domingo, 14 de julho de 2019

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: SOFRER POR AMOR A DEUS E AOS IRMÃOS

b) Um grande desejo de padecer, mas sossegado e tranquilo, inteiramente subordinado à vontade adorável de Deus. Escreve Santa Teresa:

O segundo efeito é um grande desejo de padecer, mas não de modo a inquietá-la, como acontecia antes; porque é tão extremado o desejo destas almas de que se faça nelas a vontade de Deus, que acham bom tudo o que Sua Majestade faz: se quiser que ela padeça, seja muito em boa hora; se não quiser, não se mata por isso como costumava fazer antes.1


A cruz sempre constitui uma verdadeira obsessão para almas autenticamente enamoradas do divino Redentor. O heroísmo de Jesus crucificado as subjuga e elas ardem em desejos de se crucificar com Ele. Enquanto o fogo do divino amor ainda não se apodera do mais fundo do espírito, a chama faísca e lança para fora centelhas acesas (penitências extremas, loucuras de amor, etc.); mas quando o amor divino se apodera totalmente da alma, até o mais íntimo e profundo dela, a chama já não faísca; a alma se converte em brasa muito mais ardente do que antes, porém sossegada, tranquila, sem aquele alvoroço interior. Só querem que se cumpra em tudo a vontade divina, como disse Santa Teresa.
É a percepção clara e intuitiva do verdadeiro valor e hierarquia das coisas. O sofrimento sublimado pelo amor a Deus é altamente santificador, sem dúvida alguma, mas muito menos do que o cumprimento perfeito da vontade adorável de Deus; porque a vontade de Deus se identifica com a própria essência de Deus (é Deus mesmo) enquanto que sua glória é o resplendor extrínseco da essência da mesma. Se, por uma hipótese impossível e absurda, a glória de Deus pudesse empreender uma grande obra contrariando sua divina vontade, haveríamos de renunciar imediatamente a lhe glorificar da forma anterior, para não nos afastarmos um milímetro sequer de sua divina vontade: Santa Teresa suspendeu imediatamente seus trabalhos para a reforma do Carmelo, até obter o beneplácito de seus próprios superiores, como havia lhe ordenado o Senhor: “Obedece-lhes: já lhes mudarei Eu o coração para que te mandem o que Eu quero”.
c) Gozo na perseguição. Tolerar a perseguição em silêncio por amor a Deus já é uma obra de grandíssima virtude. Mas se comprazer nela, considerar-se feliz nela, bendizer a Deus e amar com predileção aos que nos perseguem e caluniam (Mt 5,43-48) é o cúmulo do heroísmo e da santidade. A estas sublimes alturas remontaram as almas transformadas. Santa Teresa esfregava as mãos de que alguém a caluniava. Era conhecido de todos um procedimento infalível para conquistar sua simpatia e predileção: insultá-la ou humilhá-la de alguma maneira. Eis aqui como descreve o que heroicamente praticava. 

Têm também estas almas um grande gozo interior quando são perseguidas, com muito mais paz do que ficou dito anteriormente, e sem nenhuma inimizade para com aqueles que lhes fazem mal ou desejam fazer, do contrário, passam a ter por eles um amor particular, de tal maneira que, se os vêem em algum sofrimento, sentem-no ternamente e tomariam qualquer sacrifício sobre si para os livrar dele, e sempre encomendam-nos a Deus com muita devoção, e gostariam mesmo de se privar de algumas das graças que Sua Majestade lhes concede para que Ele a concedesse a eles, para que não ofendessem a Nosso Senhor.2

Essas últimas palavras nos dão a chave para entender esse sublime heroísmo. Definitivamente, é o amor a Deus que aqui prevalece, como em tudo o mais que essas almas fazem. As perseguições e calúnias não lhes afetam pessoalmente em nada, antes se regozijam e se recreiam nelas. O único que sentem é quando seus inimigos ofendam a Deus com as perseguições; e para evitar essa ofensa divina, com gosto lhes concederiam algumas mercês que Deus as faz, mesmo em troca de ficar sem elas. É o amor a Deus e ao próximo levado até o último extremo de acabamento e perfeição.
d) Zelo ardente pela salvação das almas. Já não desejam morrer para gozar a Deus (“morro porque não morro”) senão, ao contrário, viver muitos anos, “até o fim do mundo” (Vida 37,2), para empregarem-se no serviço de Deus na salvação das almas. Escutemo-la: 

O que mais me espante de tudo isso é que já deveis ter visto os sofrimentos e aflições que estas almas tiveram de querer morrer, ansiosas para desfrutarem de Nosso Senhor; agora é tão grande seu desejo de servi-lo e louvá-lo que não só não querem mais morrer como desejam viver muitos anos padecendo enormes sofrimentos – se tivessem esperança de o Senhor ser louvado por meio deles, ainda que fosse em mínimas coisas. E se soubessem com certeza que, quando a alma sai do corpo, há de se deleitar com Deus, não se preocupariam com isso, nem pensam na glória dos santos ou desejam por enquanto verem-se nela. Toda a glória que cobiçam é a de ajudar em algo ao Crucificado, especialmente quando O vêem ser tão ofendido, e que são poucos aqueles verdadeiramente preocupados em zelar pela honra de Deus, desapegados de todo o resto.3 

Tais são os sublimes sentimentos de todos os santos. Santo Inácio de Loyola chegou a dizer que preferiria ficar neste mundo servindo a Deus e ajudando as almas com perigo de se condenar, do que ir imediatamente ao Céu com prejuízo dessas almas. E antes dele, já São Paulo havia expressado o desejo de ser, se fosse preciso, “anátema de Cristo pela saúde de seus irmãos” (Rm 9,3). É uma vez mais, o esquecimento total de si mesmo e o amor de Deus levado até a loucura. 
e) Desprendimento de toda a criação, ânsias de solidão, ausência de sequidades espirituais. Compreende-se perfeitamente que uma alma que goze quase habitualmente dos inefáveis deleites que se seguem à união transformativa com Deus estime como lixo todas as coisas deste mundo, como disse repetidas vezes Santa Teresa e também São Paulo (Fl 3,8), e goste de estar a sós com Deus em doce e entranhável conversação. Ouçamo-la:

Há um desapego grande tudo, e um grande desejo de estar sempre a sós ou ocupados em coisa que seja de proveito para alguma alma. Não há aridez, nem sofrimentos interiores, mas sim uma contínua lembrança e ternura com Nosso Senhor, a ponto de desejar estar sempre dando-lhe louvores; e quando nisto se descuida, o mesmo Senhor a desperta, da maneira que foi dito, vendo-se claramente que aquele impulso, ou não sei como lhe chame, procede do interior da alma, como se disse a respeito dos ímpetos (...) me parecem bem empregados todos os sacrifícios que se passam para gozar destes toques de Seu amor, tão suaves de penetrantes.4

Págs. 360-366. 

[...].

______________
1 Moradas Séptimas, C.3,4.
2 Ibid., C.3,5.
3 Ibid., C.3,6.
4 Ibid., C.3,8-9.

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: A ORAÇÃO EM SI MESMA (ÚLTIMA PARTE)

5. EFICÁCIA INFALÍVEL DA ORAÇÃO 

Antes, vamos estabelecer com todo rigor uma tese teológica, a qual demonstraremos plenamente, como se faz nas escolas de teologia: 
TESE: “A oração, revestida das devidas condições, obtém infalivelmente o que pede, em virtude das promessas de Deus”.
Muitos teólogos consideraram essa tese como de fé, pela claridade com que se nos manifesta na Sagrada Escritura a promessa divina. Eis aqui alguns dos textos mais significativos: 


“Pedi e vos será dado! Procurai e encontrarei! Batei e a porta vos será aberta! Pois todo aquele que pede recebe, quem procura encontra, e a quem bate, a porta será aberta” (Mt 7,7-8).
“Tudo o que, na oração, pedirdes com fé, vós o recebereis” (Mt 21,22).
“E o que pedirdes em meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei” (Jo 14,13-12).
“Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será dado” (Jo 15,7).
“Em verdade, em verdade, vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vos dará. Até agora, não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para que vossa alegria seja completa. Jesus venceu o mundo” (Jo 16,23-24).
“E esta é a confiança que temos em Deus: se lhe pedimos alguma coisa de acordo com a sua vontade, ele nos ouve. E se sabemos que ele nos ouve em tudo o que lhe pedimos, sabemos que possuímos o que havíamos pedido” (1Jo 5, 14-15).


É impossível falar com maior clareza e insistência mais premente. A promessa divina consta com toda certeza na divina revelação.
Ora, quais são as condições requeridas para que a oração alcance infalivelmente seu objeto, cumprindo-se de fato as divinas promessas?
Santo Tomás assinala quatro, e a elas podem se reduzir todas as demais assinaladas por outros autores. Aqui estão suas palavras:
“Logo, sempre obteremos o que pedimos, contanto que se estabeleçam estas quatro condições: pedir para si mesmo coisas necessárias à salvação, piedosamente e com perseverança”.
4 

[...].

