante milênios a máxima expressão do pensamento do filósofo. A antiguidade e toda a Idade Média viveram preocupadas tratando de penetrar nos múltiplos mistérios de um diálogo, onde o microcosmo (homem) e o macrocosmo (universo) aparecem formando as duas faces de uma mesma moeda. Todos os estudiosos de Platão concordaram que seus diálogos têm sempre um conteúdo oculto, cujo significado inevitavelmente nos escapa. Ortega e Gasset diziam, assinalando esta particularidade da literatura platônica: ”Ninguém entendeu o Protágoras, outro dos importantes diálogos do mestre mas, recentemente, outro erudito da filosofia platônica (F. de Samaranch) disse que até no jogo das palavras se descobre uma intenção oculta”.
É esta atmosfera misteriosa que rodeia os diálogos platônicos, desde seu aparecimento na Grécia do Século V a.C., o motivo pelo qual até o próprio começo do Timeo motivou a preocupação de milhões de interessados na filosofia platônica. Começa este diálogo com a interrogação socrática tantas vezes repetida: "Um, dois, três, onde está o quarto?". Sócrates se refere a seus interlocutores presentes (Timeo, Crítias, Hermócrates), porém, fica a incógnita em torno do quarto personagem pelo qual interroga.
À parte este mistério, todos sabem que Platão é um mestre na matemática cabalística e que esconde seus números sob o cenário dos diálogos. Por exemplo, ninguém pensará que é uma simples coincidência que no “Simposium” Platão situe onze personagens masculinos e um feminino. O jogo do onze mais a exceção é um velho truque cabalístico que vemos reproduzir-se em todos os escritos antigos. Por exemplo, na Divina Comédia, de Dante, este jogo numerológico se repete constantemente em cada uma das três partes de trinta e três cantos, escritas, por acréscimo, em hendecassílabo em terço. E isto para não citar toda a literatura antiga, desde a bucólica até a alquimista, passando pelo teatro e pela gnose.
Estava a interrogação socrática pelo quarto convidado vinculada à Atlântida? Para Merejkowsky, o profundo ensaísta russo, Sócrates conta as humanidades com os três dilúvios que se encontram mais adiante no Crítias, onde se afirma que o último desses foi o dilúvio de Deucalião. Segundo Merejkowsky, Sócrates interroga-se pelo destino da quarta humanidade, que seria a nossa.
A resposta assustava Merejkowsky, pois vinte anos antes de alguém ter pensado na bomba atômica ele já a havia previsto, pois em sua obra Atlântida-Europa, afirmava que a bomba atômica arrasaria nossa civilização, da mesma forma que aniquilou a Atlântida.
Não deixa de ser surpreendente que vinte anos antes de algum físico pensar sequer na possibilidade da existência de semelhante dispositivo técnico, Merejkowsky escrevera frases que não tinham para a época qualquer sentido, porém que cinquenta anos depois são perfeitamente claras para nós.
Foi uma adivinhação genial, ou realmente a Atlântida foi destruída pela energia atômica? Leiamos o que escrevia Merejkowsky há cinquenta anos:
“Parece que a guerra universal não será somente a destruição de uns povos por outros, mas sim a destruição da humanidade em si mesma”. Tudo isto que parece um conto ou uma visão do Apocalipse é talvez uma realidade já próxima, se bem que nos ocultem-na. Cada nação dissimula cuidadosamente às suas vizinhas os segredos de suas invenções militares.
“O juízo do mundo e de tudo o que está no mundo se faz pelo fogo. Quando o fogo vier, julgará e tomará tudo. O mistério da próxima guerra, que será sem dúvida a última, é o mistério do Ocidente: A Atlântida-Europa”.
Está claro que para Merejkowsky a Atlântida foi destruída por um dispositivo técnico desconhecido pelo seu tempo, mas que vinte anos depois seria perfeitamente reconhecível. Esta autêntica profecia poderá parecer surpreendente, porém é um ponto no qual estão de acordo Platão, Ezequiel e Merejkowsky. 

Relato de Atlântida

Começando com o relato de Atlântida, o sacerdote continua: “Naquele tempo, era possível atravessar o atlântico. Havia uma ilha do que vós chamais as colunas de Hércules (Gibraltar), maior tamanho que o Egito e a Ásia Menor juntos. E os viajantes daqueles tempos podiam passar desta ilha às demais ilhas, e destas últimas podiam ganhar todo o continente, na costa oposta deste mar que merecia realmente seu nome. Pois em um dos lados, dentro deste estreito que falamos, parece que não havia mais que um porto de boca muito fechada e que, do outro lado, para fora, existe este verdadeiro mar e a terra que o rodeia, a qual se pode chamar realmente um continente, no próprio sentido da palavra. Ora, pois nesta ilha Atlântida uns reis haviam formado um império grande e maravilhoso. Este império era senhor de toda a ilha e também de muitas outras ilhas e de partes do continente. Além disso, na parte vizinha a nós, possuíam a África até o Egito e a Europa até a Etrúria”.
Narra depois o sacerdote, o começo da guerra originada no intento atlante de colonizar Atenas e disse:
“Porém, no tempo subsequente, houve terríveis tremores de terra e cataclismo. Durante um dia e uma noite horríveis, todo o exército de Atenas foi tragado pela terra e desse modo a ilha Atlântida submergiu no mar e desapareceu. Eis porque, todavia hoje, este mar é difícil e inexplorável devido às suas profundidades baixas e lodosas que a ilha ao fundir-se deixou”.
Não será necessário assinalar que Platão fala aqui da América, nos mesmos termos em que qualquer europeu o pôde fazer depois de Cólon. Isto sempre chamou a atenção e mostra um completo conhecimento da geografia do Atlântico e da América. Já vimos como anteriormente Platão nos falou da sucessão dos períodos glaciais e carboníferos, os quais, segundo o sacerdote de Sais, devem-se a modificações da órbita terrestre. Esta é, curiosamente, a hipótese atualmente mais aceita para explicar os alternantes períodos glaciais e carboníferos de que nos fala Platão.
Porém, deve-se destacar aqui um aspecto não levado em conta pelos estudiosos do texto platônico, que é o caráter insular do império atlante. Platão fala de muitas ilhas em relação à Atlântida. O império atlante era, segundo Platão, um arquipélago. Curiosamente, em coincidência com o texto platônico, podemos observar que no texto de Ezequiel também se fala do arquipélago de Társis Tiro: “Agora se estremecerão as ilhas ao dia de tua queda, sim, as ilhas que estão no mar se espantarão com teu êxito” (Ez. XXVI-18). “Todos os moradores das ilhas se maravilharão sobre ti e seus reis tremerão de espanto” (Ez. XXVII-35). Társis está sempre associado às ilhas, pois no Salmo 72 lemos: “Os reis de Társis e das ilhas trarão presentes”.
Platão é muito conciso na descrição dos terremotos e maremotos que determinaram a catástrofe. A descrição de Társis pelo fogo imita o texto platônico e é possível que se trate de uma referencia à mesma Atlântida, que o escritor hebreu chama de Társis ou Tiro? “Farei subir sobre ti o abismo e as muitas águas te cobrirão”. (Ez. XXVI-19).
Muitas das lendas antigas sobre cataclismo e catástrofes estão associadas ao mistério de Atlântida. O mais provável é que depois da catástrofe subsistiram multidões de ilhas do arquipélago atlântico e que um delas fora Társis (Tiro), hoje desaparecida.


Referências:

Bíblia Sagrada: Edição da família. 46ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 1440 p.

LÓPEZ, José Alvarez. A reconstrução de Atlântida: Enigmas e mistérios do universo. São Paulo: Hemus Editora Limitada. 125 p. Carlos Antônio Lauand.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Banda Dom - CD: Permanecer no Amor para Download

Banda Dom; Permanecer no amor; Música cristã

Download


FAIXAS DO CD:


01-Quanto Tempo Você Tem?
02-Aos Pés de Tua Cruz
03-Coração Adorador
04-Fiat ( Faça-se )
05-Permanecer no Amor
06-Certeza
07-Teu Mensageiro
08-Primeiro Encontro
09-Yo Estoy Contigo
10-Louvar e Adorar

Obs. Mais duas faixas extras.

CDs: Vozes da Tranquilidade (Canto Gregoriano) para Download


canto gregoriano; vozes da tranquilidade; download




Obs. Arquivo com 3 CDs.


Canto Gregoriano para Download




Álbuns:

Mosteiro da Ressurreição: 
Glorificai o nosso Deus
Minha Casa e Casa de Oração
Ressuscitou Aleluia
Salmos I
Salmos II
Salmos III

Mosteiro de São Bento:
Cantus Selecti
Natal

Mosteiro de Solesmes:
as trevas da sexta
cristo no getsemani
festas nossa senhora
igreja canta os santos
missa da quinta-santa
natal

Santo Domingo de Silos:
CD1
CD2

domingo, 1 de outubro de 2017

Download do CD: Anjos De Resgate – Marcados Pelo Amor (2012)



download; anjos de resgate; música cristã

                                                    


Músicas:

01. Me Marque Na História
02. Recomeçar
03. A Cruz Da Salvação
04. Adoração
05. Vou Viver
06. Teu Anjo (I’m Your Angel) (Part. Cantores de Deus)
07. Amado Amigo
08. Interior
09. Senhora De Todos Os Povos
10. Em Ti
11. Todos Os Anjos
12. Em Teu Mar





sábado, 16 de setembro de 2017

Segunda parte: Céu e inferno. Há inferno do mesmo modo como há céu [...], "o fariseu e o pecador" arrependido.

