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quarta-feira, 4 de outubro de 2023

TRECHOS SELECIONADOS DE ALGUNS CAPÍTULOS: Jesus e a Logoterapia. O ministério de Jesus interpretado à luz da psicoterapia de Viktor Frankl (3ª Parte)

Livro; Jesus e a Logoterapia
Realizando valores criativos
Pedro (cf. Mt 16,13-19; Lc 22,31-34; 54-62)

Ao chegar à região de Cesárea de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?”
Eles responderam: “Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.”
Perguntou-lhes de novo: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”
Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu”. (Mt 16,13-19).
E o Senhor disse: “Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos”.
Ele respondeu-lhe: “Senhor, estou pronto a ir contigo até para a prisão e para a morte”. Jesus disse-lhe: “Eu te digo, Pedro: o galo não cantará hoje sem que, por três vezes, tenhas negado conhecer-me”. (Lc 22,31-34).


Apoderando-se, então, de Jesus, levaram-no e introduziram-no em casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia de longe. Tendo acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se e Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: “Este também estava com Ele”. Mas Pedro negou-o, dizendo: “Não o conheço, mulher”. Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: “Tu também és dos tais”. Mas Pedro disse: “Homem, não sou”. Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: “Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu”. Pedro respondeu: “Homem, não sei o que dizes”. E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: “Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes”. E, vindo para fora, chorou amargamente. (Lc 22,54-62).

A história de Simão Pedro é a história de uma transformação radical, o testemunho inequívoco do impacto exercido por Jesus sobre um homem. De forma ainda mais específica, porém, ela demonstra a mudança que pode ocorrer quando uma causa importante absorve a vida de um homem. Desde o início do relato, Pedro aparece como uma pessoa bem-intencionada, mas desajeitada; suas intenções são sempre boas, mas suas declarações impulsivas raramente se transformam em ação concreta. Qualquer que seja a impressão que tenhamos a respeito das tentativas de Pedro de caminhar sobre as águas (cf. Mt 14,25-33) ou de defender Jesus no Jardim do Getsêmani (cf. Jo 18,10-11), ele é representado como um homem de emoções intempestivas cujo coração está no lugar certo, mas cujas ações são frequentemente inoportunas. Rápido em afirmar sua lealdade, sua tríplice negação de que nem sequer conhecia Jesus, não obstante ter sido prevenido, foi típica de sua instabilidade quando posto sob pressão. No entanto, Pedro se tornou o porta-voz dos discípulos, era o líder do círculo interior dos mais próximos de Jesus e exerceu a liderança depois da morte e ressureição de Jesus (cf. At 1-5).

Podemos compreender a transformação na vida de Pedro principalmente em termos de missão que ele se comprometeu a cumprir. A tríplice investidura “Apascenta as minhas ovelhas”, registrada em Jo 21,4-19, destaca a consciência do propósito que o motivou de da morte de Jesus. Suas deficiências passadas diluíam-se diante das tarefas futuras que o aguardavam. É como se a ordem de Jesus no primeiro encontro com Pedro se tornasse o objetivo da sua vida: “Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4). [...]. Uma das teses fundamentadas de Frankl é que, diante de uma missão digna de ser realizada, a vida passa por uma transformação radical. Ele também sustenta que cada pessoa tem uma missão, uma tarefa de vida à sua espera. [...]. p. 95.

Essa atitude advogada por Frankl não pergunta o que o homem pode esperar da vida, mas sim o que a vida espera do homem. Falando de suas experiências nos campos de concentração, ele escreve:

Precisamos parar de perguntar sobre o sentido da vida, precisávamos pensar em nós mesmos como alguém que estava sendo questionado pela vida – a cada dia, a cada hora. Nossa resposta devia consistir em ação concreta, não em conversas e reflexões. No fim das contas, viver significa assumir responsabilidade de encontrar as respostas corretas para os problemas que a vida apresenta a realizar as tarefas que ela incessantemente atribui a cada um.

[...].

Já mencionamos que, para Frankl, a missão mais importante do homem consiste em encontrar um sentido para a vida. Uma das grandes contribuições que ele nos dá é a de explicitar como podemos encontrar esse sentido pessoal. Ele especifica três modos principais como podemos encontrar esse sentido pessoal: a realização de valores criativos, de valores experienciais e de valores atitudinais. No momento, concentramo-nos na primeira modalidade: valores criativos. O sentido na vida de uma pessoa realiza-se de modo mais imediato através do ato criativo, do envolvimento ativa na vida com a finalidade de contribuir por meio das realizações pessoais.

