1. PRESCRUTANDO A PSICOLOGIA DAS ALTURAS
A TENTAÇÃO DE JESUS (cf. Lc 4, 1-13)
Cheio do Espírito Santo, Jesus retirou-se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde esteve durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo. Não comeu nada durante esses dias e, quando eles terminaram, sentiu fome. Disse-lhe o diabo: “Se és Filho de Deus, diz a esta pedra que se transforme em pão”. Jesus respondeu-lhe: “Está escrito: Nem só de pão vive o homem”. Levando-o a um lugar alto, o diabo mostrou-lhe, num instante, todos os reinos do universo e disse-lhe: “Dar-te-ei todo este poderio e a sua glória, porque me foi entregue e dou-o a quem me aprouver. Se te prostrares diante de mim, tudo será teu”. Jesus respondeu-lhe: “Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto”. Em seguida, conduziu-o a Jerusalém, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo, pois está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, a fim de que eles te guardem; E também: Hão de levar-te nas suas mãos, com receio de que firas o teu pé nalguma pedra”. Disse-lhe Jesus: “Não tentarás ao Senhor, teu Deus”. Tendo esgotado toda a espécie de tentação, o diabo retirou-se de junto dele, até um certo tempo.
O
relato das tentações de Jesus nos oferece uma descrição clássica da luta
interna que se trava na alma de cada homem. A experiência da tentação não só
ilustra os princípios que Jesus escolheu para reger sua vida; ela também revela
as escolhas básicas com que cada homem se depara à medida que deixa o abrigo da
família e entra na arena da vida. Estabelecidas algumas diretrizes fundamentais
nas principais áreas de escolha, as decisões cotidianas passam a depender de
princípios, não de caprichos pessoais. Definidos previamente os princípios
básicos segundo os quais viverá sua vida, o indivíduo não precisa mais se
angustiar com cada decisão nem deixar sua conduta à mercê do puro acaso. Com
efeito, característica distintiva da maturidade é a recusa a agir puramente ao
sabor da ocasião; a decisão atinente a cada ato é tomada em referência a um
princípio.
Uma
insistência básica da fé cristã é que o homem é livre para tomar suas decisões
conscientemente. Sem desconsiderar a influência de fatores inconscientes em
operação na vida da pessoa, o cristianismo afirma, contudo, de modo inequívoco,
que o resultado final da aventura do homem na vida depende de sua resposta
pessoal. Sejam quais forem as experiências nefastas que o acometam, o fator
decisivo não está nas condições, mas na resposta pessoal a essas condições. O
psiquiatra Viktor E. Frankl descreve o homem religioso como aquele que diz
“sim” à vida, como o homem que, apesar de tudo o que a vida lhe impõe, ainda
encara sua existência com a convicção básica de que vale a pena viver. Págs. 17
- 18.
[...].
Seguramente,
a visão de vida centrada em Deus foi agudamente contestada pelo reducionismo de
uma visão científica que reduz tudo às suas origens primordiais e às suas
formas mais primitivas. Mas a tarefa mesma da religião é mergulhar abaixo do
nível dos fatos e explorar as dimensões mais profundas da vida. Um dos
principais méritos de se estudar o registro bíblico é que nele, de modos
simbólicos, as experiências mais profundas do homem, incluindo seus esforços
para abrir canais entre ele próprio e o mundo sobrenatural, são apresentadas em
forma gráfica. A imagem bíblica persistente do homem respondendo ao apelo de
Deus é o modo dramático de dizer que a consciência é mais do que uma
advertência introjetada dos pais; é também o homem se prontificar a realizar o
potencial pleno para o qual foi criado. Como diz Frankl, “A
consciência é a voz da transcendência; o homem ouve a voz, mas não a
origina”. Págs. 19 - 20.
[...].
[...].
As tentações de Jesus ilustram vividamente que o princípio unificador das
muitas facetas da sua personalidade foi o fato de ele relacionar todas as
questões da vida à dimensão que incluía Deus. Quando procuramos compreender a
origem do seu poder, descobrimos que ele estava em sua intimidade com Deus.
Quando procuramos compreender a paciência do seu ministério, descobrimos que
ela estava em sua constante busca de Deus. Quando procuramos compreender a
coragem da sua fraqueza, descobrimos que ela estava em sua consciência da
presença do Espírito de Deus em sua vida. Ainda mais do que isso, porém, a
experiência das tentações deixa claro para nós o caminho pelo qual ele chegou
ao senso inabalável de direção que caracterizou todo o seu ministério. p. 21.
A primeira tentação que assediou Jesus, e que importuna a todos nós, foi a de deixar prevalecer o princípio do prazer, a tentação de satisfazer os desejos sensuais imediatos sem levar em consideração objetivos de longo prazo. Para ver como essa tentação é comum, basta apenas lembrar como a fome extrema tende a anular todos os outros interesses, como uma dor aguda tende a dissipar todas as outras preocupações, como extremos inesperados de temperatura tendem a reduzir a eficiência humana. A tendência comum é satisfazer as solicitações urgentes do corpo para livrar-se da fome (física ou sexual), da dor ou do frio. No entanto, provas as mais diversas demonstram, de forma cristalina, que a lei da autopreservação não é a única que vigora entre os homens. Onde há compromisso com uma missão de vida, onde existe lealdade a um valor supremo, ali se revela falsa a perspectiva que insiste em sustentar que todos os valores superiores dependem da satisfação prévia dos impulsos mais primitivos.
[...].