As portas da percepção: Céu e inferno; Céu e inferno; o fariseu e o pecador arrependido
Só me dediquei, até este momento, à experiência visionária bem-aventurada, a sua interpretação em termos de teologia e a sua tradução em arte. Mas nem sempre essa experiência é celestial. Por vezes ela é terrível. Há inferno do mesmo modo como há céu. (págs. 123 – 124).
Assim como este, o inferno visionário possui sua luz e seu valor preternaturais. Mas seu significado é intrinsicamente aterrador, e a luz é a “luz fumegante” do Livro tibetano dos mortos, a “escuridão visível” de Milton. No Journal d’une schizophrène [Diário de uma esquizofrênica], registro autobiográfico da passagem de uma jovem pela loucura, o mundo do esquizofrênico é chamado le d’éclairement – “o país da iluminação”. Esse é um nome que um místico bem poderia ter escolhido para designar seu paraíso.
Mas para a pobre Renée – a vítima da esquizofrenia – a iluminação é infernal: um intenso clarão elétrico sem uma sombra, ubíquo e implacável. Tudo o que, para o visionário são, é uma fonte de alegria, traz a Renée tão-somente pavor a um tétrico sentimento e irrealidade. O sol estival é maligno; o brilho das superfícies polidas nas sugere gemas, e sim maquinaria e chapas esmaltadas; a intensidade de existência que anima cada objeto, quando examinado de perto e abstraído seu aspecto utilitário, é sentida como uma ameaça.
E há, ainda, o horror infinito. Para o visionário são a percepção do infinito em um finito particular é uma revelação de sublime imanência; para Renée, isso era uma comprovação do que ela chama o sistema – vasto mecanismo cósmico, que existe unicamente para produzir crime e castigo, solidão e irrealidade. (págs. 123 – 124).
A sanidade mental é uma questão de gradação, e há um grande número de visionários que vê o mundo tal como Renée o viu, mas consegue, a despeito disso, viver fora dos manicômios. (pág. 124 – 125). Tal como os visionários positivos, eles também vêem o Universo transfigurado – mas para pior. Tudo nele, das estrelas, no céu, à poeira sob seus pés, é indizivelmente sinistro e repugnante; cada acontecimento vem carregado de ódio, cada objeto acusa a presença de um Horror infinito, todo-poderoso, eterno.
Esse mundo negativamente transfigurado consegue insinuar-se, de tempos em tempos, na literatura e nas artes. Ele desvirtua e ameaça por meio das últimas paisagens de Van Gogh; foi o quadro e o tema de todos os contos de Kafka; foi o lar espiritual de Géricault, foi habitado por Goya durante os anos de sua surdez e solidão; foi entrevisto por Browning ao escrever Childe Roland; teve seu lugar, diante das teofanias, nas novelas de Charles Williams.
A experiência visionária negativa é, frequentemente, seguida de sensações corpóreas de natureza bastante especial e característica. As visões felizes são, via de regra, associadas a uma sensação do corpo, a um sentimento de despersonalização. (É, sem dúvida, esse sentimento que possibilita aos índios que praticam o culto do peiote usar a droga, não apenas como um atalho para atingir o mundo das visões, mas também como instrumento para criar uma solidariedade afetiva dentro do grupo de participantes.) Mas, quando as experiências visionárias são terríveis e o mundo se transfigura para pior, a individualização é intensificada e o visionário negativo sente-se preso a um corpo que parece tornar-se cada vez mais denso, mais comprimido, até que acaba por sentir-se reduzido à condição de torturada consciência de um aglutinado de matéria compacta, não maior que uma pedra que pudesse ser contida entre as mãos. (pág. 125).
Vale a pena observar que muitos dos sofrimentos narrados nas várias descrições do inferno são castigos de pressão e constrição. Os pecadores de Dante eram enterrados na lama, encerrados em troncos de árvores, aprisionados em blocos de gelo, esmagados entre rochas. Seu inferno é psicologicamente verdadeiro. Muitas de suas punições são experimentadas pelos esquizofrênicos e por aqueles que tomam mescalina ou ácido lisérgico, sob condições desfavoráveis.
Qual a natureza dessas condições desfavoráveis? Como e por que é o Céu transformado em Inferno?
Em certos casos, a experiência visionária negativa é o resultado de causas primordialmente fisiológicas. A mescalina tende, após sua ingestão, a se acumular no fígado. Se esse órgão estiver doente, isso pode levar a mente a sentir-se no Inferno. Mas, o que é mais importante, do ponto de vista de nosso presente estudo, é o fato de que a experiência visionária negativa pode ser produzida por meio puramente psicológicos. O temor e a angústia barram o caminho para o Outro Mundo celestial e mergulham no inferno quem ingerir a droga.
E o que é verdade para quem toma mescalina também é válido para os que têm visões espontâneas ou sob a influência do hipnotismo. Foi com base nesse fundamento psicológico que ergueu-se a doutrina teológica da preservação da fé – doutrina essa com que nos defrontamos em todas as grandes religiões do mundo. Os escatologistas sempre tiveram dificuldade em conciliar seu racionalismo e sua moral com as realidades brutais da experiência psicológica. (pág. 126). Como racionalistas e moralistas, sentem que o bom comportamento deve ser recompensado e que o virtuoso merece subir ao Céu. Mas, como psicologistas, sabem também que a virtude não é a condição única, nem é suficiente, para uma experiência visionária feliz. Sabem que as simples boas ações são importantes, e que é a fé, ou a confiança no amor, que assegura a bem-aventurança dessa experiência.
As emoções negativas – o medo, que é a ausência de confiança; o ódio, a ira ou a maldade, que eliminam o amor – trazem consigo a certeza de que a experiência visionária, se e quando produzir, será aterradora.
O fariseu é um homem virtuoso; mas a sua virtude é de uma espécie compatível com as emoções negativas. Suas experiências visionárias têm, pois, maiores possibilidades de serem infernais que bem-aventuradas.
A natureza da mente é tal que o pecador que se arrepende, e pratica um ato de fé em um poder mais alto, tem maior probabilidade de encontrara bem-aventurança na experiência visionária do que o sustentáculo da sociedade, de consciência tranquila, mas que abriga na mente justas indignações, indignações, inquietações, a respeito de bens e ambições materiais, hábitos arraigados de reclamar, desprezar e condenar. Daí a enorme importância conferida, em todas as grandes religiões, ao estado de espírito no momento da morte.
Experiência visionária não é a mesma coisa que experiência mística. Esta se situa além do reino do dualismo, enquanto aquela ainda permanece dentro de sua esfera de ação. O Céu está vinculado ao inferno, e “subir ao Céu” não representa liberação maior do que a descida ao horror. O Céu representa apenas uma posição vantajosa, da qual o sublime Princípio poderá ser apreciado com maior clareza que ao nível da existência individual de todo o dia. (pág. 127).

Segunda parte: Céu e inferno. Os Paraísos, inclusive a Nova Jerusalém, são adornados de pedrarias que refulgem [...]. (pág. 99 – 102).