Quem já não sentiu a satisfação de um trabalho bem executado ou do alívio proporcionado pelo cumprimento de uma incumbência? E quem já não experimentou a depressão que se instala quando não há trabalho a ser feito, obrigação a ser cumprida, tarefa que requeira um potencial pouco usado? Frankl revela como o desejo de publicar a formulação básica da logoterapia ajudou a dar sentido à sua vida nos anos vividos nos campos de concentração. Pouco antes de entrar em Auschwitz, ele perdeu o manuscrito já concluído, mas no período em que ficou preso conseguiu reescrever os temas principais, em parte usando taquigrafia. Quando confinado ao seu beliche com febre tifoide elevada, ele escreveu no verso de formulários mimeografados, com o toco de um lápis, materiais furtados para ele por um dos colegas. Segundo ele, apesar da febre ardente, os pensamentos eram muito claros, e a versão final publicada sofreu poucas alterações com relação ao que ele escrevera. págs. 96-97.

[...].

É claro que aceitar a responsabilidade de executar tarefas de vida, de realizar valores criativos, requer uma etapa intermediária: alguém precisa apresentar o desafio! É evidente que Jesus via seu ministério nesses termos. Ele sempre oferecia um desafio às pessoas que encontrava. Às vezes, esse desafio estava implícito na maneira descrita pelo dramaturgo em “The Passing of the ‘Third Floor Back’”, a peça em que um pensionista desconhecido, ocupando o quarto dos fundos no terceiro andar de uma pensão decadente, afeta de tal forma a vida dos demais pensionistas, a ponto de evocar o melhor do ser de cada um deles e produzir uma mudança radical em suas vidas. Com mais frequência, pelo menos na narrativa evangélica, Jesus apresentava o desafio de modo incisivo: “Vai! Vende! Dá! Vem! Segue!”. Para Simão Pedro, o desafio foi, a um só tempo, uma afirmação e uma esperança: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas;... tu és Pedro [isto é, pedra, do grego petros]” (Mt 16,17-18).

[...].

O senso de indignidade inicial de Pedro está muito bem descrito no relato. Veja, por exemplo, o que ele disse no primeiro contato com Jesus: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!” (Lc 5,8). E pense na cena vivida no pátio da casa do sumo sacerdote onde Pedro negou conhecer Jesus três vezes, cada vez com mais veemência, à medida que a consciência lhe ia pesando mais; depois, cruzando o olhar de Jesus, e ouvindo o galo cantar, ele compreendeu o que havia feito, e então “saiu e chorou amargamente”. Mas Pedro descobriu que o fracasso não era o fim de tudo. Mesmo que não pudesse voltar atrás, ele podia redimir seu passado mudando a si mesmo. Ele jamais poderia apagar o fato de fracassar no momento de crise, mas podia expiar o fracasso tornando-se outro homem, mudando de vida. Nas palavras de Frankl, ele podia desvincular-se do seu ato, distanciando-se dele moralmente. Demonstra-se arrependimento verdadeiro mudando de vida. A mudança de Pedro transparece claramente na história subsequente da Igreja Cristã primitiva. Transparece igualmente que ele fora ajudado a superar seu fracasso. págs. 99-100.

[...].

Muitos em nossos dias ficam confusos com as exigências do sucesso. Ensinados por nossa cultura que “tudo que vale a pena fazer, vale a pena fazer bem”, muitos caem facilmente na armadilha de concluir que o único resultado permitido é o do sucesso. Embora essa exigência de sucesso raramente tenha qualquer validade objetiva, apesar de raramente ser imposta por alguém, ela não obstante opera, em muitas vidas, com uma eficácia fatal. [...]. Uma característica de Jesus era que o apoio emocional que ele oferecia tão livremente era sempre honesto em sua avaliação e sincero em sua franqueza. Ele não se sentia coagido a abrandar os fatos em favor do apoio a uma autoestima abalada. Conhecendo o temperamento de Pedro, ele mostrou como era fácil externar protestos de lealdade quando cumpri-los seria algo bem diferente. [...].