6. A ORAÇÃO DOMINICAL: O PAI NOSSO 

Santo Tomás pergunta em um artigo da Suma Teológica “se são convenientes assinaladas as sete petições da oração dominical, o Pai-nosso” (83,9). Cremos que a maravilhosa doutrina exposta por Santo Tomás ao responder afirmativamente, faz desse artigo um dos mais sublimes e profundos de sua obra imortal, verdadeira fortaleza da Teologia Católica. 
Começa Santo Tomás dizendo que a oração dominical é perfeita, pois contém tudo o que devemos pedir e na ordem que se deve pedir. Aqui estão suas palavras:

A oração Dominical é perfeitíssima, porque como diz Agostinho, se oramos reta e convenientemente, não podemos pedir senão o que está formulado na Oração Dominical. Pois, sendo a oração, de certo modo, o intérprete do nosso desejo junto a Deus quando oramos, só podemos pedir com retidão o que com retidão podemos desejar. Ora, na Oração Dominical, não só pedimos todas as coisas que podemos retamente desejar, mas, ainda, na ordem em que são desejáveis. De modo que essa Oração não só nos ensina a pedir, mas também manifesta todo o nosso afeto.
Ora, é claro que o objeto primário do nosso desejo é o fim e o secundário os meios. Mas o nosso fim é Deus, para o qual o nosso afeto tende duplamente: por lhe querermos a glória, e por querermos gozá-la. E desses dois modos, o primeiro pertence ao amor com que amamos a Deus em si mesmo; o segundo, ao com que nos amamos, em Deus. Por isso, a primeira petição é assim formulada: Seja santificado o teu nome, pela qual pedimos a glória de Deus. A segunda assim: Venha a nós o teu reino, pela qual pedimos que alcancemos a glória do seu reino, isto é, alcançar a vida eterna.

Como se vê, as duas primeiras petições do Pai-nosso não podem ser mais sublimes. Na primeira pedimos a glória de Deus, ou seja, que todas as criaturas reconheçam e glorifiquem (isso significa aqui santificar) o nome de Deus. Tal é, precisamente, o fim último da criação; a glória de Deus, ou mais exatamente e teologicamente, Deus mesmo glorificado pelas criaturas. Essa glória de Deus constituía a obsessão de todos os santos. No topo da montanha da santidade se lê sempre indefectivelmente o rótulo colocado por São João da Cruz no alto de seu Monte Carmelo: “Só mora neste monte a honra e a glória de Deus”. O eu humano, terreno e egoísta morreu definitivamente.
Porém, Deus quis encontrar sua própria glória em nossa própria felicidade. Não nos proíbe, mas nos manda desejar nossa própria felicidade em Deus. Mas essa felicidade deve estar unicamente em segundo lugar, em perfeita subordinação à glória de Deus, na medida e grau de seu beneplácito divino: Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33). Ao pedir a Deus o advento de seu reino sobre nós, lhe pedimos na realidade a graça e a glória para nós, ou seja, a maior e mais sublime que podemos pedir depois da glória de Deus.

Depois do fim principal e secundário, deve-se desejar, logicamente, os meios para alcançá-lo. Escutemos a Santo Tomás:

Ora, ao fim supra referido um meio pode nos conduzir duplamente: por si mesmo e por acidente.
5 Por si, quando é um bem útil para o fim. Mas, um meio pode ser útil para o fim de dois modos. – De um modo, direta e principalmente, conforme o mérito com que merecemos a felicidade, obedecendo a Deus. E por isso é que a Oração diz: Faça-se a tua vontade assim na terra como no céu. – De outro modo, instrumentalmente e como nos ajudando a merecer. E é isto o que visa a petição. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Quer o entendamos do pão sacramental, cujo uso quotidiano nos alimenta, e no qual se compreendem os outros sacramentos; quer do pão corporal, entendendo-se por pão todo o necessário à nossa subsistência, como diz Agostinho. Pois a Eucaristia é o sacramento principal como o pão é o alimento principal.

Como se vê, depois de ter pedido nas duas primeiras petições o relativo ao fim principal e ao secundário, se começa imediatamente a pedir o relativo aos meios. Também aqui se procede ordenadamente pedindo em primeiro lugar que cumpramos a vontade de Deus de maneira tão perfeita, se possível, como se cumpre no Céu. É porque o cumprimento da vontade de Deus é o único meio direto e imediato de glorificar a Deus e de santificar nossa alma. Ninguém se santificará nem poderá glorificar a Deus, a não ser cumprindo exata e rigorosamente sua divina e adorável vontade. Se Deus nos pede obscuridade e silêncio, enfermidade e impotência, vida escondida e desconhecida, é inútil que tratemos de lhe glorificar ou de nos santificar sonhando com grandes empresas apostólicas ou obras brilhantes à serviço de Deus; andaremos completamente fora do caminho. Nada glorifica a Deus nem santifica a alma senão o perfeito cumprimento de sua divina vontade.
Porém, ao lado desse meio fundamental e imediato, necessitamos também da ajuda dos meios secundários, simbolizados na palavra pão, que é alimento por excelência. Pedimos o pão, ou seja, o indispensável para a vida (nada de riquezas e honras, que são bem fugazes e aparentes, que tanto se prestam a nos desviar dos caminhos de Deus); e unicamente para hoje, “com o fim de ficar obrigados a pedi-lo amanhã e corrigir nossa cobiça” – como disse admiravelmente o catecismo – e para que descansemos confiantes e tranquilos nos braços da providência amorosa de Deus, que alimenta aos pássaros do céu e veste as flores do campo com soberana beleza (Mt 6,25-34).

Sigamos com a exposição de Santo Tomás:

Acidentalmente nós nos ordenamos à felicidade, pela remoção dos obstáculos. Ora, há três obstáculos que nô-la impedem. – O primeiro é o pecado, que diretamente nos exclui do reino, conforme o Apóstolo: Nem os fornicários, nem os idólatras., hão de possuir o reino de Deus. E a isto se referem as expressões: Perdoai-nos as nossas ofensas.
O segundo é a tentação, que nos impede obedecer a vontade divina. E a isto se referem se referem as expressões: E não nos Deixeis cair em tentação, com que não pedimos para não sermos tentados, mas para não sermos vencidos pelas tentações, que é o sentido da expressão referida. O terceiro são as penas desta vida, que lhe tiram a plenitude. E a isso se referem as expressões; Livrai-nos do mal.

Através dessa magnífica exposição de Santo Tomás – que ainda completa com as soluções às objeções –, se adverte claramente que é impossível pedir a Deus mais coisas, nem melhores, nem mais ordenadamente, nem com menos palavras, nem com maior simplicidade e confiança do que na sublime oração do Pai-nosso. Por isso os santos, iluminados por Deus mediante os dons do Espírito Santo, encontram um verdadeiro “maná escondido” na oração dominical. Vivem dela anos inteiros, e ainda toda a vida, alimentando sua oração com suas divinas petições. Santa Teresinha do Menino Jesus chegou a não encontrar gosto senão no Pai-nosso e na Ave-Maria.
6 Santa Teresa o comenta magistralmente em seu Camino de Perfección.7 E muitas almas simples e humildes encontram nele pasto abundante para sua oração,8 e até para remontar aos mais altos cumes da contemplação e da união mística com Deus. Escreve Santa Teresa (Camino 37,1): “Espanta-me ver que em tão poucas palavras está toda a contemplação e perfeição encerrada. Parece não ser mister outro livro: basta estudar o Pai-nosso”. Págs. 291-294; 296-302; 306-312.

[...].

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4 II-II, 83,15 ad 2.
5 Santo Tomás emprega a formula escolástica per se y per accidens, que pode ser traduzida em nosso caso por direta ou diretamente.
6 Em suas próprias palavras: “Algumas vezes, quando meu espírito se encontra em grande aridez, de modo que não me ocorre nem um pensamento bom, rezo muito devagar um Pai-nosso e uma Ave-Maria. Estas orações são as únicas que me elevam, as que nutrem minha alma ao divino, elas me bastam”. (História de uma alma c.10, n.19).
7 SANTA TERESA, CAMINO DE PERFECCIÓN, CAPÍTULOS 27 ATÉ 47 (FINAL DO LIVRO).
8 Recordem o caso daquela vaqueira que, guardando suas vacas, passava longas horas de oração “pensando que Aquele que está no alto do Céu é meu Pai”. E chorava de emoção ao pensa-lo.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: A ORAÇÃO EM SI MESMA

 A ORAÇÃO EM SI MESMA; TEOLOGIA
1. NATUREZA
A palavra oração pode ser empregada em diversos sentidos. Seu significado varia totalmente de acordo com sua acepção gramatical, lógica, retórica, jurídica ou teológica. Mesmo em sua acepção teológica, única que nos interessa aqui, foi definida de diversos modos, embora todos coincidam fundamentalmente. Eis algumas definições:

São Gregório de Nazianzo: “A oração é uma conversação ou colóquio com Deus”.

São João Crisóstomo: “A oração é falar com Deus”.

Santo Agostinho: “A oração é a conversão da mente a Deus. Com piedoso e humilde afeto”.

São João Damasceno: “A oração é a elevação da mente a Deus”. Ou também: “a petição da Deus de coisas convenientes”.

São Boaventura: “Oração é o piedoso afeto da mente dirigida a Deus”.

Santa Teresa: “É conviver em amizade, estando muitas vezes a sós com quem sabemos que nos ama”.