As portas da percepção: Céu e inferno; Nova Jerusalém
A maior parte dos paraísos é adornada de edifícios, e estes, tal qual as árvores, as águas, os montes e as campinas, refulgem de pedrarias. Todos conhecemos a Nova Jerusalém: “E sua muralha fora erigida em jaspe, e a cidade de ouro puro e vidro cristalino. E os alicerces da muralha da cidade eram inteiramente ornados de pedras preciosas”.
Descrições semelhantes podem ser encontradas na literatura doutrinária do bramanismo, do budismo e do islamismo. O céu é sempre uma região de pedras preciosas. Qual a razão para isso? Os que raciocinam baseados em todas as atividades humanas, dentro de um quadro de referência social e econômica, hão de encontrar respostas deste gênero: as gemas são raríssimas na Terra. Poucos as possuem. A fim de encontrar uma compensação para isso, os doutrinadores dessa maioria assolada pela pobreza recobriram seus paraísos imaginários de pedras preciosas. Essa hipótese do “tesouro no Céu” contém, sem dúvida, alguma verdade; mas não consegue explicar por que as pedras preciosas chegaram a ser consideradas como tal em nosso mundo.
O homem tem consumido tempo, energias e dinheiro, em enorme escala, para encontrar, explorar e lapidar essas pedras brilhantes. Por quê? O utilitário não consegue oferecer explicação para um tão fantástico comportamento. Mas, tão logo se levam em conta os fatos da experiência visionária, tudo se aclara. Nas visões, o homem encontra uma profusão de “pedras de fogo” e Weir Mitchell descreve como “frutos transparentes”. Essas coisas têm luz própria, exibem um colorido preternatural e possuem um valor também extraterreno. Os objetos materiais que mais se assemelham a essas fontes de iluminação das visões são as pedras preciosas. Adquirir uma dessas pedras é possuir algo cuja preciosidade está assegurada pelo fato de elas existirem no Outro Mundo.
Daí essa paixão, de outro modo inexplicável, que o homem possui pelas gemas; e essa atribuição que ele faz de virtudes terapêuticas e mágicas a tais pedras. A cadeia causal – disso começa no Outro Mundo psicológico da experiência visionária, desce à terra e remonta novamente ao Céu do Outro Mundo teológico. Sob esse aspecto, as palavras de Sócrates, no Fédon, assumem um valor novo. Existe, diz-nos ele, um mundo ideal, acima e além do mundo material. “Nessa outra terra as cores são muito mais puras e esplendorosas do que cá embaixo [...] As próprias montanhas, as pedras mesmas, possuem maior brilho e matizes mais belos, por sua nitidez e intensidade. As pedras preciosas deste mundo inferior – nossas apreciadíssimas cornalinas, nossos jaspes, esmeraldas, e todas as demais, não passam de minúsculos fragmentos dessas pedras das alturas. Na outra terra, não há pedra que não seja preciosa nem exceda em beleza quaisquer de nossas gemas”. (págs. 100 – 101).
Em outras palavras: as pedras preciosas o são porque guardam uma débil semelhança com as luminosas maravilhas entrevistas pela percepção interior do visionário. “O panorama desse mundo”, diz Platão, “é uma visão para espectadores bem-aventurados”; pois ver as coisas “tais como elas são em si mesmas” é uma benção suprema e inexprimível.
Entre os povos que desconhecem o vidro ou as pedras preciosas, o céu é adornado, não com minerais, mas com flores. Na maioria dos Outros Mundos, descritos pelos escatologistas primitivos, crescem flores de um esplendor preternatural; e mesmo nos paraísos das religiões mais avançadas, refulgentes de pedrarias e de vidro, elas conservam seu lugar. Basta que nos lembremos do lótus das tradições brâmane e budista, das rosas e lírios do Ocidente.
“Deus primeiro plantou um jardim.” Essa afirmação encerra uma profunda verdade psicológica. A floricultura tem sua origem – ou, seja como for, uma de suas origens – no Outro Mundo dos antípodas da mente. Quando os fiéis oferecem flores diante do altar, estão devolvendo aos deuses coisas que eles sabem ou (caso não sejam visionários) sentem, vagamente, serem originárias do Céu.
E essa devolução a sua origem não é mero simbolismo; é também uma questão de experiência imediata, pois o tráfego entre nosso Velho Mundo e seus antípodas, entre o Aqui e o Além, faz-se ao longo de uma estrada de dupla circulação. As gemas, por exemplo, vêm do céu visionário da alma, mas também podem transportar a alma de volta a esse céu. Contemplando-as, os homens se sentem literalmente transportados, levados para essa Outra Terra do diálogo platônico, ao recanto encantado onde cada seixo é uma pedra preciosa. E efeitos semelhantes podem ser produzidos por artefatos de vidro ou metal, candeeiros luzindo na escuridão, imagens e adornos de cores brilhantes, flores, conchas e penas ou panoramas vistos à luz transfiguradora da aurora ou do crepúsculo, como Shelley viu Veneza, do alto dos montes Eugâneos. (págs. 101 – 102).
Na verdade, podemos nos arriscar a uma generalização e dizer que tudo que, na natureza ou numa obra de arte, lembra esses objetos imensamente valiosos, dotados de luz interior, encontrados nos antípodas da mente, é capaz de induzir, ainda que de forma apenas parcial e atenuada, a experiência visionária. Quanto a isto, um hipnotizador nos dirá que, se um paciente puder ser induzido a fitar fixa e atentamente um objeto brilhante, poderá entrar em transe. E que, quer ele entre em transe ou apenas mergulhe em sono hipnótico, estará perfeitamente apto a ter visões interiores e, no primeiro caso, a ver o mundo exterior transfigurado.
Mas, finalmente, como e por que a vista de um objeto brilhante haverá de induzir um transe ou um estado de devaneio? Será isso, como afirmavam os vitorianos, simples questão de fadiga ocular de que venha a resultar uma exaustão nervosa generalizada? Ou será mais razoável explicar o fenômeno em termos puramente psicológicos, dizendo que a concentração, conduzindo ao monoideísmo, acaba por produzir a dissociação?
Há, porém, ainda uma terceira hipótese: os objetos brilhantes podem recordar a nosso inconsciente as visões que ele desfruta nos antípodas da mente, e essas obscuras insinuações da vida no Outro Mundo são tão fascinantes que passamos a dar menos atenção a este mundo e, assim, nos tornamos capazes de experimentar, conscientemente, algo que, no inconsciente, jamais nos abandona.


sábado, 9 de setembro de 2017

A RELAÇÃO DA REJEIÇÃO PATERNA NA CONDUTA SEXUAL DE RISCO DAS MULHERES

Artigos, Rejeição Paterna, Psicologia, Transtorno da Personalidade Borderline, Relação Paterna
A partir do conhecimento de mulheres que foram rejeitadas por seus pais quando crianças, ou na pré-adolescência, e que na vida adulta tiveram uma vida desregrada, (inconstante nos relacionamentos de cunho sexual); é que este comportamento disfuncional, muito possivelmente, tenha relação nas rejeições imputadas dos pais. A rejeição paterna é identificada como um dos fatores para o desencadeamento do comportamento sexual disfuncional nas mulheres. O resultado disso é inúmeros relacionamentos que sempre fracassam, mas que tem como pano de fundo, compensar a frustração e a dor de terem sido desprezadas pelos pais.
Há um transtorno que é denominado de Transtorno da Personalidade Borderline, que faz com que mulheres apresentem um comportamento sexual de risco, (sem entrar na condição da perversão sexual ou da ninfomania). Vejamos algumas considerações referenciais, conforme o DSM-V, sobre esta psicopatologia: “Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline fazem esforços frenéticos para evitarem um abandono real ou imaginado (Critério 1). A percepção da separação ou rejeição iminente ou a perda da estrutura externa podem ocasionar profundas alterações na autoimagem, afeto, cognição e comportamento”. [...].
Outro ponto a ser considerado, é que a predominância é muito maior em mulheres, do que em homens. “O Transtorno da Personalidade Borderline é diagnosticado predominantemente em mulheres (cerca de 75%)”. [...]. “Os indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline tem um padrão de relacionamentos instáveis e intensos (Critério 2). Ele(a)s podem idealizar potenciais cuidadores ou amantes já no primeiro ou no segundo encontro, exigir que passem muito tempo juntos e compartilhar detalhes extremamente íntimos na fase inicial de um relacionamento. Pode haver, entretanto, uma rápida passagem da idealização para a desvalorização, por achar que a outra pessoa não se importa o suficiente, não dá o bastante, não está "ali" o suficiente”. (DSM-V).
A palavra "rejeição", surge dentro do contexto de diagnóstico, que nos traz o DSM-V, como critério 1, para o diagnóstico do transtorno já mencionado. Mas, gostaria de fazer um parênteses; não li ainda nenhum artigo científico, ou com referência bibliográfica, que coloca especificamente a “rejeição paterna”, como fator predominante para a manifestação do Transtorno da Personalidade Borderline (Obs. é óbvio que fica subentendido, que o DSM-V, utiliza o termo: rejeição de maneira generalizada, o que pressupõe a rejeição paterna) como um dos principais fatores para desencadear o Transtorno da Personalidade Borderline.
Através de tudo o que já vimos, fica o questionamento, "A rejeição paterna é um fator predominante, para o acometimento desse transtorno comportamental a estas mulheres?" A resposta é que 'sim', pois o pai exerce papel fundamental no desenvolvimento psicossexual dos filhos e filhas, neste caso agora específico as mulheres.
A constatação que diz o DSM-V, que já foi exposto é que elas idealizam na figura do parceiro sexual, a figura do pai ausente, não encontrando neste (desvalorização), vai em busca de outro; é como uma forma de diminuir a dor do trauma deixado pelo progenitor, o que jamais isso ocorrerá; isso é apenas uma forma de recalque para não se posicionar firmemente para a resolução do trauma.
Concluo o texto com algumas citações do artigo intitulado: A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil, da autora: Edyleine Belline Peroni Benczik. Vamos analisar algumas delas:

1) As teorias psicológicas e as pesquisas científicas afirmam e fundamentam o papel da figura paterna no desenvolvimento e no psiquismo infantil. É pressuposto da teoria psicanalítica o papel estruturante do pai, a partir da instauração do complexo de Édipo. Na trama familiar, o sujeito se constrói e sai do estado de natureza para ingressar na cultura. Freud, em seu trabalho Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância, afirma: “na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada”.
2) Para Aberatury (1991), o lugar do pai, entre seis e doze meses, não é tão destacado na literatura, como acontece com a figura materna, no entanto, o contato corporal entre o bebê e o pai, no cotidiano, é referência na organização psíquica da criança, devido à sua função estruturante para o desenvolvimento do ego.
3) A partir de um estudo de caso clínico e de uma rigorosa revisão da literatura, relacionada à importância da figura paterna na vida dos filhos, Eizirik e Bergamann afirmam que a ausência paterna tem potencial para gerar conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo da criança, bem como influenciar o desenvolvimento de distúrbios de comportamento.
4) Segundo Muza, crianças que não convivem com o pai acabam tendo problemas de identificação sexual, dificuldades de reconhecer limites e de aprender regras de convivência social. Isso mostraria a dificuldade de internalização de um pai simbólico, capaz de representar a instância moral do indivíduo.
5) A privação do pai pode ter consequências graves, a longo prazo, com problemas na modulação e na intensidade do afeto. 6) O vazio promovido pela ausência do pai, segundo Ferrari, é formado pela noção das crianças de não serem amadas pelo genitor que está ausente, com uma grande desvalorização de si mesmas, em consequência disso. Além dessa autodesvalorização, ocorrem os sentimentos de culpa por a criança se achar má, por acreditar haver provocado à separação e até por ter nascido.