É uma verdade universalmente aceita que relacionamentos pessoais verdadeiros devem ser abertos e honestos. Era importante Jesus falar abertamente a Pedro a respeito de profissões de lealdade demasiado espontâneos, mas não só importante; era também desejável que a relação deles fosse suficientemente livre para possibilitar a expressão de aspectos menos agradáveis. Quando Jesus criticou o sonolento Pedro, que não conseguiu manter-se acordado durante a crise pessoal de Jesus no Horto das Oliveiras, ele podia falar sobre o fato livremente. Esse tipo de liberdade demonstrada por Jesus em tantos dos seus relacionamentos está recebendo destaque em muitos escritos atuais como um aspecto fundamental na terapia. Paul Tournier escreve sobre a importância de uma liberdade nas relações humanas que permita uma expressão aberta de sentimentos genuínos.

Percebi que, adotando um tom mais pessoal, eu ajudava outros a se tornarem mais pessoais, não apenas no consultório, mas em conversas comuns na rua, no serviço militar e numa conferência médica. Compreendi como os homens anseiam por esse contato verdadeiro do qual brota nova vida para soprar como brisa livre entre nós e dentro de nós.

[...]. Frankl comenta um caso semelhante em seu livro:

A agressividade do terapeuta indica sua disposição de encontrar o paciente num nível de homem para homem, colocando-se no mesmo nível do paciente... Demonstrou ao paciente que ele era considerado com seriedade, como uma pessoa responsável por sua ação – em outras palavras, como uma pessoa que devia estar pronta para assumir responsabilidade.

Seguramente, o relacionamento de Jesus com Pedro (e, na verdade, com todos aqueles com quem ele convivia mais intimamente) era mais do que um relacionamento aberto sincero. O aspecto realmente sustentador dessa relação era a aceitação, seja como for que Pedro agisse. Seria difícil descrever o olhar trocado entre os dois no pátio do sumo sacerdote, mas certamente deve ter sido um olhar de aceitação compreensiva, não um olhar de rejeição. [...]. Nem é preciso dizer que a mudança básica que se processou na vida de Pedro consistiu na transformação de uma confiança em recursos pessoais numa confiança em poderes maiores do que os seus próprios. Diante da magnitude da sua missão, suas deficiências humanas perderam importância. [...]. p. 103.


Realizando valores experienciais
Marta e Maria (cf. Lc 10,38-42)

Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: “Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar”.
O Senhor respondeu-lhe: “Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.


As diferentes formas de hospitalidade oferecidas por Marta e Maria não só demonstram duas atitudes diante da vida, mas também expõem realisticamente o dilema da mulher contemporânea. O incidente, além disso, mesmo breve, dá uma ideia muito boa a respeito da eficácia do ministério de Jesus. Paul Tillich nos ajuda a entender esses poucos versículos quando escreve: “As palavras de Jesus a Marta são algumas das mais memoráveis de toda a Bíblia”. Parte do apelo dessa cena deriva da simpatia que em geral sentimos Marta. Quaisquer que fossem as necessidades do momento, alguns afazeres corriqueiros precisavam ser executados. Alguém tinha de preparar a refeição. [...]. Do seu ponto de vista, sua reclamação era perfeitamente oportuna e ela deve ter esperado com toda confiança que Jesus a apoiaria integralmente. págs. 105-106.

Mas Jesus não fez isso. Pelo contrário, aproveitou a oportunidade para ajudar Marta a compreender-se melhor. [...]. Na verdade, a única crítica que enunciou consistiu nem comentário sobre o que a própria Marta estava fazendo. “Tu te inquietas e te agitas por muitas coisas”. É como se dissesse: “Em vez de criticar a conduta de Maria, presta mais atenção a ti mesma”. Como Jesus bem compreendia, o trabalho pode se transformar numa atividade agitada para encobrir uma vida sem sentido. Em vez de ser uma expressão de amor, ele pode indicar uma necessidade de amor. Carol Wise lembra que “em alguns relacionamentos, o eu se sente tão ameaçado a ponto de acreditar que deve preservar todas as relações por meio da atividade. [...]. Não basta apenas trabalhar; o motivo que impele ao trabalho também é importante. Certamente, faz sentido a passagem de Marta e Maria vir na sequência da parábola do bom samaritano, como a dizer que o serviço em não conta toda a história da vida.