Como se vê, todas essas fórmulas – e outras muitas que não foram citadas – coincidem em seus fundamentos. Santo Tomás compilou as duas definições de São João Damasceno, e com elas propôs uma fórmula excelente, que recorre aos principais aspectos da oração. Soa assim: “A oração é a elevação da mente a Deus para louvar e pedir-lhe coisas convenientes à eterna salvação”. Vamos expô-la com mais detalhes, seguindo o Doutor Angélico.
1 É a elevação da mente a Deus: A oração é em si um ato da razão prática (83,1), não da vontade, como creram alguns escotistas. Toda a oração supõe uma elevação da mente a Deus, o que nos adverte que quem ora estando completamente distraído, em realidade não faz oração “mesmo que meneie muito os lábios” (Santa Teresa).

E dizemos “A Deus” porque a oração, como um ato de religião (83,3) se dirige propriamente a Deus, já que só dele podemos receber a graça e a glória, para as quais devem se ordenar todas as nossas orações (83,4); mas não há inconveniente em fazer intervir os anjos, santos e justos da Terra para que, com seus méritos e interseção, sejam mais eficazes nossas orações (ibid.).

a) Para louvar... é uma das finalidades mais nobres e mais próprias da oração.
Seria um erro pensar que a oração serve apenas como um puro meio para pedir coisas a Deus. A adoração, o louvor, a reparação dos pecados e a ação de graças pelos benefícios recebidos encaixam admiravelmente na oração (83,17).
b) Pedir-lhe... É a nota mais típica da oração estritamente dita. O próprio de quem ora é pedir. Quem ora se sente débil e indigente, e por isso recorre a Deus para que se apiede dele. É a oração de súplica ou de petição.
c) Coisas convenientes à salvação eterna. Não nos é proibido pedir coisas temporais (83,6); mas não principalmente, nem as colocando como fim último da oração, senão unicamente como instrumentos para melhor servir a Deus e tender para a nossa felicidade eterna. Em si, as petições próprias da oração são as que se referem à vida sobrenatural, as únicas que terão uma repercussão eterna. O temporal vale pouco, passa rápido e é fugaz como um relâmpago. Se pode pedir unicamente como acréscimo, com inteira subordinação aos interesses da glória de Deus e salvação das almas: “Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça, e tudo mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33). 

[...]. 

3. O QUE SE PODE OBTER POR VIA DE ORAÇÃO 


Segundo estas noções, podemos obter por via da oração o acréscimo das virtudes infusas e dos dons do Espírito Santo que as acompanham, o que se traduzirá em um aumento ou desenvolvimento de nossa vida cristã; e também as graças atuais eficazes; sobretudo, a graça soberana da perseverança final, que ninguém absolutamente pode merecer – nem sequer os maiores santos –, por ser total e absolutamente gratuita. Só a oração pode alcançar essas graças que escapam em absoluto ao mérito propriamente dito.
A igreja nos dá o exemplo desta classe de petições quando em sua liturgia pede continuamente a graça da perseverança final ou o aumento das virtudes infusas: “Deus todo poderoso e eterno, aumenta nossa fé, esperança e caridade...”.
2  Escutemos a Santo Tomás expondo esta doutrina com sua clareza habitual:3 

Mesmo o que não merecemos, impetramos nas nossas orações; pois Deus ouve os pecadores que pedem dos pecados o perdão que não merecem, como claramente o diz Agostinho, comentando aquilo da Escritura: - Sabemos que Deus não ouve a pecadores (Jo 9,31). Pois, do contrário, o publicano teria dito em vão: Meu Deus, sê propício a mim pecador (Lc 18,13). E semelhantemente, pedindo, obteremos de Deus o dom da perseverança final, para nós mesmos ou para outrem, embora não o possam merecer. 

[...]. 

4. EFICÁCIA SANTIFICADORA DA ORAÇÃO 

Os santos padres e os grandes mestres da vida espiritual estão unânimes em ponderar a eficácia santificadora verdadeiramente extraordinária da oração bem feita. Sem oração – sem muita oração – é impossível chegar à santidade. 
São inumeráveis os testemunhos que se poderiam alegar sobre esta questão. Só por via de exemplo vamos citar o conhecido e bel texto de São Boaventura: 

Se queres sofrer com paciência as adversidades e misérias desta vida, sê homem de oração. Se queres alcançar virtude e fortaleza para vencer as tentações do inimigo, sê homem de oração. Se queres conhecer as astúcias de Satanás e defender-te de enganos, sê homem de oração. Se queres viver alegremente e caminhar com suavidade pelo caminho da penitência e do trabalho, sê homem de oração. Se queres afastar tua alma dos vãos pensamentos e cuidados, sê homem de oração. Se queres sustentar com a grandeza da devoção e trazê-la sempre cheia de bons pensamentos e desejos, sê homem de oração. Se queres fortalecer teu coração no caminho de Deus, sê homem de oração. Finalmente, se queres desarraigar de tua alma todos os vícios e plantar em seu todas as virtudes, sê homem de oração: porque nela se recebe a unção e graça do Espírito Santo, a qual mostra todas as coisas. E, ademais, se queres subir à altura da contemplação e gozar dos doces abraços do esposo, exercita-te na oração, porque este é o caminho por onde sobe a alma à contemplação e gosto pelas coisas celestiais.

[...].


Link para a continuação do post: TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: A ORAÇÃO EM SI MESMA (ÚLTIMA PARTE)

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1 Suma Teológica, II-II, 83, 1a et ad 2.
2 Missal Romano, Oração coleta do 300 domingo do Tempo Comum.
3 I-II, 114,9 ad 1.





quinta-feira, 4 de julho de 2019

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: AS VIRTUDES DERIVADAS OU ANEXAS (ÚLTIMA PARTE)

A HUMILDADE 

1. NATUREZA 
A humildade é “uma virtude derivada da temperança, que nos inclina a coibir ou moderar o desordenado apetite da própria excelência, dando-nos o justo conhecimento de nossa pequenez e miséria principalmente com relação a Deus”. Expliquemos um pouco a definição: 

Uma virtude, porque nos inclina a algo bom e excelente.
Derivada da temperança, através da modéstia, da qual é uma subdivisão.
Que nos inclina a coibir ou moderar, como todas as virtudes derivadas da temperança.
O desordenado apetite da própria excelência. Esta é, precisamente, a definição da soberba, o vício radicalmente oposto à humildade.
Dando-nos o justo conhecimento de nossa pequenez e miséria. Note que se trata do justo conhecimento, ou seja, da autentica realidade das coisas. Por isso dizia Santa Tereza: “a humildade é andar na verdade; e é uma grande verdade que de nós nunca vêm boas coisas, a não ser a miséria e insignificância; e quem não compreende isso anda na mentira”.
5 
Principalmente com relação a Deus. Esta é a verdadeira raiz da humildade e seu verdadeiro enfoque. Se estabelecemos a comparação com os demais homens, não há homem tão mau que não se possa imaginar outro pior; mas, se compararmos nosso ser e boas qualidades com a excelsa grandeza de Deus, não há santo tão elevado – até mesmo a Virgem Maria, Mãe de Deus – que não tenha de se afundar em uma abismo de humildade, como fez a Virgem ante o anuncio do anjo: “Eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38) e ante sua prima Santa Isabel: “porque ele olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48). Ante Deus ninguém é nem representa nada.
Por isso os verdadeiros humildes podem, sem faltar com a verdade, colocar-se aos pés de todos. Porque, como a humildade se refere propriamente e em todos os casos à reverência que o homem deve a Deus, qualquer homem pode submeter o mal que tem de si próprio – pecados, misérias, imperfeições – ao bem que Deus quis colocar num próximo qualquer – todas suas boas qualidades –; nesse sentido, pode-se considerar como mais indigno que ele. Em última instância, sempre podemos pensar que se o maior pecador do mundo tivesse recebido o cúmulo das graças e bênçãos recebidos por nós, haveria correspondido à graça mil vezes melhor do que nós. Logo, sempre e em todas as partes, qualquer homem tem motivos de sobra para se humilhar ante qualquer outro, sem deixar de “caminhar na verdade”, que é própria e característica da humildade.
A humildade, por conseguinte, se funda em duas coisas principais: na verdade e na justiça. A verdade nos dá o conhecimento cabal de nós mesmos: não possuímos nada de bom, a não ser aquilo que recebemos de Deus: “Pois quem é que te faz diferente? Que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebestes tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não tivesses recebido?” (1 Cor 4,7). E a justiça exige de nós dar a Deus toda honra e glória que pertencem exclusivamente a ele (1 Tm 1,7). A verdade nos autoriza ver e admirar os bens naturais e sobrenaturais que Deus quis depositar em nós; mas a justiça nos obriga a glorificar não a beleza de uma paisagem contemplada em uma pintura, e sim o Artista divino que a pintou. 

2. EXCELÊNCIA DA HUMILDADE 

A humildade não é a maior das virtudes. Acima dela estão as virtudes teologais, a prudência e a justiça (principalmente a legal). Mas, em certo sentido, a humildade é, com a fé, uma das duas virtudes fundamentais de todo o edifício sobrenatural. A fé é o fundamento positivo, algo como o esqueleto de ferro que sustenta todo o edifício que, sem ela, desmoronaria por completo. A humildade é o fundamento negativo, como o cimento do edifício, sem o qual também ruiria necessariamente. A fé estabelece o primeiro contato com Deus (fundamento positivo de todos os demais), e a humildade atua removendo os obstáculos (ut removens prohibens) para receber a influência da graça, sem a qual seria impossível, já que a Sagrada Escritura explicitamente nos diz: “Deus resiste aos soberbos, mas concede sua graça aos humildes” (Tg 4,6). Neste sentido, consequentemente, a fé e a humildade são as duas virtudes fundamentais que constituem todo o edifício sobrenatural: a fé como fundamento positivo e a humildade como fundamento negativo.6 

[...] 