Como destacado nas citações, a importância do pai para o desenvolvimento dos filhos, é essencial para que haja o pleno desenvolvimento saudável do recém nascido(a).  Para que, quando adulto, não apresente dificuldades de interação social, comportamento disfuncional de afeto e problemas de ordem psíquica. Apesar de especificar o trato da importância relacional, entre pai-filho no artigo utilizado para contextualizar o texto, não podemos ignorar que a referência teórica, pode ser utilizada às mulheres, principalmente no que conferem os itens descritos acima: 3, 4 e 5. Como vimos e ratificado, os pais de meninas, têm um papel importante para as mulheres, principalmente no que diz respeito ao comportamento sem alterações anormais (fazemos uma alusão ao Transtorno da Personalidade Borderline); a importância de adquirir interesse moral; e a estruturação afetiva normal.


Referência:

BENCZIK., Edyleine Bellini Peroni. A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. Psicopedagogia: Trabalho realizado no Psiquê - Núcleo de Psicologia, São Paulo, p.67-75, 18 jan. 2011.

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Segunda e última parte: CÉU E INFERNO

Psicologia, Céu e inferno, Aldous Huxley, livro
Na segunda parte do livro: Céu e inferno, veremos o autor se utilizar de algumas figuras de linguagem, para ilustrar o quanto a nossa mente, possui regiões ainda a serem “desbravadas”, semelhante segundo o texto: “qual a terra de há um século, nossa mente ainda possui suas misteriosas Áfricas e Amazônias, seus ignotos bornéus”. (pág. 85). [...]. “A mente humana é composta do que poderemos chamar de um Velho Mundo de seu consciente e, para além de um mar divisório, de uma série de Novos Mundos – as não muito longínquas Virgínias e Carolinas de seu subconsciente coletivo, com sua flora de símbolos e suas tribos de hábitos nativos; e além, muito além, do outro lado de vasto oceano, finalmente os antípodas da consciência cotidiana – o mundo da Experiência visionária”. (pág. 86).
Um pouco mais a frente na página posterior, ele indaga a respeito de como se chegar ou transportar-se “do Velho para o Novo Mundo, do continente das vacas e dos cavalos familiares para o do canguru e do ornitorrinco”. (pág. 87). “Existem dois métodos para isso. Nenhum dos dois é perfeito, mas ambos são suficientemente eficientes, fáceis e seguros para justificar sua adoção por aqueles que sabem o que estão fazendo. No primeiro caso, a alma é transportada para seu longínquo destino por meio de uma droga – a mescalina ou o ácido lisérgico. No segundo, o veículo é de natureza psicológica, e a passagem para os antípodas da mente se faz pelo hipnotismo. Ambos os métodos transportam a percepção para a mesma região, mas a droga possui maior alcance e leva seus passageiros até mais longe, no interior da terra incógnita”. (pág. 87).
“Como e por que produz a hipnose tais efeitos? Não o sabemos, mas isso tampouco nos interessa, no caso presente. [...]. Quanto aos efeitos fisiológicos da mescalina, já possuímos algumas noções. Ela, possivelmente (pois ainda não temos certeza), interfere com os sistemas enzimáticos que regulam o funcionamento do cérebro. Tal atuação diminui a eficiência deste instrumento destinado a dirigir a mente para os problemas da vida na superfície de nosso planeta. Essa redução do que podemos chamar de eficiência biológica do cérebro parece permitir o acesso de certas classes de acontecimentos mentais ao consciente, acontecimentos esses que são normalmente eliminados por não possuírem valor, do ponto de vista da sobrevivência. [...]. Uma pessoa sob a influência da mescalina ou do ácido lisérgico deixará de ter visões se receber uma grande dose de ácido nicotínico. Isso explica a eficiência do jejum como produtor de visões. Reduzindo a taxa de açúcar disponível, o jejum reduz a eficiência biológica do cérebro e torna assim possível o acesso ao consciente de material desprovido de valor, do ponto de vista da sobrevivência. Além do mais, causando uma deficiência de vitaminas, remove do sangue aquele conhecido eliminador de visões – o ácido nicotínico. Outro inibidor das visões é a experiência rotineira, diária, perceptiva. Os psicologistas experimentais chegaram à conclusão de que, se confinarmos um homem a um “ambiente restrito”, onde não haja luz, ruído ou odores, e se mergulharmos em banho tépido, onde haja apenas um objeto quase imperceptível que ele possa tocar, o paciente em breve começará a “ver coisas”, “ouvir coisas” e a ter estranhas sensações no corpo”. (págs. 87 – 88).
Resumidamente, o autor conclui que os visionários, desejam chegar ao que ele denominou de antípodas da mente, não é só por objetivo de torturar o corpo para expiar pecados, mas [...]“Milarepa, em sua caverna no Himalaia, e os anacoretas da Tebaida seguiram, em essência, o mesmo método e atingiram, de modo geral, os mesmos resultados. Um milhar de quadros das Tentações de Santo Antônio dão testemunho da eficiência da dieta limitada e do ambiente restrito. É evidente que o ascetismo possui uma dupla motivação. Não é só por pretender expiar culpas passadas e evitar punições futuras que homens e mulheres torturam seus corpos; é também porque anseiam por visitar os antípodas da mante e fazer um pouco de vigelegiatura visionária. Sabem, empiricamente, e louvando-se em informações de outros ascetas, que o jejum e o ambiente confinado transportá-lo-ão aonde quer que desejem ir. Sua autopunição poderá ser a porta do paraíso. (Mas ela também pode se transformar – e este é um ponto que será examinado posteriormente – na porta para as regiões infernais)”. (pág. 89).
As experiências possuem uma regularidade, mas que são estranhas, mas com um ponto singular, que há neles é a experiência da luz. Tudo é muito iluminado “e parece possuir um fulgor que emana de si mesmo”. (pág. 89). A respeito dos sonhos para nós seres humanos, apresentarem ser preto e branco ele nos diz, “[...] o professor Calvin Hall, que tem coligido informações sobre muitos milhares de sonhos, diz-nos que cerca de dois terços de todos eles são em preto-e-branco”. A conclusão é, escreve o dr. Hall, “de que a presença da cor nos sonhos não nos proporciona qualquer informação sobre a personalidade do individuo.”[...] a explicação concernente é “o que é real é colorido; o que é fruto de nossa imaginação, associado ao poder criador de nosso intelecto, é desprovido de cores”. (págs. 90 – 91).
Todos os relatos descritos por experiências com visões, preservados em todas as culturas tradicionais, sobre os diversos mundos – “os mundos habitados pelos deuses, pelos espíritos dos mortos, pelo homem em seu primitivo estado de inocência”. (pág. 97). Há em todas as descrições “induzidas ou espontâneas” e “países de fadas da religião e do folclore” a semelhança conforme o relato do livro, de uma luz sobrenatural, de intensa cor, tais são as características de todos os outros mundos e idades áureas. Outro ponto a ser destacado, é que o brilho sobrenatural está ligado há uma beleza ingente, que não se pode descrevê-lo de tão inefável beleza. Alguns dos lugares, que as citarei suscintamente, para não me alongar nas narrativas são: 1) na tradição greco-romana o belíssimo jardim das Hesrépides, os campos Elísios e a radiosa ilha de Leuke, para a qual Aquiles foi transportado. 2) Menon foi para outra ilha iluminada, lá para o Levante. 3) Ulisses e Penélope viajaram na direção oposta com Circe, na Itália. 4) Ainda mais para o Oriente ficavam as ilhas da Bem-Aventurança, citadas em primeiro lugar por Hesíodo, e de cuja existência havia tanta certeza, ainda no sé. I a.C., que Sertório planejou enviar, da Espanha, uma frota para descobri-las. 5) Existem menções no folclore dos celtas e, do outro lado do mundo, no dos japoneses, ilhas encantadas maravilhosas. 6) Avalon , no extremo ocidental e, Horosain, no extremo oriental, se situa a terra de Uttarakuru – o outro mundo dos hindus. 7) Há uma citação no livro de Ezequiel na Bíblia, sobre o Jardim do Éden. 8) Outra descrição, é aferida no folclore dos celta e teutões; onde se fala muito pouco de pedras preciosas, mas que possuem outra substância que, para eles, era igualmente maravilhosa – o vidro. 9) Os gauleses possuíam uma terra bem-aventurada a que a descreveram de Ynisvitrin – a ilha do vidro; e um dos nomes do reino dos mortos dos germânicos era Glasberg – terra do vidro. Também o Apocalipse se refere ao Mar de Vidro.
Por este motivo que em todos os relatos antigos para os visionários, havia pedras preciosas, ouro, luz intensa e prédios, edifícios de uma cor sobrenatural, e é claro, as paisagens existentes com muitas árvores de um verdor arrebatador, frutos de um intenso brilho e cor, e dos rios azuis lindíssimos que banham estes paraísos. Estes atributos encontrados nestas visões elevavam a mente, para um êxtase ou arrebatamento da alma. A descrição a seguir, mostrará que os homens se influenciaram com estes relatos, condicionando na arquitetura de templos, igrejas, entre outros edifícios, vidraças coloridos, peças de ouro, prata de um polimento que enleva os circunspectos que os frequentam. Deixarei para citar, em outro momento particular, o que o livro, nos esclarece sobre a iniciativa de se utilizarem, pedras, peças polidas, vidros etc., nos diferentes edifícios, inclusive, nas visões em que há discrições do mesmo. Mas agora, farei uma explanação citatória, referente às paisagens na concepção do autor e de William Blake, “Blake, por exemplo, viu paisagens visionárias “de uma perfeição que vai além de tudo o que a Natureza mortal e transitória possa produzir” e “infinitamente mais perfeitas e ordenadas que quaisquer coisas jamais vistas por olhos humanos”. Eis uma descrição desse panorama visionário, feita por Blake em uma das reuniões em casa da sra. Aders: “Outro dia, à tardinha, andando a pé, cheguei a um prado e vi, em seu canto mais afastado, um curral de ovelhas. Num plano mais próximo, o solo estava coberto de flores; e tanto o curral repleto de juncos como seus lanudos inquilinos possuíam uma estranha beleza pastoral. Mas, quando voltei a olhar, já não havia mais rebanho vivo, e sim belas esculturas”. Representada com o auxilio das tintas, essa visão poderia, creio eu, lembrar a beleza inexcedível de um dos mais vigorosos esboços a óleo de Constable, que representa um animal no mágico estilo realista do carneiro aureolado de Zurbarán, hoje exposto no Museu de San Diego. Mas Blake jamais produziu qualquer coisa que, mesmo de longe, lembrasse um tal quadro. Ele se contentava em falar e escrever sobre os panoramas que divisava em suas visões e em se concentrar em seus desenhos do Querubim”. (págs. 115 – 116).
Mais a frente fará algumas elucubrações sobre alguns artistas que pintavam paisagens ou que enfim, que estas pinturas causavam enlevo, dos quais cita, Rousseau o Aduaneiro, de paisagens Sung, de longínquas montanhas, nuvens e torrentes [...]. Cita ainda, Claude Monet, sobre a obra os Nenúfares, quando conversava com Roger Fry – dizendo – “de serem tão horrivelmente desordenados, tão desprovidos de um plano de composição adequado. Estavam totalmente errados, do ponto de vista artístico. E, no entanto, ele se via forçado a admitir, e no entanto... E no entanto, devo acrescentar agora, eles eram arrebatadores”. (pág. 120).
O autor para finalizar o livro, faz um antagonismo diante dos fenômenos visionários. Se existem por um lado à visão do paraíso, por outro lado, ocorrerá para alguns a experiência angustiante do inferno. “Só me dediquei, até este momento, à experiência visionária bem-aventurada, a sua interpretação em termos de teologia e a sua tradução em arte. Mas nem sempre essa experiência é celestial. Por vezes ela é terrível. Há inferno do mesmo modo com há céu. [...]. A partir de então ele o autor fará um comentário sobre uma paciente de esquizofrenia, “mas a pobre Renée – a vitima da esquizofrenia – a iluminação é infernal: um intenso clarão elétrico sem uma sombra, ubíquo e implacável. Tudo o que, para o visionário são, é uma fonte de alegria, traz a Renée tão-somente pavor e um tétrico sentimento de irrealidade. O sol estival é maligno; o brilho das superfícies polidas não sugere gemas, e sim maquinaria e chapas esmaltadas; a intensidade de existência que anima cada objeto, quando examinado de perto e abstraído seu aspecto utilitário, é sentida como uma ameaça. E há, ainda, o horror infinito. Para o visionário são, a percepção do infinito em um finito particular é uma revelação de sublime imanência; para Renée, isso era uma comprovação do que ela chama o sistema – vasto mecanismo cósmico, que existe unicamente para produzir crime e castigo, solidão e irrealidade”. (pág. 124).
[...] A experiência visionária negativa é, frequentemente, seguida de sensações corpóreas de natureza bastante especial e característica. As visões felizes são, via de regra, associadas a uma sensação de separação do corpo, a um sentimento de despersonalização. (É, sem dúvida, esse sentimento que possibilita aos índios que praticam o culto do peiote usar a droga, não apenas como um atalho para atingir o mundo das visões, mas também como instrumento para criar uma solidariedade afetiva dentro do grupo de participantes.) Mas, quando as experiências visionárias são terríveis e o mundo se transfigura para pior, a individualização é intensificada e o visionário negativo sente-se preso a um corpo que parece tornar-se cada vez mais denso, mais comprimido, até que acaba por sentir-se reduzido à condição de torturada consciência de um aglutinado de matéria compacta, não maior que uma pedra que pudesse ser contida entre as mãos. Um pouco mais à frente nas próximas páginas, Huxley irá explanar sobre o tema inferno, com suas peculiaridades, que são o castigo e a opressão. Citará os pecadores de Dante que eram enterrados na lama, encerrados em troncos de árvores, aprisionados em blocos de gelo. (pág. 126). Ele comentará, que o inferno que sofreram, era psicologicamente verdadeiro; e dirá que muitas das punições que sofreram são experimentadas pelos esquizofrênicos. Não me alongarei sobre o assunto, pois oportunamente o quero citá-lo integralmente para um post posterior, com o tema: “o pecador arrependido e o fariseu”, mas, para encerrar o assunto desta última parte, ele faz uma análise do virtuoso, que é o racionalista e moralista, o associando ao fariseu. Justificando que, “o fariseu é um homem virtuoso; mas sua virtude é de uma espécie compatível com as emoções negativas. Suas experiências visionárias têm, pois, maiores possibilidades de serem infernais que bem-aventuradas”. (pág. 127).