O objetivo de Jesus não foi reduzir a importância da área da realização criativa. O que ele quis dizer foi que essa não é a única área da vida onde podemos encontrar sentido e, na verdade, quis sugerir que Maria estava encontrando sentido num nível ainda mais significativo. Em termos da mulher de hoje, poder-se-ia dizer que Maria se recusava a assumir o papel cultural geralmente aceito da dona de casa. Ela afirmava categoricamente sua condição de pessoa, não apenas de mulher; ela se negava a amoldar-se ao estereótipo caracterizado como “mística feminina”. A expressão “mística feminina” foi criada pela escritora Betty Friedan, que a adotou para título de um livro instigante e provocador. Com detalhes meticulosos, ela documenta as forças que afastaram a mulher contemporânea da participação plena no mundo das ideias criativas e da ação influente e a reconduziram ao cenário doméstico centrado em torno do círculo familiar. [...]. págs. 106-107.

Era esse padrão de atividade frenética limitante que Maria rejeitava, e o que Jesus apoiou foi a escolha por ela feita de um comportamento mais favorável a uma verdadeira realização de si mesma. Uma contribuição importante da logoterapia é o princípio segundo o qual o sentido na vida do indivíduo não pode limitar-se a uma área restrita. Assim, por exemplo, a mulher que não tem a experiência da maternidade é irrealista se, por causa disso, acredita que sua vida deixa de ter valor. E o homem que não encontra satisfação na sua atividade profissional é igualmente irrealista se espera extrair sentido apenas no seu trabalho. Diante da negação de valores óbvios, é preciso procurar sentido em outra coisa, em outros níveis. [...].

Os valores experienciais se realizaram quando vivemos uma determinada realidade ou quando encontramos uma determinada pessoa. Assim, realizamos esses valores “entregando-nos à glória de uma experiência” como, por exemplo, quando “sentados num bonde..., temos a oportunidade de contemplar um pôr do sol maravilho ou de inspirar o aroma fragrante de acácias em flor”. Frankl analisa uma entrevista terapêutica com um pintor ornamental de sessenta e um anos cuja doença neurológica progressiva o impedia de continuar a fazer o que ele tanto amava. “Voltei espontaneamente a atenção para os valores experienciais, pois não havia mais acesso a valores criativos... Procurei evocar seus sentimentos de gratidão por suas realizações profissionais passadas, por suas experiências artísticas valiosas do presente e por sua excelente vida conjugal”. [...] págs. 108-109.

Mais importante do que viver a experiência de alguma coisa, porém, é encontrar alguém. A “melhor parte” escolhida por Maria era a “pouca coisa necessária” – um encontro pessoal. Podemos pressentir como a atitude de Maria de sentar-se aos pés de Jesus e de ficar ouvindo seus ensinamentos deve ter sido importante para ele. O incidente acontece pouco depois da menção de que “ele tomou resolutamente o caminho de Jerusalém” (Lc 9,51), enfrentando a crise inevitável que o levaria à morte. Por mais que Jesus precisasse de alimento para sustentar o homem físico, sua necessidade mais profunda era certamente de um ouvinte sensível a quem pudesse confiar as aflições mais íntimas do seu coração.

Aprendemos com Carl Rogers e com a “terapia centrada no cliente” o quanto é importante saber escutar. Rogers acredita que a comunicação fica prejudicada porque as pessoas não escutam realmente, e, por isso, não ouvem de fato o que é dito. [...]. Naturalmente, Maria fez mais do que escutar. Ela fez suas as preocupações de Jesus, entrou no mundo dele com ele. Ela encontrou sentido para a própria vida ao envolver-se com as preocupações do outro. É nesse contexto que Frankl relata o caso de um homem esmagado pela sensação de cansaço da vida até encontrar uma jovem em situação semelhante: “Ao encontrar uma jovem quase na mesma situação que ele e intuir ser missão sua confortá-la nessa fadiga existencial, sua própria experiência reassumiu imediatamente um novo sentido”.