4. A PRÁTICA DA HUMILDADE 

O reconhecimento teórico de nosso nada diante de Deus é algo simples e fácil. Em função de nossos inumeráveis pecados, não temos direito algum de presumir de nós mesmos em nosso interior, ou diante de nossos semelhantes. No entanto, o reconhecimento prático dessas verdades e as derivações lógicas que delas se desprendem em relação à nossa conduta ante Deus, ante nós mesmos e ante o próximo, é uma das coisas mais árduas e difíceis propostas pela vida cristã. E é justamente neste ponto que naufragam o maior número de almas. Com frequência se dá o fato curioso de uma alma recém decidida a ser “humilde de coração” ou “aceitar com agrado qualquer tipo de humilhação”, logo em seguida clamar aos céus quando alguém comete a imprudência de lhe ocasionar uma pequena moléstia ou uma involuntária e insignificante humilhação.
Três são, nos parece, os principais meios para se chegar à verdadeira e autêntica humildade de coração: 

Pedi-la incessantemente a Deus 

“Todo dom precioso e todo dádiva perfeita vêm descendo do Pai das luzes”, diz o apóstolo São Tiago (1,17). A humildade perfeita é um grande dom de Deus, que apenas ele pode conceder aos que pedem com profunda e incessante oração. É uma das petições que deveria brotar com maior frequência de nossos lábios e de nosso coração. 

Pôr os olhos em Jesus Cristo, modelo incomparável de humildade. 

Os exemplos sublimes de humildade deixados pelo divino Mestre são eficazes para nos impulsionar a praticar essa grande virtude, apesar de todas as resistências de nosso amor próprio desordenado. O próprio Cristo nos convidou a pôr os olhos n’Ele, quando nos disse com tanta suavidade e doçura: “sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Págs. 274 - 278; 279 - 280.

[...].


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5 SANTA TERESA, MORADAS SEXTAS 10,7.
6 Cf. Santo Tomás, II-II, 161, 5C e ad 2.

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: AS VIRTUDES DERIVADAS OU ANEXAS (PARTE 3)

A VIRTUDE DA PIEDADE 

1. NOÇÃO 
Como virtude especial derivada da justiça, pode ser definida como: “Um hábito sobrenatural que nos inclina a tributar aos pais, à pátria e a todos os que se relacionam com eles a honra e os serviços devidos” (101,3).
[...] 

3. SUJEITOS 
Como acabamos de dizer, os sujeitos sobre os quais recaem a virtude da piedade são três:
a) Os pais, aos quais se refere principalmente, porque eles são, depois de Deus, os princípios de nosso ser, educação e governo.
b) A pátria, porque também ela é, em certo sentido, princípio de nosso ser, educação e governo, enquanto que proporciona aos pais – e por meio deles a nós – muitas coisas necessárias ou convenientes para isso.
c) Os consanguíneos, porque, mesmo que não sejam princípio de nosso ser e governo, neles estão representados, de algum modo, nossos próprios pais, já que todos procedemos de um mesmo tronco comum e “possuímos o mesmo sangue”, como disse Judá aos demais filhos de Jacó que queriam matar a seu irmão José por inveja (Gn 37,27).
Por extensão podem se considerar como parentes aqueles que formam como uma mesma família espiritual (p. ex. os mesmos de uma ordem religiosa, que chamam “pai” comum ao fundador da mesma).

III. A FORTALEZA E SUAS DERIVADAS 

Diferente das outras três virtudes cardeais, a fortaleza não tem partes subjetivas, senão unicamente partes integrais e potenciais ou derivadas, pela razão que vamos indicar. 
a) Partes subjetivas ou especiais
A fortaleza não tem partes subjetivas ou de diversas espécies, por se tratar de uma matéria muito especial e determinada, como são os perigos de morte. Mas, dentro dessa unidade específica subjetiva, destaca um certo ato principal que é o martírio, do qual diremos algumas palavras.

1. MARTÍRIO 

Pode ser definido como: “o ato principal da vida da fortaleza pelo qual se sofre voluntariamente a morte em testemunho da fé ou de qualquer outra virtude cristã relacionada com a fé”.
Segundo essa noção, o martírio se relaciona com quatro grandes virtudes cristãs:
a) Com a fortaleza, que é a virtude da qual brota diretamente (virtude elicitiva). Constitui seu ato principal, já que leva a uma máxima tensão a resistência contra o mal. Não há maior resistência contra o mal: antes entregar a vida do que trair a fé ou apartar-se do caminho da virtude.
b) Com a fé, que é a virtude final pela qual se sofre o martírio, mesmo se tratando de outra virtude cristã (p. ex. em defesa da castidade). Se não se relaciona com a fé não haveria verdadeiro martírio (p. ex. uma mulher que se deixa matar somente para conservar a honra, desde o ponto de vista puramente humano). Por isso se diz com razão que o mártir é uma testemunha da fé cristã, ao dar sua vida por ela.
c) Com a caridade, que é uma virtude imperante, ou seja, a virtude motora que impulsiona a sofrer o martírio por amor de Deus ou de Cristo. Sem ela, o martírio careceria de valor meritório, como diz expressamente São Paulo (1Cor 13,3). E como a virtude imperante influi no ato realizado com maior profundidade do que a própria virtude elicitiva, segue-se que o martírio é o maior ato externo de caridade que pode se fazer nesta vida: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
d) Com a paciência, que brilha em grau heroico nos mártires, suportando, sobretudo, as longas privações e tormentos que costumam preceder ao próprio ato do martírio.

[...].

VI. A TEMPERANÇA E SUAS DERIVADAS 

A temperança, como virtude cardeal, tem partes integrais, subjetivas e potenciais (ou derivadas). Vamos nos limitar a um simples enunciado com clareza suficiente para nos dar uma ideia exata de cada uma delas.
a) Partes integrantes
São, como sabemos, aqueles elementos que integram uma virtude ou a ajudam em seu exercício. A temperança tem dois:
1º Vergonha. Não é propriamente uma virtude senão uma “certa paixão louvável que nos faz temer o opróbrio e confusão que se segue de um pecado torpe, impulsionando-nos a evita-lo”. Seu pecado oposto é, naturalmente, a desvergonha.
2º Honestidade. Como parte integral da temperança, a honestidade “é o amor ao decoro que provém da prática da virtude”. Coincide propriamente com o honesto e o espiritualmente decoroso. É uma certa limpidez ou pulcritude espiritual que se opõe frontalmente ao torpe, e por isso pertence à temperança. 
b) Partes subjetivas ou espécies
São as diversas espécies nas quais se subdivide uma virtude cardeal. Como a temperança tem por principal missão moderar a inclinação aos prazeres procedentes do gosto e do tato, suas partes subjetivas se distribuem em dois grupos?

i) Sobre o gosto ou a nutrição:
Na comida: abstinência
Na bebida: sobriedade

ii) Sobre o tato ou a geração Temporalmente: castidade
Perpetuamente: virgindade

c) Partes potenciais ou derivadas São as virtudes anexas ou derivadas, que se relacionam em alguns aspectos com sua virtude cardeal, embora não tenham toda sua força ou se ordenem somente a atos secundários. As correspondentes à temperança são as seguintes:
i) Contra as tentações desordenadas muito veementes: continência (refreando as paixões fortes). Moderando a ira segundo a reta razão: mansidão.
ii) Moderando o rigor do castigo: clemência. Moderando os movimentos internos e externos dentro de seus justos limites, segundo seu estado ou condição: modéstia, subdividida em outras cinco:

1. Na estima de si mesmo: humildade.

2. No desejo da ciência: estudiosidade.

3. Nos movimentos do corpo: modéstia corporal.

4. Nos jogos e diversões: eutrapelia.

5. Nos vestidos e adornos: modéstia no ornamento.


Tal é o maravilhoso cotejo das virtudes correspondentes às diversas partes da virtude cardeal da temperança. Ante a impossibilidade material de examiná-las todas dentro dos limites de nossa obra, é preciso fazer uma exceção com a mais importante de todas: a humildade, que é uma das duas grandes virtudes fundamentais que sustentam e levantam todo o edifício sobrenatural, como veremos na continuação. Págs. 265 - 269; 272 - 274.


Link para a continuação do post: TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: AS VIRTUDES DERIVADAS OU ANEXAS (ÚLTIMA PARTE)


quarta-feira, 26 de junho de 2019

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: AS VIRTUDES DERIVADAS OU ANEXAS (PARTE 2)

II. JUSTIÇA E SUAS DERIVADAS 

Como nas demais virtudes cardeais, deve-se distinguir na justiça suas partes integrais, subjetivas e potenciais. Vamos examiná-las cuidadosamente.

a) Partes integrais2 
Em toda justiça, seja geral, seja particular, para que alguém seja chamado de justo em toda a extensão da palavra, são requeridas duas coisas:
1. Apartar-se do mal (não qualquer, mas o nocivo ao próximo à sociedade).
2. Fazer o bem (não um bem qualquer, mas o devido ao próximo).