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Devemos cumprir bem as nossas obrigações

Senhor Jesus Cristo; Artigo; Evangelho
Que o homem sempre esteja em dívida com o Senhor, e por mais que faça no Seu serviço, as suas ações não passam de uma pobre correspondência aos dons divinos. O orgulho diante de Deus não tem sentido numa criatura. O que aqui nos pede Jesus, melhor do que ninguém fez a Virgem Maria, ao respondeu diante do anúncio divino: “Eis a escrava do Senhor” (Lc 1, 38). Ela se reconhece na expressão: “Somos servos inúteis, fizemos apenas o que devíamos fazer”.
O que fazemos é reconhecer, afetuosa e alegremente, o nosso nada e o nosso pecado, ditosos de assim proclamar a plenitude e santidade do ser divino. Daqui nascem aqueles sentimentos de adoração, louvor, temor filial e amor; daqui, aquele grito do coração: “Tu és Santo, tu é o Senhor, tu és o Altíssimo!”
Estes sentimentos brotam do coração, não somente quando estamos em oração, mas ainda quando contemplamos as obras de Deus, obras naturais em que se refletem as perfeições do Criador, obras sobrenaturais, em que os olhos da fé nos descobrem uma verdadeira semelhança, uma participação da vida divina.
Temos só um dever na terra: cumprir bem a nossa obrigação. Apesar de ser uma simplificação muito fácil, esse modo de dizer ensina que temos de ser responsáveis por aquilo fazemos. E aquilo que fazemos dirá aos outros quem somos.
Assim como o empregado que sabe o que tem de fazer e faz. Faz, porque tem de fazer e pronto. A cozinheira responsável faz bem a comida e não precisa ficar esperando elogios. Se os elogios vierem, graças a Deus! Mas se não vierem, ela já cumpriu com a sua obrigação.
Os elogios, quando sinceros, têm a vantagem de mostrar que acertamos. Podem ser elogios diretos ou indiretos. Elogio direto vem com palavras de aprovação; e os elogios indiretos podem vir com gestos de aprovação, como é o caso da comida da cozinheira; se todos comem e repetem, é um sinal de que a comida estava boa. Como nossa vida é bastante complexa, como somos seres superiores, temos também, por natureza, muitas obrigações; não apenas obrigações de trabalho, mas de religião. Por isso, se somos cristãos, precisamos respeitar as exigências inerentes a nossa fé.
Temos obrigações sociais. Por isso, se queremos conviver bem com as pessoas, precisamos descobrir quais são nossas obrigações para com elas e tentar uma convivência responsável. Temos obrigação para conosco mesmos. Por isso, precisamos cuidar da nossa saúde, da saúde do corpo e da saúde da alma. E assim por diante.
Mesmo se estivéssemos sozinhos no mundo, ainda assim não estaríamos livres de obrigações. Mas quem entende a si mesmo e percebe suas relações com o mundo e com as pessoas, não encara as obrigações como um peso e sim com uma realidade de vida, que pode lhe fazer felizes.
Convido você a rezar comigo: “Deus, meu Pai, uma coisa que eu gostaria de ouvir de Vós, quando chegar ao Céu, é esse elogio: ‘Tu cumpriste a tua obrigação. Entre na alegria do Teu Senhor!’ Mas para eu receber esse elogio preciso muito da Vossa ajuda. Preciso saber distinguir a Vossa vontade, para não cair no engano de só fazer a minha. Jesus de Nazaré tinha um único objetivo: fazer a Vossa vontade. Assim Ele disse, e assim Ele cumpriu até o fim de Sua vida, quando, pregado na cruz e já sem forças exclamou: TUDO ESTÁ CONSUMADO. Depois, porém, num último esforço, entregou Seu Espírito em Vossas mãos, num gesto de submissão total. Ele fez tudo bem feito. Ele cumpriu Sua obrigação. Pai Santo, dê-me a graça de cumprir bem – como Cristo – a minha missão para que, alegremente, eu mereça receber o grande elogio: ‘Vinde benditos do meu Pai, pelo dever cumprido’. Amém”.