Na vida pessoal de Frankl, valores criativos e experienciais tendem a agregar-se quando ele cria empatia com os interesses e necessidades de seus pacientes e encontra sentido renovado para sua vida. No campo de concentração, pouco antes de ser libertado, ele teve oportunidade de fugir, e até fizera planos para isso, até que um dos seus pacientes lhe perguntou com voz exaurida: “Você também vai fugir?”. Frankl descreve a sensação de mal-estar que o invadiu e sua súbita decisão:

De repente decidi tomar o destino em minhas mãos. Sai correndo da barraca e disse ao meu amigo que não podia acompanhá-lo na fuga. Assim que... tomei a decisão de ficar com meus pacientes, a sensação de mal-estar se dissipou. Eu não sabia o que aconteceria nos dias seguintes, mas instalou-se em mim uma sensação de paz interior que eu jamais sentira antes. Volte para a barraca, sentei no chão junto ao meu companheiro e procurei consolá-lo.

Já dissemos que não há uma maneira única de realizar valores e que diferentes circunstâncias exigem diferentes abordagens. É evidente, porém, que algumas formas são mais importantes que outros. Só conseguimos compreender a conhecida passagem sobre o “amor” de 1Cor 13 em todo seu vigor quando lemos com ela o último versículo do capítulo 12: “Aspirai aos dons mais altos. Aliás, passo a indicar-vos um caminho que ultrapassa a todos. Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse amor, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine”. Sim, certamente há valor nos dons espirituais que se expressam em línguas exóticas, mas há uma forma ainda mais excelente de fazer isso, a forma do relacionamento com as pessoas, tão compreensiva, acolhedora e tolerante que se torna transformadora. [...]. Jesus admoestou Marta não porque ela está errada ao realizar os afazeres domésticos, mas porque está menos certa que Maria. Maria deu prioridade ao que é mais importante: os relacionamentos pessoais. Para ela, encontros são mais importantes do que realizações; pessoas valem mais do que coisas. Diferentemente do jovem rico que construíra sua vida sobre coisas de tal modo que não conseguiu desvencilhar-se delas, Maria estabelecera uma prioridade básica a que não renunciaria mesmo que esta criasse alguma tensão com a irmã. págs. 111-113. [...].

Link para a continuação do post: TRECHOS SELECIONADOS DE ALGUNS CAPÍTULOS: Jesus e a Logoterapia. O ministério de Jesus interpretado à luz da psicoterapia de Viktor Frankl (última parte)

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Logoterapia e Análise existencial - Livros em PDF




                                                 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Logoterapia - A presença ignorada de Deus

Logoterapia, Viktor E. FranklNessa moldura de uma tal imagem do ser humano, contudo, falta simplesmente aquela característica ontológica fundamental da realidade humana que acabei denominando de “autotranscendência” da existência. Isso quer dizer que ser humano significa dirigir-se além de si mesmo, para algo diferente de si mesmo, para alguma coisa ou alguém. Em outras palavras, o interesse preponderante do ser humano não é por quaisquer condições internas dele próprio, sejam elas prazer ou equilíbrio interior, mas ele é orientado para o mundo lá fora, e neste mundo procura um sentido que pudesse realizar ou uma pessoa que pudesse amar. E, com base em sua auto compreensão ontológica pré-reflexiva, tem conhecimento de que ele se autorrealiza precisamente à medida que se esquece de si próprio [...].

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Viktor Frankl: Análise Existencial e Logoterapia