Estas são, pois, as partes integrais da justiça, sem as quais – ou sem alguma delas – ficaria deficiente e imperfeita. Não basta não prejudicar o próximo (apartar-se do mal); é preciso dar-lhe positivamente o que lhe pertence (fazer o bem).
Como adverte Santo Tomás, o apartar-se do mal não significa aqui uma pura negação (simples abstração do mal), que não supõe nenhum mérito mesmo evitando a pena que nos acarretaria a transgressão, e sim um movimento da vontade rechaçando positivamente o mal (p. ex. ao sentir a tentação de fazê-lo), e isso é virtuoso e meritório (70,1 ad 2).
Notem também que o pecado de transgressão (fazer o mal) é mais grave em si mesmo do que o pecado da omissão (não fazer o bem). Sendo assim, peca mais o filho que injuria a seus pais do que aquele que se limita a lhes dar a honra devida sem injuriá-los. Contudo, o pecado de omissão pode ser mais grave do que o de transgressão; p. ex. é mais grave omitir culpavelmente a missa de domingo do que contar uma mentira jocosa (79,4).

b) Partes subjetivas ou espécies
3 
São três as espécies ou partes subjetivas da justiça: legal (ou geral) e particular, subdividida em outras duas: comutativa e distributiva.
1. A justiça legal é a virtude que inclina os membros do corpo social a dar para a sociedade tudo aquilo que lhe é devido em favor do bem comum. Chama-se legal porque é fundada na exata observância das leis que, quando são justas – unicamente então são verdadeiras leis – obriga seu cumprimento em consciência. Mais ainda: como o bem comum prevalece – em um mesmo gênero de bens – sobre o bem particular, os cidadãos estão por vezes obrigados, por justiça legal, a sacrificar uma parte de seus bens e até mesmo colocar em risco sua vida em defesa do bem comum (p. ex. em uma guerra justa). A justiça legal reside principal e arquitetonicamente no príncipe governante, e secundária e ministerialmente nos súditos (58,6).
2. A justiça distributiva é a virtude que impõe a quem distribui os bens comuns a obrigação de fazê-lo proporcionalmente à dignidade, méritos e necessidades de cada um. A ela se opõe o feio pecado da acepção de pessoas (63), que distribui os bens sociais e as cargas por capricho, favoritismo ou perseguição puramente pessoal, sem jamais ter em conta os verdadeiros méritos particulares nem as regras da caridade. Neste sentido, as chamadas recomendações, em virtude das quais se outorga um benefício ao que menos o merece (somente para comprazer quem o recomendou), constituem um verdadeiro atropelo da justiça distributiva.
3. A justiça comutativa – que realiza em toda sua plenitude e perfeição o conceito de justiça – regula os direitos e deveres dos cidadãos entre si. Sua definição coincide quase totalmente com a de justiça como virtude cardeal: é a constante e perpétua vontade de uma pessoa privada de dar a outra também privada o que lhe pertence em direito estrito e em perfeita igualdade. E assim, p. ex., quem recebeu mil reais deve devolver outros mil, nem mais nem menos. Sua transgressão envolve sempre obrigação de restituir.

c) Partes potenciais ou derivadas

São as virtudes anexas à justiça, relacionadas a ela enquanto convém em alguma de suas condições ou notas típicas, já assinaladas por nós ao estudá-la como virtude cardeal.
Se distribuem em dois grupos:
i) As que falham por defeito de igualdade entre o que dão e o que recebem.
ii) As que não se fundam em um direito estrito do próximo.
Ao primeiro grupo pertencem:
1. A religião, que regula o culto devido a Deus.
2. A piedade, que regula os deveres para com os pais.
3. A observância, dulia e obediência, que regulam os débitos para com os superiores. 


Ao segundo grupo pertencem:

1. A gratidão, pelos benefícios recebidos.
2. A vingança, o justo castigo contra os culpados.
3. A verdade, afabilidade e liberalidade no trato com nossos semelhantes.
4. A epiqueya ou equidade, que inclina a apartar-se com justa causa da letra da lei para cumprir melhor seu espírito.
Impossível estudar detalhadamente todas as virtudes.
4 Mas, dada sua excepcional importância, dedicaremos umas linhas à religião e à piedade para com os pais, limitando-nos à simples enunciação das demais.


A VIRTUDE DA RELIGIÃO
1. NOÇÃO


Pode ser definida como: “Uma virtude moral que inclina o homem a dar a Deus o culto devido como primeiro princípio de todas as coisas” (II-II, 81,3).
É a mais importante das virtudes derivadas da justiça e supera em perfeição sua própria virtude cardeal e a todas as demais virtudes morais em razão da excelência de seu objeto: o culto devido a Deus (81,6). Neste sentido é a que mais se aproxima das virtudes teologais, ocupando por conseguinte o quarto lugar na classificação geral de todas as virtudes infusas.
Alguns teólogos consideram a religião como verdadeira virtude teologal, mas sem fundamento algum. Não advertem que a religião não tem por objeto imediato o próprio Deus – como as teologais – mas o culto devido a Deus, que é algo distinto d’Ele. De todas as formas, é certo que é a virtude que mais se aproxima e se parece às teologais (81,5).
O objeto material da virtude da religião a constituem como os atos internos e externos do culto tributado por nós a Deus. E seu objeto formal ou motivo é a suprema excelência de Deus como primeiro princípio de tudo quanto existe.

2. ATOS 

A religião tem vários atos internos e externos. Os internos são unicamente dois: a devoção e a oração. Os externos, sete: a adoração, o sacrifício, as oferendas ou oblações, o voto, o juramento, o conjuro e a invocação do santo nome de Deus (II-II, 82 pról.). Vamos recordar brevemente.
1. A devoção consiste em uma prontidão de ânimo para se entregar às coisas que pertencem ao serviço de Deus (82,1). Os verdadeiros devotos estão sempre disponíveis e prontos para tudo quanto se refere ao culto ou serviço de Deus. Note-se, todavia, que essa pronta vontade de se entregar a Deus pode provir também da virtude da caridade.
Se pretende-se com ela a união amorosa com Deus, trata-se de um culto de caridade; se a intenção é o culto a serviço de Deus, é um ato da religião. São duas virtudes que se influem mutuamente: a caridade causa a devoção, enquanto o amor nos prontifica a servir ao amigo. A devoção, por sua vez, aumenta o amor, porque a amizade se conserva e aumenta com os serviços prestados ao amigo (82,2 ad 2).
Santo Tomás adverte que a devoção, como ato de religião que é, recai sempre em Deus, não em suas criaturas. A devoção aos santos não deve terminar neles mesmos, senão em Deus através deles. Nos santos veneramos propriamente o que têm de Deus, ou seja, a Deus neles (82,2 ad 3). Por onde se vê quão equivocados estão aqueles que vinculam sua devoção, já não a um determinado santo como causa final da mesma – o que já seria errôneo –, mas a uma determinada imagem de um santo ou da Virgem, fora da qual já não têm devoção alguma. Deve-se corrigir estas coisas com energia, sem “deixa-las passar em branco” sob o pretexto de que são gente ignorante, que não entendem essas coisas, etc.

Classes de culto. Deve-se distinguir entre culto de latria, dulia e hiperdulia.
a) A Deus se venera com culto de adoração ou de latria em virtude de sua excelência infinita. É tão próprio e exclusivo de Deus que, aplicado a qualquer criatura, constitui grave pecado de idolatria.
b) Aos santos lhes corresponde o culto de dulia, ou de simples veneração (sem adoração) pelo que possuem de Deus. A suas imagens se lhes deve um culto relativo, referido ao santo mesmo, não a sua imagem pintada ou esculpida.
c) À Virgem Maria, por sua singular dignidade de Mãe de Deus, se deve o culto de hiperdulia, ou de veneração muito superior à dos santos, mas muito inferior ao culto de latria, que é próprio e exclusivo de Deus. À Virgem Maria se venera, mas não se adora como Deus. Há um abismo infinito entre ambas espécies de culto.
d) A São José, por sua alta dignidade de esposo de Maria e pai adotivo de Jesus, alguns teólogos qualificam seu culto de protodulia, ou seja, o primeiro entre os cultos de dulia devido aos santos.
1. A oração (II-II,83) é o segundo ato interior da virtude da religião, que pertence propriamente ao entendimento, diferentemente da devoção que radica na vontade. Por sua extraordinária importância na vida espiritual lhe dedicamos integralmente a quarta parte desta obra.
2. A adoração (II-II,83) é um ato externo da virtude da religião, pelo qual testemunhamos o amor e a reverência que merece de nós a excelência infinita de Deus, além da nossa plena submissão ante Ele (84,1). De nenhuma maneira pode ser aplicada aos santos, nem sequer à Virgem Maria. Só adoramos a Deus.
3. O sacrifício (85) é o principal ato do culto externo e público. Consiste na oblação externa de uma coisa sensível com sua real imolação ou destruição realizada pelo sacerdote em honra a Deus para testemunhar seu supremo domínio e nossa submissão rendia ante Ele. Na nova lei – a do Evangelho – não há outro sacrifício senão o da Santa Missa, que, por sua renovação incruenta do sacrifício do Calvário, dá a Deus uma glória infinita e tem valor superabundante para atrair sobre os homens tantas quantas forem as graças necessárias. Já estudamos o que se refere à santa missa em outro ponto desta obra.
4. As oferendas ou oblações (89-87), que consistem na espontânea doação de uma coisa para o culto divino. São muitas e variadas, e a Igreja hoje deixa ao encargo dos legítimos costumes dos povos.
5. O voto (89) é “uma promessa deliberada e livre feita a Deus de um bem possível e melhor que seu contrário”. Seu cumprimento obriga grave ou levemente, segundo a importância da matéria sobre a qual recai. Sua transgressão voluntária é um pecado contra a religião, e caso se trate de uma pessoa consagrada a Deus (sacerdote ou religioso), sua transgressão constitui sacrilégio.
6. O juramento (89) é “a invocação do nome de Deus em testemunho da verdade” e só pode se prestar com verdade, com juízo e com justiça. Nestas condições é um ato de religião.
7. O conjuro (90) é outro ato de religião que consiste na “invocação do homem de Deus ou de alguma coisa sagrada para obrigar a outro a executar ou abster-se de alguma coisa”. Feito com o devido respeito e com as condições necessárias (verdade, justiça e juízo), é licito e honesto. A Igreja o emprega principalmente nos exorcismos contra o demônio.
8. A invocação do santo nome de Deus. Consiste principalmente no “louvor externo – como manifestação do fervor interior – do santo nome de Deus no culto público ou privado” (91). É útil e conveniente acompanha-lo de canto ou música “para acender a devoção dos fiéis mais débeis” (91,2).
Contra este ato de religião está a invocação do santo nome de Deus em vão. O nome de Deus é santo e não deve ser pronunciado sem a devida reverência e, por essa razão, nunca em vão ou sem causa. Págs. 256 - 265.