Padre Bantu Mendonça

Referência: 
Fonte: https://homilia.cancaonova.com/homilia/devemos-cumprir-bem-as-nossas-obrigacoes/

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

ANDEMOS NO ESPÍRITO

Evangelho, Artigo
"Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou". (1 João 2: 27).

O Senhor Jesus Cristo não instituiu nenhuma religião, denominação ou instituição com ritos e formalidades meramente humanos. Viveu a liberdade em sua plenitude, não estava subjugado a nenhuma regra política ou religiosa. Desmitificou todos os paradigmas religiosos da época, confrontando a superficialidade da forma (rito judaico), utilizado com intuito de ludibriar e se apropriar das 'pessoas'; o Senhor acerca disso nos adverte com o texto: (Lucas 20: 7, 6) "Tenham cuidado com os doutores da Lei. Eles fazem questão de andar com roupas compridas, e gostam de ser cumprimentados nas praças públicas. Gostam dos primeiros lugares nas sinagogas e dos postos de honra nos banquetes. Que devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Eles receberão castigo mais rigoroso". E acrescentou: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim o que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, esse entrará no Reino dos Céus. Muitos me dirão, naquele dia: Senhor, Senhor, não é assim que profetizamos em teu nome, e em teu nome expelimos os demônios, e em teu nome obramos muitos prodígios? E eu então lhes direi, em voz bem inteligível: Pois eu nunca vos conheci; apartai-vos de mim, os que obrais a iniquidade". (Mateus 7: 21, 23).
Jesus Cristo - O Rei dos reis e Senhor dos senhores ao invés de vangloriar-se (pois tinha direito, pois é Deus), se humilhou para ser exaltado, sendo Servo e servindo aos mais necessitados e desfavorecidos, entregando-se a morrer injustamente por nossos pecados - Ele com todas as prerrogativas de Filho de Deus, agiu assim, muito mais nós símplices mortais não deveríamos seguir seus muitos exemplos, de valores verdadeiramente edificantes como a simplicidade, humildade, mansidão e, principalmente de entrega no serviço?
Não paramos para refletirmos que as ocasiões que nos fazem sermos mais egoístas e menos amáveis com nossos semelhantes, é o amor às riquezas deste mundo? Quando isso acontece, nos tornamos mais carnais e egoístas, e tudo que discerne as Escrituras Sagradas ficam embotadas. Um exemplo disso é, quando interpretamos erroneamente a palavra "igreja" sem à luz da espiritualidade; a fazemos sobre uma estrutura ou ambiente físico. Igreja conforme o Evangelho de Cristo, somos nós, que servimos e somos guiados pelo seu Espírito, pois a Palavra nos diz: "Não sabei vós que sois templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós é santo" (1 Cor 3.16, 17). "Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei. Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam".(Gal 5. 16, 21).
Deste modo a concluir, deixo claro que meu Pastor e meu guia é o Espírito Santo e não homens (carne) sujeitos às paixões e aleivosias [...]. Se seguirmos os homens, desprezaremos a Deus e tropeçaremos, inclusive se seguirmos a doutrinadores religiosos com segundas e terceiras intenções. "Ai deles, porque andaram pelo caminho de Caim e, pelo amor do lucro, caíram no erro de Balaão e pereceram na revolta de Coré! Eles são a vergonha de vossos banquetes. Banqueteiam-se convosco sem vergonha nenhuma, apascentando-se a si mesmos. São nuvens sem água arrastadas pelo vento. São árvores no fim do outono sem fruto algum, duas vezes mortas, sem raízes. São ondas furiosas do mar, que lançam a espuma de suas impurezas. Astros errantes, aos quais está reservada a escuridão das trevas para sempre. É deles que Henoc, o sétimo patriarca desde Adão, profetizou, dizendo: “Eis que vem o Senhor com suas santas miríades, para exercer um juízo contra todos e convencer todos os ímpios de todas as impiedades que praticaram e de todas as palavras duras que os pecadores ímpios falaram contra ele”. São murmuradores, queixosos, que andam segundo suas paixões, cuja boca fala arrogâncias e que adulam as pessoas por interesse.
Programa de vida cristã. Vós, caríssimos, lembrai-vos do que foi predito pelos apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eles vos diziam: “No final dos tempos haverá zombadores que andarão segundo seus ímpios desejos”. Estes são os que fomentam as divisões. Vivem à mercê dos instintos, e não têm o Espírito". (Jd 1. 11, 19).

TIAGO A. VITTI

Como a Páscoa afeta nossa visão da vida?

Psicólogo fala sobre o impacto da Páscoa e da vivência da fé na saúde psíquica do ser humano

Para a maioria das pessoas que vivem no ocidente e boa parte do oriente a Páscoa é uma festa que faz parte do calendário oficial e celebra a ressurreição de Cristo, é considerada por muitos como a principal celebração cristã. Jesus Cristo sofreu a dor da traição e carregou sobre si os pecados da humanidade, foi crucificado, experimentando uma morte violenta e no terceiro dia ressurgiu do mundo dos mortos, venceu a morte e apareceu aos seus amigos instaurando um novo tempo na história da humanidade que se dividiria em antes e depois deste acontecimento. Veríamos a vida da mesma forma se não fosse o acontecimento da ressurreição de Cristo? Certamente que não. O fato de a humanidade ter evoluído na construção de parâmetros pacíficos de convivência, no desenvolvimento do direito, na ideia de amor ao próximo e no respeito às diversidades ao longo dos últimos dois milênios, estaria relacionado de alguma forma à ressurreição de Cristo? Não apenas à ressurreição, mas à Sua existência que culminou com a ressurreição. Hoje, quando os cristãos celebram a quaresma e a semana santa em preparação para a Páscoa, experimentam o exercício da disciplina, realizando jejuns e oferecendo sacrifícios de atitude, deixando de fazer algo que gostam ou de comer algo que gostam, ou até mesmo realizando atos de caridade em prol de alguém, é um tempo de um exercício de fé. Embora o objetivo seja espiritual e religioso, esta vivência pode afetar a vida das pessoas de forma muito positiva.

Fé e Saúde Psíquica


Vivemos em um tempo de individualismos, orquestrado pelo poder do tempo, onde as pessoas precisam fazer o máximo em menos tempo possível. As tecnologias não deixam de nos lembrar a todo instante que há alguém visualizando algo sobre nós, ou chamando nossa atenção, sejam os amigos, familiares e colegas ou sejam os anúncios publicitários, as abordagens comerciais e políticas ou as notícias e programas de entretenimentos com os quais nos identificamos, ou até mesmo os eventos esportivos que gostamos, sem falar dos apelos que nossa mente nos faz para adquirirmos este ou aquele presente para compensar nosso trabalho duro e falta de tempo para nós mesmos. Mas, de alguma forma as pessoas acreditam em algo que transcenda toda esta corrida maluca que empreendem todos os dias e é por isso que celebrar a Páscoa faz sentido para a saúde psíquica.
O fato intrigante para a comunidade científica, muitas vezes descrente, que se revela no Santo Sudário é um sinal contundente de que algo extraordinário aconteceu e que os cristãos creem ter sido a ressurreição de Cristo. Este acontecimento com marcas históricas e religiosas convida as pessoas a uma experiência de autotranscendência. Uma pessoa que consegue parar durante alguns dias e meditar sobre o sentido de sua vida em uma perspectiva de esperança para o futuro poderá enfrentar com muito mais eficácia os desafios do dia-a-dia. As pesquisas no campo da psicologia da religião nos revelam que as pessoas com fé apresentam maior propensão a superar problemas psíquicos e até mesmo biológicos, assim podemos encontrar no fato religioso da Páscoa um motivo a mais para enfrentarmos os problemas do presente e nos projetarmos com esperança para o futuro a ser construído.