Viktor Emil Frankl; logoterapia, análise existencial; psicologia; Artigo
"A pessoa espiritual é perturbável, mas não destrutível por via de uma doença psicofísica. O que uma doença pode destruir o que ela pode desorganizar, é só o organismo psicofísico. Este organismo representa, todavia, tanto o espaço de ação da pessoa como o seu campo de expressão. A desorganização do organismo não significa menos, mas também não significa mais do que a obstrução do acesso à pessoa - nada mais! E isto devia ser o nosso credo psiquiátrico: esta crença absoluta no espírito pessoal, - esta crença "cega" na pessoa espiritual "invisível", mas indestrutível! Minhas senhoras e meus senhores, se eu não tivesse esta crença então preferia não ser médico". (Viktor E. Frankl).
"O espírito é, como tal, naturalmente invisível; a pseudo-metafísica espírita quer, todavia, torná-lo de algum modo visível. O espírito, como invisível, não se pode ver; em certo sentido, tem-se, portanto, de crer no "espírito". Todavia, a metafísica espiritista - na medida em que ela torna o espírito em alguma coisa visível, portanto, o quer ver -, numa palavra, a crença no espírito do "que vê o espírito", torna-se, exatamente, por isso, também uma superstição". (Viktor E. Frankl).
Tal como Bruno Bettelheim, Viktor Frankl sofreu a experiência dos campos de concentração nazistas, da qual resultou a obra Um Psiquiatra Deportado Testemunha. Frankl formulou a análise existencial em psiquiatria - cuja prática terapêutica é a logoterapia - antes dessa experiência terrível, mais precisamente em 1934. A análise existencial opõe-se à psicanálise. Para Frankl, a vontade de sentido é mais dominante na economia mental do homem que o princípio de prazer de Freud e a vontade de poder de Adler: os doentes de Frankl não sofrem somente de frustrações sexuais ou de complexos de inferioridade, mas é, a maioria das vezes, confrontados com um vazio existencial que lhes provoca vertigens. A neurose - vista como um tipo de existência ou de ser-no-mundo - revela um ser frustrado do sentido da vida. Frankl defende que a necessidade fundamental do homem não é nem a satisfação sexual nem a valorização de si, mas a plenitude de sentido. Ao automatismo freudiano de um aparelho mental, opõe a autonomia espiritual do homem que, no seu íntimo, é um ser responsável. A existência humana tem, ao mesmo tempo, o caráter de um problema, tal como a vida, e o caráter de uma resposta: não é o homem quem deve pôr a questão do sentido da vida, porque o interrogado é o próprio homem. Lançado no jogo do mundo, o homem é desafiado a dar uma resposta às questões que a sua vida lhe coloca. A resposta dada pelo homem é sempre uma resposta em ato. A análise existencial de Frankl encara a neurose como um tipo de existência: o objetivo do seu método terapêutico é conduzir o homem à consciência da sua responsabilidade. Aquilo que na logoterapia se torna consciente não é o instinto, como sucede na psicanálise, mas o espiritual: o homem é um ser responsável, porque não é somente ser de pulsão, mas também e fundamentalmente ser espiritual. Toda a ação terapêutica está centrada não nas pulsões, mas no inconsciente espiritual: a tarefa do psiquiatra é libertar a pessoa espiritual do handicap psicofísico.
Sören Kierkegaard definiu o homem como "uma síntese de alma e corpo" e, ao mesmo tempo, como "uma síntese do temporal e do eterno". A noção de homem incondicionado de Frankl está muito próxima da noção de existência humana de Kierkegaard, o que lhe permite criticar a problemática da terapêutica psicocirúrgica na sua relação controversa com a psicoterapia. Para facilitar a compreensão desta controvérsia médica, penso poder afirmar que Frankl censura basicamente o materialismo subjacente à utilização da psicocirúrgica, até porque ele próprio recomendou algumas vezes esse procedimento cirúrgico para aliviar os seus doentes do sofrimento desnecessário e sem sentido:
"Deixar sofrer um homem desnecessariamente é um erro médico".
A cirurgia cerebral é indicada não para privar o homem do sofrimento da esfera do eu - sofrimento necessário e com sentido, o que equivaleria à auto alienação, mas para aliviá-lo do sofrimento sem sentido, pondo o eu em descanso. Egas Moniz (1874-1955) recebeu o Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina em 1949, prêmio partilhado com Walter Rudolf Hess (1881-1973), por ter desenvolvido a angiografia cerebral e a técnica de lobotomia frontal ou de leucotomia pré-frontal concebida como uma terapêutica para determinadas perturbações emocionais. Os mass media e muitos neurocientistas não perdoaram a Egas Moniz o fato de conceber a destruição de uma grande porção do encéfalo como uma forma de tratamento e, por isso, contam que este médico português acabou estranhamente paralisado por um tiro disparado na espinha por um dos seus pacientes lobotomizados. Portanto, foi feita justiça poética contra o médico português que, sem suporte teórico substancial, acreditava que podia corrigir o excesso de emoção através deste procedimento cirúrgico. De facto, nesse tempo sombrio, Klüver & Bucy mostraram que lesões no encéfalo podiam alterar o comportamento emocional e, na década de 30, John Fulton e Carlyle Jacobsen relataram que lesões do lobo frontal tinham efeitos calmantes nos chimpanzés.