Link para a continuação do post: TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: AS VIRTUDES DERIVADAS OU ANEXAS (PARTE 3)



_____________
2 Cf. Santo Tomás, II-II,79.
3 Ibid, 61; cf. 58 a 5.6.7.
4 Já o fizemos amplamente em nossa Teologia da la Perfección Cristiana, p. 580 ss.

terça-feira, 25 de junho de 2019

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: AS VIRTUDES DERIVADAS OU ANEXAS

1. NOÇÃO
Para entender perfeitamente o que são e o que significam as chamadas virtudes derivadas ou anexas das quatro virtudes cardeais, deve-se ter em conta que a primazia das virtudes cardeais se mostra precisamente na influência exercida sobre todas suas anexas e subordinadas, as quais são como participações derivadas da virtude principal, a qual lhes comunica seu modo, sua maneira de ser e sua influência. São as chamadas partes potenciais da virtude cardeal correspondente, encarregadas de desempenhar seu papel em matérias secundárias, reservando-se a matéria principal para a correspondente virtude cardeal. A influência da principal se manifesta nas subordinadas; quem tenha vencido a dificuldade principal, com maior facilidade vencerá as secundárias.
Mas cabe perguntar: a primazia da virtude cardeal sobre suas subordinadas se refere também à excelência intrínseca? Evidentemente que não. Dentro da justiça estão a religião e a penitência, que são mais excelentes por ter objetos mais nobres; a temperança pertence à humildade, que é mais perfeita como fundamento “ut removens prohibens” de todas as demais virtudes, etc, etc.
De todas as formas deve-se reservar a primazia para as virtudes cardeais, enquanto são dobradiças ou eixos das demais e realizam seu ofício de um modo mais perfeito que suas anexas. E assim, por exemplo, a justiça comutativa – que dá ao próximo o que se lhe deve estritamente – tem mais razão de justiça que a própria religião, já que é impossível dar a Deus estritamente o culto infinito que merece. A matéria ou objeto da alguma virtude anexa pode ser mais excelente que a da cardeal correspondente; mas o modo mais perfeito sempre corresponde à cardeal, porque só ela cumpre todas as condições exigidas para a cardealidade, e não as cumpre nenhuma de suas derivadas ou anexas.

2. NÚMERO
Como já dissemos, as virtudes derivadas ou anexas são muitas. Santo Tomás estuda Suma Teológica mais de cinquenta, e sem dúvida poderiam descobrir algumas mais. Nós vamos estudar muito brevemente as principais, agrupadas em torno da virtude cardeal correspondente.

1. A PRUDÊNCIA INFUSA E SUAS DERIVADAS
Três são as partes em que pode se dividir uma virtude cardeal:
1

i) Integrais, que são elementos que a integram ou a ajudam para seu perfeito exercício como tal virtude.

ii) Subjetivas, ou seja, as diversas espécies em que se subdivide.

iii) Potenciais, que são as virtudes derivadas ou anexas.

Vamos examiná-las em relação à prudência.

a) Partes integrais
São oito as partes integrais da prudência requeridas para seu perfeito exercício, cinco das quais pertencem a ela enquanto virtude intelectual ou cognoscitiva, e as outras três enquanto prática ou preceptiva. Vamos enumerá-las, dando entre parêntesis a referência da Suma Teológica, onde estão amplamente estudadas (II-II,49, 1-8).
1. Memória do passado (49,1), porque não há nada que oriente tanto para o que convém fazer como a recordação dos êxitos ou fracassos passados. A experiência é a mãe da ciência.
2. Inteligência do presente (49,2), para saber discernir (com as luzes da sindéreses e da fé) se o que nos propomos a fazer é bom ou mau, licito ou ilícito, conveniente ou inconveniente.
3. Docilidade (49,3) para pedir e aceitar o conselho dos Sábios e experimentados, já que, sendo infinito o número de casos que se pode apresentar na prática, ninguém pode presumir saber por si mesmo e resolver a todos.
4. Sagacidade (49,4) (chamada também solércia ou eustoquia), é a prontidão de espírito para resolver com rapidez por si mesmo os casos urgentes, nos quais não é possível se deter e pedir conselho.
5. Razão (49,5), que produz o mesmo resultado da anterior nos casos urgentes e dão tempo ao homem para resolvê-los por si mesmo depois de madura reflexão e exame.
6. Providência (49,6) que consiste em concentrar-se bem no fim distante que se tenta (providência, de procul videre, ver desde longe) para ordenar a ele os meios oportunos e prever as consequências que podem se seguir por atuar daquela determinada maneira.
7. Circunspecção (49,7), que é a atenta consideração das circunstâncias para julgar em vista delas se é ou não conveniente realizar tal ou qual ato. Há coisas que, consideradas em si mesmas, são boas e convenientes para o fim tentado, mas que, pelas circunstâncias especiais, resultariam contraproducentes ou perniciosas (p. ex. obrigar demasiadamente cedo um homem dominado pela ira a pedir perdão).
8. Cautela ou precaução (49,8), contra os impedimentos extrínsecos que podem ser obstáculos ou comprometer o êxito da empresa (evitando p. ex. o influxo pernicioso das más companhias).
Advertência prática. Em coisas de pouca importância se poderia prescindir de algumas destas condições. Mas, em se tratando de uma empresa de importância, não haverá juízo prudente se não se levar em conta todas elas. Daí a grande importância que têm sobre a prática a recordação e a frequente consideração. Quantas imprudências não cometeremos por não tomarmos essa pequena precaução!


b) Partes subjetivas
A prudência se divide em duas espécies fundamentais: pessoal ou monástica, e social ou de governo. Como seus próprios nomes indicam, a primeira serve para reger a si mesmo; a segunda se ordena ao governo dos demais. A primeira tem por objeto o bem pessoal; a segunda, o bem comum.
Da primeira já falamos sobre todos seus elementos integrais. A segunda admite várias subespécies, segundo as diversas divisões que podem se estabelecer dentre as muitas. E assim fala Santo Tomás de:
1. Prudência reinativa (50,1) é a que necessita o príncipe para governar o povo com justas leis visando o bem comum.
2. Prudência política ou civil (50,2), que deve possuir o povo para submeter-se às ordens e decisões do governante, cooperando para a consecução do bem comum e sem pôr-lhe nenhum obstáculo.
3. Prudência econômica ou familiar (50,3), que deve brilhar no chefe de família para governar retamente seu próprio lar.
4. Prudência militar, que deve ter o chefe de um exército para dirigi-lo em uma guerra justa em defesa do bem comum. 

c) Partes potenciais
Três são as partes potenciais ou virtudes anexas que se ordenam aos atos secundários, preparatórios ou menos difíceis.

1. Eubulia ou bom conselho (51, 1-2), que dispõe o homem a encontrar os meios mais aptos e oportunos para o fim pretendido; é uma virtude especial, distinta da providência, porque se refere a um objeto formalmente distinto. O próprio da eubulia é aconselhar, e o próprio da prudência é imperar ou ditar o que se deve fazer. Há quem saiba aconselhar e não saiba mandar.

2. Synesis ou bom senso prático (o que vulgarmente costuma-se chamar “sensatez” ou “bom senso”), que inclina a julgar retamente segundo as leis comuns e ordinárias. Se distingue da prudência e da eubulia pela missão judicativa, não imperativa ou conciliativa.

3. Gnome ou juízo perspicaz para julgar retamente segundo os princípios mais elevados do que os comuns e ordinários. Há casos insólitos ignorados pela lei ou nos quais não trata de obrigar por conta de circunstâncias especiais, cujo conhecimento supõe certa perspicácia especial, exigindo por si mesmo uma virtude especial. Se relaciona intimamente com a epiqueya (pertencente à justiça), a qual inclina, em circunstâncias especiais, a um afastamento da letra da lei para cumprir melhor seu espírito. Págs. 249 – 255.