Experimentando uma Vida Nova

De fato, os maiores problemas psicológicos estão relacionados em como as pessoas enfrentam os problemas do presente que muitas vezes estão relacionados ao passado. Criamos um modo de vida tão voltado para as coisas materiais e perecíveis que temos dificuldade para nos projetarmos para o futuro sem considerarmos as possibilidades de nossa morte, ou da perda dos bens materiais. Constantemente, pessoas se aproximam dos consultórios psicológicos se queixando de que a vida parece não ter sentido porque não conseguem se projetar para o futuro. A ressurreição de Cristo, por um lado, celebrada pelos cristãos, representa que não importa qual a situação em que se encontra um ser humano, nada poderá lhe privar de sua esperança, pois nem mesmo a morte que representa o maior sofrimento para a existência humana é capaz de ditar o fim último de uma vida, pois ela foi vencida pela ressurreição de Cristo.
Não é possível saber cientificamente tudo sobre a realidade humana, muito menos sobre a realidade religiosa e espiritual, mas o que sim sabemos é que quando as pessoas têm esperança no futuro, elas se tornam mais leves, elas são capazes de sorrir, de se sentirem livres e isto as possibilita realizar seus projetos, construir laços afetivos saudáveis, até mesmo amar sem ter medo de não ser correspondido. Certamente há muitas pessoas ao redor do globo que não são cristãs e não conhecem o fato da ressurreição, mas para os que creem não se pode dizer que este acontecimento passe despercebido e não possa gerar frutos positivos para a saúde psíquica. Se a morte pode, de alguma forma ser vencida, e o caminho ensinado por Cristo para vencê-la foi a vivência do amor, então porque não empreender todas as nossas forças para viver o amor em nossas vidas? Se até mesmo as religiões não cristãs pregam este amor, e se de alguma forma experimentamos que o amor é realmente algo bom para nós, o que teríamos a perder se nos empenhássemos nesta busca?


*Por Élison Santos* Élison Santos, Psicólogo e Palestrante. Atende adultos e adolescentes e é Terapeuta de Casais em São José dos Campos. Realiza aconselhamento psicológico Online através do Skype. É especialista em Análise Existencial e Logoterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Curitiba.

Fonte: https://noticias.cancaonova.com/mundo/como-pascoa-afeta-nossa-visao-da-vida/

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Primeira parte: AS PORTAS DA PERCEPÇÃO.

As portas da percepção

A RELAÇÃO ENTRE O CRISTIANISMO (IGREJA AMERICANA NATIVA) COM O PEIOTE (Págs. 70-73).

O impulso para superar a personalidade autoconsciente é, como já disse, um anseio capital da alma. Quando, seja por que razão, os seres humanos veem baldados os seus esforços para superarem a si mesmos pelo culto, pelas boas ações e pela atividade intelectual, tornam-se propensos a recorrer às drogas substitutas da religião – o álcool e as “pílulas inocentes” no moderno Ocidente, o álcool e o ópio no Oriente, o haxixe no mundo maometano, o álcool e a maconha na América Central, o álcool e a coca nos Andes, o álcool e os barbitúricos nas regiões mais adiantadas da América do Sul. Em Poisons sacrés, evresses divines [Venenos sagrados, êxtases divinos], Philippe de Félice escreveu exaustivamente, e com riqueza de documentação, sobre os laços imemoriais que ligam a religião à ingestão de drogas. A seguir, ora resumindo, ora transcrevendo, apresento suas conclusões: 
O emprego, para fins religiosos, de substâncias tóxicas, é “extraordinariamente difundido [...] As práticas estudadas neste volume podem ser observadas em qualquer região da terra, tanto entre povos primitivos como no seio daqueles que já atingiram um elevado índice de civilização. Não estamos, pois, lidando com fatos excepcionais que poderiam ser, com razão, postos à margem; mas com um fenômeno geral e, dentro da mais ampla acepção da palavra, humano; com um tipo de fenômeno que não pode ser desprezado por quem quer que busque descobrir que é a religião e quais as necessidades profundas a que ela tem de satisfazer”.
Teoricamente, cada um de nós deveria ser capaz de encontrar a autotranscendência a partir de uma forma de religião pura ou aplicada. Mas, na prática, parece ser sumamente improvável que esse anseio pelo apogeu seja algum dia realizável. Há (e é fora de dúvida que sempre houve) homens e mulheres virtuosos e pios, para quem, infelizmente, apenas a piedade não basta. O falecido G. K. Chesterton, que escrevia com lirismo idêntico tanto sobre a bebida quanto sobre a fé, pode servir de eloquente exemplo desse grupo.
As igrejas modernas, excluídas umas poucas seitas protestantes, toleram o álcool; no entanto, mesmo as mais tolerantes jamais procuram converter a bebida ao Cristianismo – isto é, sacramentar seu uso. O pio alcoólatra vê-se forçado a manter, em compartimentos estanques, sua religião e seu substituto para ela. E talvez isso seja inevitável. A bebida não pode ser incluída na liturgia, a não ser nas religiões que não dêem valor ao decoro. O culto de Baco ou da divindade celta da cerveja eram festins ruidosos e dissolutos. Os ritos Cristãos são incompatíveis com a embriaguez, ainda que de cunho religioso. Isso não prejudica os fabricantes de bebidas, mas é muito mau para o Cristianismo. Um sem-número de pessoas deseja experimentar a autotranscendência, e gostaria de encontra-la no tempo. Mas “as ovelhas famintas voltam-se para o céu e não são atendidas”. Tomam parte nos ritos, escutam os sermões, repetem orações; mas sua sede não se aplaca. Desapontadas, voltam-se para a garrafa. Ao menos por certo tempo, e de certa forma, encontram o que querem. A igreja pode continuar a ser frequentada; mas já não será mais do que o Banco Musical do Erewhon* de Butler. (*Erewhon, anagrama de nowhere (“lugar algum”), é o título abreviado de uma novela fantástica de Samuel Butler, escrita em 1872, que descreve um país cujo povo vira-se obrigado a destruir todas as máquinas para não ser por elas destruído). Deus pode continuar a ser reconhecido como tal, mas Ele só será concedia divindade no campo verbalístico, apenas em sentido estritamente figurado. O verdadeiro objeto de culto é a garrafa, e a única experiência religiosa é aquele estado de desregramento e belicosa euforia que se segue à ingestão do terceiro aperitivo.
Vemos, pois, que o Cristianismo e o álcool não se misturam nem poderiam fazê-lo. Já não há tanta incompatibilidade com relação à mescalina. Isso tem sido demonstrado por várias tribos de índios, desde o Texas até o Estado de Wisconsin. Entre essas tribos, encontram-se algumas tribos filiadas à Igreja Americana Nativa, seita cujo principal rito é uma espécie de Ágape Cristão Primitivo ou Festa do Amor, em que fatias de peiote substituem o pão e o vinho do sacramento. Esses índios americanos encaram o cacto como preciosa dádiva de Deus aos índios e consideram seus efeitos manifestação do divino Espírito.
O professor J. S. Slotkin – um dos pouquíssimos homens brancos que, até hoje, participaram dos ritos de uma congregação peiotista – relata, falando de seus companheiros de ritual, que eles “em absoluto ficam narcotizados ou embriagados [...] Jamais perdem o ritmo ou balbuciam, como aconteceria com indivíduos inebriados pelo álcool ou por estupefacientes [...] São todos calmos, corteses e respeitam-se uns aos outros. Jamais estive em qualquer templo de homens brancos onde pudesse encontrar tanto respeito e religiosidade”. Poderíamos perguntar: “Que estariam esses devotos e bem-comportados peiotistas sentindo?”. Claro que não há de ser o brando sentimento de virtude que embala o comum dos frequentadores do ofício dominical, durante noventa minutos de solidão. Nem mesmo esses fervorosos sentimentos, inspirados pelo Criador, no Redentor, no Juiz e no Espírito Santo, que animam os piedosos. Para esses membros da Igreja Americana Nativa, a experiência religiosa é algo de mais direto e esclarecedor, de mais espontâneo, e tem muito menos de produto imperfeito da mente superficial e restrita. Por vezes (ainda segundo as observações colhidas pelo dr. Slotkin) têm visões que podem ser até do Próprio Cristo. De outras, escutam a voz do Grande Espírito. Ainda em outras se apercebem da presença de Deus, bem como de suas falhas pessoais, as quais terão de ser corrigidas para que possa ser cumprida Sua Vontade. As consequências práticas dessa abertura química das Portas para o Outro Mundo parecem ser excelentes. O dr. Slotkin testemunha que os peiotistas habituais são, em geral, mais diligentes, mais temperantes (muitos são completamente abstêmios) e mais pacíficos que os não-peiotistas. Uma árvore que apresente frutos tão bons não pode ser condenada como maléfica. Ao sacramentar o uso do peiote, os índios da Igreja Americana Nativa fizeram algo que é, a um só tempo, psicologicamente correto e historicamente respeitável. Nos primeiros séculos do Cristianismo, muitos ritos e festas pagãos foram, por assim dizer batizados e postos ao serviço da Igreja. Essas festas não tinham nada de edificantes, mas aliviavam uma certa fome psicológica; e, em vez de tentar suprimi-las, os primeiros missionários tiveram o bom senso de aceitá-los pelo que de útil possuíam – e incorporá-las ao código da nova religião. [...].

Primeira parte: AS PORTAS DA PERCEPÇÃO.

As portas da percepção

No limiar do pânico e da lucidez (Págs. 59-60).