Confiante no princípio segundo o qual se o sistema límbico controla a emoção, conforme estipulado pelo circuito de James Papez (hipocampo, hipotálamo e giro do cíngulo), então as pessoas com problemas emocionais - pacientes melancólicos, obsessivo-compulsivos e esquizofrênicos - podem ser clinicamente ajudadas, Egas Moniz não se inibiu e desenvolveu o procedimento cirúrgico da psicocirúrgica, aplicando-o aos seres humanos. Milhares de cirurgias foram realizadas em todo o mundo nos anos 40 e 50 do século XX, usando diversos procedimentos: os pacientes submetidos a estes procedimentos cirúrgicos, em especial os esquizofrênicos, tornaram-se meras sombras dos seus eus anteriores. Egas Moniz queria "golpear literalmente as associações delirantes" (Frankl) dos seus pacientes, como se o seu procedimento fosse uma intervenção cirúrgica na psique e como se o bisturi pudesse atingir a realidade da alma. A sua explicação redutora lembra o chamado delírio interpretativo racionalizante secundário. Segundo Frankl, a leucotomia não toca a pessoa espiritual - o seu eu inalterado, a sua existencialidade, mas apenas o organismo psicofísico - a sua facticidade: "O corpóreo é condição, mas não causa do psico-espiritual. A doença física limita as possibilidades de desenvolvimento da pessoa espiritual, e o tratamento somático restitui-lhas, dá-lhe, de novo, oportunidade para se desdobrar e isto ensina-nos a clínica. O que nós podemos explicar através da clínica é somente a diminuição das possibilidades do espiritual; mas podemos compreender a realidade do espiritual unicamente a partir de uma metaclínica" (Frankl). A lobotomia deixou de ser utilizada, exceto nos casos de perturbação obsessiva intratável, onde a operação moderna se limita a uma cingulotomia, em vez de uma lobotomia frontal completa.
A maioria dos neurocientistas tende a ser materialista na sua atividade experimental, embora o fisicalismo enquanto filosofia seja impensável: o materialismo radical auto-anula-se enquanto figura do pensamento. No entanto, no seio da própria ciência, surgiram críticas antimaterialistas que merecem atenção. Pioneiros geniais das neurociências tais como Charles Sherrington e W. Penfield abandonaram o materialismo, adotando a defesa da autonomia da alma, e John C. Eccles e Karl Popper defenderam sempre um dualismo interacionista. Alistar Hardy acusa as concepções monistas que predominam na comunidade científica de serem excessivamente perigosas para o futuro da civilização, porque estas ideias convertem a dimensão espiritual do homem simplesmente num produto superficial de um processo material. O dogma fisicalista é tão injustificável quanto os dogmas mais absurdos da Igreja Medieval. Diversos psiquiatras mostraram que a crença no reducionismo tem um efeito desastroso e nefasto sobre a saúde mental, especialmente sobre a prudência e o juízo do homem. Viktor Frankl acredita que uma das maiores ameaças à saúde mental é o vazio existencial. Com efeito, o número de pacientes (20%) afligidos pelo sentimento de vacuidade interior - o sentimento de total e absoluta falta de sentido da vida, especialmente em face da morte, que recorrem à ajuda clínica, aumenta assustadoramente em todo o mundo, sobretudo nos países ocidentais.
Frankl pensa que esta perturbação é o resultado direto e desastroso da negação do valor e de uma vida com valor - atitude característica da moderna sociedade cientificamente orientada, ou seja, da crença de que, como a ciência é, em grande medida, reducionista quanto à sua técnica, o reducionismo é a única filosofia em que devemos crer. Para Frankl, existe no homem uma tendência intrínseca para procurar significados que possa compreender e valores que possa atualizar. O reducionismo predominante mais não é do que um disfarce do niilismo que, na sua versão atual, deixou de anunciar o "nada" para afirmar simplesmente "nada mais do que": a psiquiatria, a psicoterapia e a psicanálise apresentam o homem como um ser reflexo ou um feixe de instintos, como ser condicionado, acionado e determinado, ora pelo complexo de Édipo, ora por sentimentos de inferioridade. Ora, afirmar que o homem nada mais é do que feixe de reflexos ou feixe de pulsões é apresentá-lo como "uma marionete - ou, como se diz hoje em dia, um zumbi - que esperneia por meio de fios, ora ridiculamente visíveis, ora escondidos" (Frankl).