[...].


Link para a continuação do post: TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: AS VIRTUDES DERIVADAS OU ANEXAS (PARTE 2)

_____________
1  SANTO TOMÁS, SUMA TEOLÓGICA, II-II, 48, 1.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Logoterapia e Análise existencial - Livros em PDF




                                                 

terça-feira, 16 de abril de 2019

Robert D. Hare - Sem Consciência - 1ª Ed. 2013


Psicofarmacologia - Stahl 4ª Ed


 

domingo, 7 de abril de 2019

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: VIRTUDES TEOLOGAIS

Virtudes Teologais
EXPOSTA JÁ A TEORIA GERAL sobre as virtudes cristãs ou infusas e a correspondente aos dons do Espírito Santo, que as complementam elevando-as à sua máxima perfeição, vamos estudar agora cada uma das principais virtudes em seus três grupos fundamentais: teologais, cardeais, e derivadas destas últimas.
Comecemos, naturalmente, pelas virtudes teologais, que são, de longe, as mais importantes de todas as virtudes infusas.
Como se sabe, as virtudes teologais são unicamente três: fé, esperança e caridade. São as virtudes mais importantes da vida cristã, base e fundamento de todas as demais. Seu ofício é unir-nos intimamente a Deus como Verdade infinita (a fé), como suprema Bem-aventurança para nós mesmos (a esperança) e como sumo Bem em si mesmo (a caridade). São as únicas que estão em relação imediata com Deus, todas as demais se referem imediatamente a coisas distintas de Deus. Daí a suprema excelência das virtudes teologais sobre todas as demais.

I. A VIRTUDE DA FÉ
1. NOÇÃO

Em geral, se entende por fé o assentimento ou aceitação de um testemunho pela autoridade de que o dá. Se quem dá esse testemunho é um homem e cremos nele pela confiança que merece enquanto pessoa, temos fé humana; se quem dá esse testemunho é Deus e cremos n’Ele por sua autoridade divina, que não pode enganar-se nem nos enganar, temos a fé divina. Esta última é a primeira virtude teologal que estamos examinando.
Segundo estas noções, a fé teologal ou sobrenatural pode ser definida mais detalhadamente com a seguinte definição do Concílio Vaticano I:
“A Igreja a professa (a fé) como virtude sobrenatural, pela qual, sob inspiração de Deus e com a ajuda da graça, cremos ser verdade o que ele revela, não devido à verdade intrínseca das coisas conhecidas pela luz natural da razão, mas em virtude da autoridade do próprio Deus revelante, o qual não pode enganar-se nem enganar” (D 1789/ DH 3008).
Estudemos palavra por palavra esta magnífica definição, que nos dará um conhecimento cabal e muito completo do que é a virtude teologal da fé.
Virtude sobrenatural, quer dizer, infusa por Deus em nossa alma (entendimento), que rebaixa e transcende infinitamente toda a ordem natural, e seria impossível, por isso mesmo, adquiri-la somente pelas forças naturais.
Pela qual, sob inspiração de Deus e com ajuda da graça. Seria de todo impossível a fé sem a prévia noção e ajuda da graça; porque sendo, como acabamos de dizer, uma virtude sobrenatural que rebaixa e transcende infinitamente toda a ordem natural, o homem não poderia alcançá-la jamais abandonado às suas próprias forças naturais; é absolutamente necessário que a graça o mova e ajude a produzir o ato sobrenatural da fé. De onde seguem claramente duas coisas muito importantes: a) que a fé é um dom de Deus, totalmente gratuito e imerecido por parte dos do homem
e b) que os argumentos apologéticos que demonstram a credibilidade da religião católica podem nos conduzir até as portas da fé, mas não podem nos dar a fé, que em si mesma é uma realidade sobrenatural, que só pode ser efeito da livre doação de Deus mediante sua divina graça.
Cremos. É o ato próprio da fé. A fé não vê nada, se limita a crê-lo pela autoridade de quem dá o testemunho. Como se diz em teologia, a fé é de non visis, e aquele que exigisse a clara visão ou evidência intrínseca das verdades da fé demonstram não ter a menor ideia da natureza mesma da fé. A fé é incompatível com a visão, e por isso desaparecerá absolutamente no Céu ao ser substituída pela visão beatífica de Deus; o mesmo se dá neste mundo quando desaparece a fé humana em relação à existência de uma cidade, no mesmo instante em que pela primeira vez pisamos em seu solo.
Ser verdade, quer dizer, estamos firmemente convencidos e seguros da verdade de tudo quanto Deus se dignou revelar.
O que Ele revela. É o objeto material da fé, constituído por todo o conjunto das verdades reveladas.
Não devido à verdade intrínseca das coisas conhecidas pela luz natural da razão. Deixaria de ser fé sobrenatural caso se visse sua verdade intrínseca pela luz natural da razão. Sequer na fé humana se dá a visão de sua verdade intrínseca, pois é totalmente incompatível com a noção mesma da fé, fundada não na razão, mas no testemunho alheio.
Mas em virtude da autoridade do próprio Deus revelante. É o objeto formal, ou motivo da fé sobrenatural, que a específica e diferencia infinitamente de qualquer outra classe de fé.
O qual não pode enganar-se nem enganar. Em virtude dessa dupla impossibilidade, o assentimento sobrenatural da fé é firme e certo. Não há certeza física, nem matemática, nem metafísica que possa superar a certeza objetiva da fé sobrenatural. É a maior e mais absoluta de todas as certezas, já que todas as demais se fundam na aptidão natural de nosso entendimento para conhecer a verdade (ou seja, em algo puramente criado e finito), enquanto que a certeza da fé sobrenatural se funda na Verdade mesma de Deus, que é incriada e infinita. Impossível chegar a uma certeza maior.

[...].

II. A VIRTUDE DA ESPERANÇA
1. NOÇÃO

A esperança pode ser definida como “uma virtude teologal infundida por Deus na vontade, pela qual confiamos com plena certeza alcançar a vida eterna e os meios necessários para chegar a ela, apoiados no auxílio onipotente de Deus”.
Expliquemos um pouco a definição palavra por palavra.
a) É uma virtude teologal, porque – assim como a fé e a caridade – tem por objetivo o próprio Deus, que será nossa bem-aventurança eterna.
b) Infundida por Deus na vontade, pois seu ato próprio é certo movimento do apetite racional para o bem, que é o objetivo da vontade.
c) Pela qual confiamos com plena certeza. A esperança tende com absoluta certeza para seu objeto, não porque possamos saber com certeza que alcançaremos de fato a salvação eterna – a não ser por uma especial revelação de Deus (D 805/DH 1540) –, e sim porque podemos e devemos ter certeza de que, apoiados na onipotência auxiliadora de Deus (motivo formal quo da esperança), não pode antepor-se a nós nenhum obstáculo insuperável para a salvação.
d) Alcançar a vida eterna. É o objeto material primário da esperança. O objeto formal é o próprio Deus, enquanto bem-aventurança objetiva do homem, conotando a bem-aventurança subjetiva ou visão beatífica.
e) E os meios necessários para chegar a ela. É o objeto material secundário. Abarca todos os meios necessários para a salvação (graça, sacramentos, auxílios) e mesmo os bens naturais enquanto possam nos ser úteis para consegui-la.
f) Apoiados no auxilio onipotente de Deus. Esse é o objeto formal quo, ou seja, o motivo da esperança cristã: a onipotência auxiliadora de Deus, conotando a misericórdia e a fidelidade de Deus a suas promessas.
Não obstante, ainda que a potência auxiliadora de Deus seja o único motivo formal de nossa fé, podemos também, de algum modo, colocar nossa esperança em algumas outras coisas secundárias ou instrumentais que operam sob a ação principal de Deus. Tais são a humanidade adorável de Cristo que foi instrumento utilizado por Deus para nossa redenção; a Santíssima Virgem Maria, a quem invocamos na Salve Rainha com o doce nome de esperança nossa, e de quem esperamos que nos alcance de Deus a graça soberana da perseverança final; a intercessão dos anjos bem-aventurados do Céu; as orações dos justos na Terra, etc.

[...].