“[...] Diante de uma cadeira que parecia um Juízo Final – ou, para ser mais preciso, ante um Juízo Final que, depois de longo tempo e com considerável dificuldade, pude reconhecer como sendo uma cadeira -, eu me senti, de uma hora para outra, no limiar do pânico. Aquilo, percebi repentinamente, estava indo muito longe. Longe demais, muito embora marchasse para uma beleza sempre maior, para um sentido cada vez mais profundo. O temor, analisando-o retrospectivamente, foi o de me ver esmagado, desintegrado sob uma pressão de realidade muito superior à que uma mente, acostumada a viver a maior parte do tempo em um confortável mundo de símbolos, talvez pudesse suportar. Na literatura da experiência religiosa, abundam referências aos sofrimentos e terrores que esmagam os que se defrontam, com demasiada rapidez, face a face com qualquer manifestação do Mysterium Tremendum. Em uma linguagem teológica, esse temor é função da incompatibilidade entre o egotismo do homem e a pureza divina; entre a mesquinhez auto agravada do homem e o Deus Infinito. Segundo Boheme e William Law, podemos dizer que a Divina Luz, em toda a sua intensidade, só pode ser percebida pelas almas pecadoras sob a forma de chamas do purgatório. Doutrina praticamente idêntica é a exposta no livro tibetano dos mortos, pelo qual a alma que que desprega foge atormentada da Serena Luz do Vazio, e até mesmo das Luzes menos intensas, indo lançar-se, precipitadamente, na confortadora escuridão da personalidade, reencarnando-se em um recém-nascido, transformando-se até em animal, em um infeliz fantasma ou indo ter ao inferno. Há de preferir qualquer coisa ao ígneo refulgir da implacável realidade – qualquer coisa!”.

Primeira parte: AS PORTAS DA PERCEPÇÃO.

Evangelho, Marta e Maria, Artigo

Os contemplativos e os ativos (Págs. 47-50).

[...] E, entretanto, minha pergunta continuava sem resposta. Como conciliar essa percepção aguçada com uma justa preocupação pelas relações humanas, com os deveres e as tarefas inadiáveis, para não mencionar a caridade e a piedade atuantes? A velha disputa entre ativos e contemplativos estava sendo renovada – e renovada, creio eu, com uma violência sem precedentes. Pois, até aquela manhã, eu só conhecera a contemplação sob suas formas mais humildes e encontradiças – a divagação do pensamento; a arrebatada abstração na poesia, na pintura ou na música; a paciente espera pela inspiração, sem a qual mesmo o mais prosaico escritor não pode pretender realizar coisa alguma; como vislumbres acidentais da natureza “de algo muito mais profundamente interligado”, no dizer de Wordsworth; como o silêncio sistemático que leva, por vezes; à noção de um “obscuro saber”. Mas, desta feita, conheci a contemplação em sua pujança. Em sua pujança, sim, mas não em toda a sua plenitude. Pois, quando esta é atingida, a estrada que leva a Maria inclui a de Marta* (*Marta e Maria, irmãs de Lázaro, citadas no Novo Testamento, Evangelho de São Lucas. Nas alegorias cristãs, Marta simboliza a vida ativa; Maria, a contemplativa.) e eleva a contemplação, por assim dizer, a seu mais alto poder. A mescalina nos abre o acesso a Maria, mas fecha a porta que leva a Marta. Ela nos permite chegar à contemplação, mas a uma contemplação que é incompatível com a ação. Nos intervalos entre suas revelações, quem toma mescalina é capaz de sentir que, embora de certo modo tudo tenha a sublimidade que devera ter, por outro lado há nisso qualquer coisa de errado. [...]. “[...] O Pai Nosso contém menos de cinquenta palavras, e seis delas são dedicadas a pedir a Deus que não nos deixe cair em tentação. O contemplativo-passivo deixa de fazer muitas coisas que teria de realizar; mas para se dispor a uma tal atitude, ele precisa abster-se de praticar uma série de ações que não deveriam ser levadas a efeito. O mal, acentuou Pascal, seria muito diminuído se os homens aprendessem a permanecer serenamente em seus aposentos. Mas o contemplativo cuja percepção haja sido esclarecida não precisará permanecer encerrado em seus aposentos. Poderá sair para seus afazeres, tão perfeitamente satisfeito em contemplar e em ser uma parte da divina Ordem das Coisas, que nunca ver-se-á tentado a entregar-se ao que Traherme chamou de “impuros Artifícios do mundo”. Quando nos sentimos como se fôssemos os únicos herdeiros do universo, quando “o mar corre em nossas veias (...) e as estrelas são nossas joias”, quando todas as coisas parecem infinitas e sagradas , que motivos poderemos ter para a cobiça ou a soberba, para fome de poder ou para as formas mais doentias de prazer? Os contemplativos não são propensos a se tornarem jogadores, alcoviteiros ou ébrios; como regra, não pregam a intolerância nem promovem guerras; não são levados ao roubo, à fraude ou à opressão dos fracos. [...].

segunda-feira, 31 de julho de 2017

As portas da percepção: Céu e inferno. Primeira parte: AS PORTAS DA PERCEPÇÃO. Obra: 1954.

Aldous Huxley, livros
As portas da percepção, para quem não o (a) leu na integra ou na sua resenha, ele se trata da descrição do próprio autor do livro, Aldous Huxley sobre sua experiência de ingestão de mescalina. Huxley, “foi um escritor inglês e um dos mais proeminentes membros da família Huxley”. Enfatizo que não é minha intenção fazer qualquer discurso a favor ou contra o uso das drogas, (minhas convicções guardo-as comigo), mas sim, com o objetivo de fazer uma exposição pertinente a respeito do livro. Outro ponto que é preciso informar para os desinformados que Huxley não foi um apologista das drogas; no sentido a utilizá-las a fim de alienar-se do mundo (hedonismo), ou para experimentar uma “conversão mística”. Conforme no prefácio, o resenhista esclarece na citação: “Huxley fez do excesso da sabedoria e de curiosidade um caminho para o palácio do êxtase: é a razão que, percebendo sua insuficiência perante a pluralidade do mundo, busca uma abertura para novas formas de percepção que sejam uma alternativa ao solipsismo (essa perversão do idealismo) e ao behaviorismo (perversão do empirismo). (Prefácio, pág. 13).
Portanto, ele não foi um aficionado a drogar-se para obter prazer ou para a fuga da realidade como salientado acima, no entanto, buscou ter uma experiência para expandir a percepção da consciência. Muitos de nós na nossa consciência não alterada, sem o efeito psicoativo, no caso agora, especificamente da mescalina, não observamos as coisas, objetos naquilo que elas são de fato. Passando despercebidos, por não darmos valor como deveriam ser colocados, por nossos outros afazeres cotidianos são tidos como obsoletos que para o autor é o essencial nas suas sutilidades imperceptíveis que não são observados.
Comenta quando ingeriu, [...]. Que numa manhã de sol, “tomou quatro decigramas de mescalina, dissolvidos em meio copo d´água”. (Citação, pág. 24). A priori o que autor descreve, em sua experiência com mescalina, é que as tonalidades das cores tinham uma atração maior na percepção que nas formas geométricas. Na cadeira, nos livros, nas flores, ou nos quadros de pintura, (todos estes objetos considerados insignificantes, tornaram-se fascinantes). Cita também, vários pintores e suas obras, e as expõe com sua impressão, descrevendo as peculiaridades de cada obra artística. Muitos se perguntariam como ele conseguiu vislumbrar estas novas percepções? Na (página 32), Huxley explica sobre a válvula redutora, que são nosso cérebro e o nosso sistema nervoso, é ele que dificulta a abertura para o conhecimento de “outros mundos”: “De acordo com tal teoria, cada um de nós possui, em potencial, a Onisciência. Mas, visto que somos animais, o que mais nos preocupa é viver a todo o custo. Para tornar possível a sobrevivência biológica, a torrente da Onisciência tem de passar pelo estrangulamento da válvula redutora que são nosso cérebro e sistema nervoso. O que consegue coar-se através desse crivo é um minguado fio de conhecimento que nos auxilia a conservar a vida na superfície deste singular planeta”. Mais a frente ele explica que alguns indivíduos parecem ter nascido com uma espécie de desvio da válvula de redução, (página 33): “[...] algumas pessoas parecem ter nascido com uma espécie de desvio que invalida essa válvula redutora.
Em outras, o desvio pode surgir em caráter temporário, seja espontaneamente, seja como resultado de “exercícios espirituais” voluntários, do hipnotismo ou da ingestão de drogas”. O que ocorreu com Huxley após a ingestão da droga, foi que ele se tornou a parte de sua individualidade, o que se nomeia de despersonalização ou desindividualização. As coisas inerentes do dia-a-dia, que é comum a todos nós se tornaram irrelevantes naquele momento, era como se ele fosse o objeto que via. Na (pág. 43), ele comenta: “E, no entanto, um deles era minha esposa, e o outro, um homem que eu considerava e de quem muito gostava. Mas ambos pertenciam a um mundo do qual, naquela ocasião, a mescalina me havia tirado – o mundo dos personalismos, da dimensão tempo, dos julgamentos morais e das considerações utilitárias; o mundo – e era esse aspecto da vida humana que, acima de tudo, mais desejava esquecer – o mundo da autoafirmação, da convicção, da supervalorização da palavra e das noções idolatramente cultuadas”.

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