O homem é algo mais do que aquilo que pode ser explicado completamente pelo biológico, psicológico e sociológico: o biologismo, o psicologismo e o sociologismo pecam contra o espiritual, construindo imagens do homem que ameaçam o próprio homem e que o impedem de alcançar um humanismo: "Enquanto virmos no homem somente isto ou aquilo condicionado, enquanto não virmos no homem também o incondicionado, não descobrimos o verdadeiro homem, o Homo Humanus, mas sim uma espécie de homúnculus. A partir do biologismo, psicologismo e sociologismo não há qualquer caminho para o humanismo, mas para um simples homunculismo!" (Frankl). Nesta perspectiva que aponta para um pensamento metaclínico, o verdadeiro niilismo não é o existencialismo, que afirma a irredutibilidade do ser humano, recusando tratá-lo como coisa entre coisas, mas o reducionismo que, nas escolas e nas universidades, socializa as pessoas, levando-as a crer na concepção reducionista do homem e na visão reducionista da vida – o clericalismo científico, segundo a expressão feliz de Teixeira de Pascoaes. O vazio existencial é, portanto, a frustração da força motivacional fundamental do homem: a vontade de sentido, completamente distinta da vontade de poder dos adlerianos e do desejo de prazer dos freudianos.
Hyman confirmou esta perspectiva existencial nos seus pacientes submetidos à cirurgia cerebral: a procura de sentido é uma força motivacional básica do animal symbolicum (Ernst Cassirer). Esta descoberta da necessidade de sentido no ser humano levou Frankl a tomar uma posição oposta à de Freud a respeito da religião. A teoria freudiana da religião é sobejamente conhecida: Deus mais não é do que uma imagem interiorizada do pai todo-poderoso e a religião, uma neurose obsessiva. Frankl rompe claramente com esta noção de Deus, defendendo a solidez da ideia de Deus na sua obra O Deus Inconsciente. Além disso, certas neuroses são produzidas pelo recalcamento da religiosidade. Frankl não proclama uma determinada religião universal: o que ele pensa é que o homem caminha para uma religião pessoal, na qual cada um descobrirá a sua própria linguagem. De certo modo, a religião pessoal decorre do próprio processo de secularização da sociedade e da consciência e do seu corolário - a privatização da religião. A afirmação de Marx segundo a qual:
"a religião dos trabalhadores não conhece Deus dado que procura restaurar a divindade do homem"
Que chocou Henri de Lubac e que foi completamente explicitada por Ernst Bloch, vai ao encontro da noção de que os homens diferentes têm valor diferente, mas dignidade igual: a dignidade incondicional de todos os seres humanos, incluindo os psicóticos, os doentes e os que sofrem. O homem é condicionalmente um ser (espiritual) incondicionado: "O homem é mais do que organismo psicofísico; ele é pessoa espiritual. Como tal, ele é livre e responsável - livre do psicofísico e livre para a realização de valores e a satisfação mental da sua existência (Dasein)" (Frankl). O homem luta não só pela existência, mas também e, sobretudo por um conteúdo da existência: a tarefa mais notável da ação psiquiátrica é ajudá-lo nesta luta por um sentido da existência e pelo auxílio recíproco na descoberta do sentido. A imagem do homem esboçada por Frankl não oferece soluções definitivas para os problemas metaclínicos - as perguntas eternas da humanidade pensante: o seu objetivo é estimular as pessoas e convidá-las para o pensamento metaclínico, convocando-as para a necessidade de uma decisão. Num sentido amplo, a concepção frankliana da religião e do seu papel essencial na vida e na promoção da saúde das pessoas foi recentemente suportada empiricamente pela pesquisa no domínio da neurociência espiritual (D'Aquili & Newberg, 2000, Lee & Newberg, 2005, Newberg & Lee, 2005): a religião não só desempenha um papel crucial na vida de milhares de pessoas, como também exerce um efeito positivo sobre a sua saúde.

Referência:

https://www.algosobre.com.br/psicologia/viktor-frankl-analise-existencial-e-logoterapia.htm

terça-feira, 18 de abril de 2017

Logoterapia: A psicoterapia existencial humanista de Viktor Emil Frankl. Parte 9. (Por Estudando Psi - YouTube)


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segunda-feira, 17 de abril de 2017

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sábado, 11 de fevereiro de 2017

Logoterapia: A psicoterapia existencial humanista de Viktor Emil Frankl. (Por Estudando Psi - YouTube)

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