III. A VIRTUDE DA CARIDADE
1. NOÇÃO

A natureza íntima de uma coisa nos é dada a conhecer por sua definição, caso esteja bem feita. Vamos dar, em primeiro lugar, a definição completa e detalhada da virtude da caridade e, em seguida, examinaremos atentamente, palavra por palavra, cada um de seus elementos constitutivos. A definição soa assim:
A caridade é uma virtude teologal única, infundida por Deus na vontade, pela qual o justo ama a Deus por si mesmo com amor de amizade sobre todas as coisas, e a si mesmo e ao próximo por amor a Deus.
2
A caridade... A palavra caridade pode ser tomada em diversos sentidos. Pode ter, entre outros, os seguintes significados:a) O amor essencial com que Deus se ama a si mesmo e a todas as coisas por si mesmo. Se identifica, de certo modo, com a natureza mesma de Deus, segundo a sublime expressão de São João: “Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele” (1Jo 4,16).
b) O amor pessoal no seio da Trindade Beatíssima, ou seja, o Espírito Santo em pessoa. Nesse sentido o usa a liturgia no hino de Pentecostes: “Fons vivus, ignis, caritas...”.
c) O amor de Deus em relação ao homem, principalmente na ordem sobrenatural, segundo Jeremias: “Eu te amo com amor de eternidade (in caritate perpetua)” (Jr 31,3), e São João: “Foi assim que o amor de Deus se manifestou em nós: Deus enviou o se Filho único ao mundo, para que tenhamos a vida por meio dele” (1Jo 4,9).
d) O amor de benevolência, com que amamos sobrenaturalmente a Deus e ao próximo por Deus. Este é o sentido nos seguintes textos de São Paulo: “Quem nos separará do amor (caridade) de Cristo?” (Rm 8,25); “Se eu falasse as línguas dos homens e as dos anjos, mas não tivesse amor... eu nada seria” (1Cor 13, 1-2); “arraigados e fundados na caridade” (Ef 3,17); “suportai-vos uns aos outros na caridade” (Ef 4,2).
e) O amor de compaixão para com o próximo quando lhe socorremos por amor a Deus. Neste sentido qualificamos como caridosas todas as pessoas que dão esmolas, pois a esmola mesma é uma obra de caridade.
f) O hábito sobrenatural infundido por Deus na vontade de que já falamos na própria definição. É neste sentido que o empregamos aqui.
É uma virtude teologal. É virtude porque é evidentemente um ato bom e louvável em toda a extensão da palavra; e é teologal porque tem Deus como objeto próprio e imediato.
Única. A caridade, de fato, é uma virtude especificamente una em espécie, atômica, indivisível. Porque, mesmo que seu objeto material constitua objetos tão variados e diferentes entre si (Deus, nós e o próximo), o motivo do amor – que é a razão específica – é único: a divina Bondade em si mesma como objeto da bem-aventurança comum a Ele, a nós mesmos e ao próximo (cf. Suma Teológica, II-II,23,5).
Desta característica, do fato de que a caridade seja uma só virtude indivisível, mesmo recaindo sobre três objetos materiais tão diferentes, se desprendem duas consequências importantes:
1ª. O amor sobrenatural de nós mesmos ou do próximo por Deus tem o nível e a categoria de virtude teologal, porque tem sempre a Deus como motivo formal – que é a razão específica – mesmo sendo o objeto material distinto de Deus.
2ª. Quando nos amamos a nós mesmos ou ao próximo por algum motivo distinto de Deus (p. ex. por simpatia natural, companheirismo, compaixão de suas misérias, ou por simples parentesco natural, etc.) não fazemos um ato de caridade sobrenatural no sentido estrito da palavra, mas de uma simples virtude natural adquirida (p. ex. de filantropia, altruísmo, etc.) incomparavelmente inferior à caridade.
Infundida por Deus. Só Ele pode infundi-la em nós, já que, como virtude natural, o homem jamais poderia adquiri-la por suas próprias forças naturais. Deus a infunde no momento mesmo em que o pecador recebe a graça santificante (pelo batismo, a absolvição sacramental ou ato de perfeita contrição).
Na vontade. A caridade, como hábito infuso, reside na vontade, já que seu ato é um movimento de amor para com o sumo Bem, e o amor e o bem constituem precisamente o ato e o objeto da vontade (Ibid. II-II, 24,1).
Dessa doutrina se desprende uma consequência lógica muito importante, na qual o amor sensível não é necessário, nem tem nada a ver com a caridade sobrenatural, que é uma realidade suprassensível. Há grande caridade com pouco ou nenhum sentimento, e grande sentimento com pouca e até nenhuma caridade. Contudo, o amor sensível (“os consolos de Deus”) são também muito estimáveis e podem servir de incentivos para a intensificação do próprio amor divino e para as obras reclamadas por ele; com isso, todavia, não devemos nos apegar nem buscar a eles em si mesmos, o que supõe uma espécie de gula espiritual, como disse São João da Cruz.
Pela qual o justo. Dizemos o justo porque, mesmo a caridade se distinguindo realmente da graça santificante, ordinariamente estão sempre juntas. Um pecador pode fazer um ato de perfeita caridade sob a influência de uma graça atual, tendo por resultado a infusão da graça santificante na alma e a virtude na vontade.
Ama a Deus por si mesmo. Por Deus em si mesmo, entende-se a essência divina com todos os atributos e as três divinas pessoas. Mas note-se que o objeto formal da caridade (motivo quo na terminologia escolástica) é Deus enquanto sumo Bem; mas não considerado como objeto de sua bem-aventurança e da nossa. Amamos a Deus com amor de caridade, enquanto a Bondade divina, infinitamente amável em si mesma, está destinada também para nós mesmos: incoativamente
3 nesta vida pela graça e consumativamente4 na outra pela glória. É, simplesmente, um amor a Deus como amigo.
Como amor de amizade. À primeira vista parece que não se pode falar de verdadeira amizade entre Deus e o homem por razão da infinita distância existente entre ambos. A verdadeira amizade parece exigir certa igualdade ou semelhança de natureza, dignidade, nível social, etc. E assim nenhum mendigo pretende ser amigo do rei ou de uma pessoa de alta dignidade muito superior à sua.
Apesar desses inconvenientes, a caridade sobrenatural constitui uma verdadeira e própria amizade entre Deus e os homens. Porque a amizade não é outra coisa senão um certo amor de mútua benevolência, fundado sobre alguma comunicação de bens entre os amigos. Requer, por isso mesmo, três condições: primeira, que seja amor de benevolência, desejando o bem do amigo pelo amigo, sem buscar a própria utilidade, o que seria amor de concupiscência. Segunda, que o amor seja mútuo e a benevolência recíproca. Terceira, que haja comunicação de corações. Ora, a caridade cumpre essas três condições, porque:
i) Por ela amamos a Deus por si mesmo, com verdadeiro amor de benevolência; nos congratulamos por suas infinitas perfeições, desejamos e procuramos a glória externa de Deus, a honra, a obediência, a exaltação de seu nome, nos entristecemos e nos condoemos pelas ofensas e injúrias que lhe fazem.
ii) A caridade é o amor mutuo, porque lemos nos Provérbios: “Amo aqueles que me amam” (Pr 8,17); e São João: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23). Observamos que, por uma parte, os justos que amam a Deus lhe oferecem seus coração e todas as coisas; por outra, Deus se entrega ao justo, vem a ele e estabelece sua morada nele e se deixa gozar pelo conhecimento e amor com uma experiência inefável, a qual somente conhecem os que a vivem e que só “a vida eterna sabe” (São João da Cruz). Pela caridade, Deus nos muda e transforma em si mesmo, segundo diz São Paulo: “Mas quem adere ao Senhor torna-se com ele um só espírito” (1Cor 6,7). Finalmente, derrama sobre quem o ama deleites inenarráveis e infunde em seus corações aquela paz que “supera todo entendimento” (Fl 4,7) e que o mundo não pode dar.
iii) Há, finalmente, na caridade, verdadeira comunicação de bens, como acabamos de dizer claramente. E, ademais, com a caridade merecemos a futura comunicação de Deus na pátria pela qual gozaremos eternamente dele, visto tal como é em si mesmo; e então a amizade com Deus, iniciada aqui na Terra, se fará firme, imóvel e sempiterna.
Sobre todas as coisas. O prescreve assim a Sagrada Escritura, tanto no antigo como no Novo Testamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda tua força e com todo o teu entendimento; e teu próximo como a ti mesmo!” (Lc 10,27; cf. Dt 6,15). Essa totalidade de afeto com que se deve amar a Deus significa que não se pode amar a nenhuma outra coisa mais do que a Deus, nem tanto como a Deus. Por isso o pecado mortal – pelo qual o pecador prefere algum bem criado ao Bem supremo – é uma desordem monstruosa contra a divina caridade, que a destrói totalmente.
E a si mesmo e ao próximo. São os outros dois objetos a que se estende a matéria da caridade. Entre eles ocupa o primeiro lugar o amor devido a nós mesmos, por sua vez modelo e exemplo de amor que devemos ter pelo próximo.
Por Deus. É o motivo formal da caridade em todos seus aspectos e manifestações. A razão de amarmos a nós mesmos e ao próximo com amor de caridade há de ser sempre Deus, ou seja, a divina bondade em si mesma e como objeto de nossa comum bem-aventurança. Sem isto, a caridade, enquanto tal, desaparece, para dar lugar a uma simpatia ou amor puramente natural e humano, sem valor sobrenatural no plano da vida eterna. Págs. 179-183; 190-192; 200-208.

[...].


______________

1 “É pela graça que fostes salvos, mediante a fé. E isso não vem de vós: é dom de DEUS!” (Ef 2,8).
2 Mantemos aqui a tradução da definição apresentada pelo autor, a fim de respeitar a ordem da exposição que se segue. No Catecismo da Igreja Católica de 1997 aparece da seguinte forma: “A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas, por si mesmo, e a nosso próximo como a nós mesmos, por amor de Deus” (§ 1822) – NT.
3 (latim tardio inchoativus, do latim inchoo, -are, começar, empreender, construir)
adjetivo1. Que dá ou origina um começo. = INICIAL 2. [Gramática] Diz se do verbo que designa começo ou aumento progressivo de .ação. "incoativo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008 2013, https://dicionario.priberam.org/incoativo [consultado em 27-02-2019].
Consumativo: 1. Designa o momento da consumação do crime, momento em que o ato se aperfeiçoa, se amolda ao tipo penal.

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