Quando Frankl afirma que nos campos havia
“muitos exemplos – frequentemente heroicos – que provavam que mesmo nos campos
os homens... não precisavam se submeter às leis internas aparentemente
onipotentes da deformação psíquica”, ele está salientando o que Dorothy
Thompson escreveu depois de visitar Dachau e de estudar os históricos de vida
dos internos: “Os que continuavam sendo homens, em condições da mais
desumana brutalidade, serviam a uma imagem e a um ideal muito superiores às
realizações mais elevadas do homem”. Frankl descreve como a falta de
vínculos como valores espirituais resultava na manifestação de características
bestiais:
O responsável último pelo estado do eu interior do prisioneiro não eram tanto as causas psicofísicas enumeradas, e sim o resultado de uma decisão livre. Observações psicológicas dos prisioneiros mostram que apenas os que permitiam que sua lealdade interior ao seu eu moral e espiritual diminuísse acabavam caindo vítimas das influências aviltantes do campo. Conquanto a hipótese freudiana da onipresença do princípio do prazer apresente evidências óbvias que lhe dão sustentação em alguns casos, ela é apenas uma hipótese, e ainda uma hipótese baseada em evidências seletivas. O homem simplesmente não vive de pão apenas; nem sua necessidade de pão precisa ser satisfeita antes que ele atenda às necessidades de outros. Na verdade o preceito “Primeiro sobreviver, depois filosofar” perdeu sua validade nos campos. Frankl é muito claro ao dizer que “o que valia no campo era exatamente o contrário;... filosofar antes, morrer depois”. Quando o modo de viver do homem inclui invariavelmente a Deus, a expectativa futura assume maior importância do que o desejo imediato. Pág. 23.
[...].
Assim, a primeira decisão que Jesus tomou foi
a de renunciar à gratificação imediata em proveito de objetivos futuros mais
valiosos. Ele definiria sua linha de ação não de acordo como o que parecia
impor-se como o melhor para ele no momento, mas segundo o que os objetivos de
longo prazo exigiam, conforme vistos à luz da vontade de Deus para ele. Nem
sempre lhe era fácil ver a vontade de Deus, fato que fica muito claro na oração
angustiante no Jardim do Getsêmani, cujas palavras finais são, “Contudo, não a
minha vontade, mas a tua seja feita!” (Lc 22,42).
A segunda tentação enfrentada por Jesus e com a qual todos nos defrontamos é a de deixar que o princípio do poder predomine; colocar a ambição pessoal por posição e prestígio acima de tudo. Essa tendência chega a ser tão imperiosa que Alfred Adler viu nela a motivação básica da vida. Ao enfatizar a importância da autoestima, vários analistas da cultura (Sullivan, Horney, Fromm) demonstram como é comum as pessoas lutarem por posições elevadas movidas pela ânsia de poder. Ninguém está totalmente livre da tentação de aproveitar-se de outros para fortalecer sua posição.
Não há como negar a necessidade de uma autoestima saudável. Como a psicanálise nos ajudou a compreender, é óbvio que antes de amar o próximo precisamos amar a nós mesmos “apropriadamente”. Uma relação positiva como o próximo brota de um sentimento positivo a respeito do próprio eu. Estamos começando a entender que, em vez de condenar uma pessoa por uma atitude sua repreensível, precisamos compreender que o que ela precisa realmente é descobrir um valor maior em si mesma. É lamentável constatar que, em nossa sociedade impessoal, muitas pessoas com baixa autoestima só encontram aceitação de fato numa relação formal com um terapeuta, da qual extraem uma avaliação mais positiva de si mesmas.
[...]. Por fim, alcança-se a posição, não
correndo atrás dela, mas merecendo-a. Quando buscamos o poder diretamente, seja
curvando-nos diante do diabo ou dando o lugar de honra aos objetivos demoníacos
da riqueza, da posição ou da fama, o resultado é evidente. A ânsia de poder
leva à subserviência ao demônio. Em termos de lealdades divididas, é alto
demais o custo da submissão dos padrões superiores aos inferiores, da repressão
dos relacionamentos pessoais para proveito do sucesso organizacional. Em última
análise, como salienta Frankl repetidamente, a ânsia de poder nunca é satisfeita
diretamente, e só encontra sua realização como subproduto. A autoestima nasce
de “avaliações refletidas” positivas dos que foram ajudados. Essa é a resposta
que Jesus dá ao diabo e que é mais especificada no decorrer do seu ministério:
a posição de honra cabe a quem serve. (ver especificamente Jo 13, 3-16). [...].
A terceira tentação, sofrida por Jesus e também por nós, é a de
eximir-se da responsabilidade pessoal. Mas insidiosa do que
as duas anteriores, essa tentação assumiu proporções alarmantes, especialmente
na cultura estadunidense, que é tão absolutamente dominada pelo determinismo
psicológico e sociológico. Sem dúvida, a forma específica que a tentação assume
para nós tem pouco a ver com lançar-se do pináculo do templo, mas o princípio é
igualmente válido. Para nós, a tendência específica é justificar o nosso
comportamento presente considerando-o consequência de um trauma lamentável
sofrido na infância, de um relacionamento conturbado com os pais ou da pouca
atenção recebida. p. 26
A psicologia profunda nos
ajudou a perceber que só podemos compreender o presente em termos do passado. O
que agora precisamos, no entanto, é dar-nos conta de que o futuro não depende
do passado, mas é moldado por nossa decisão consciente no “agora”. [...]. O
homem é responsável por suas escolhas. De fato, o traço mais característico do
ser humano é a responsabilidade. Além de todas as
influências condicionantes, a vida do homem desenrola-se à medida que ele
exerce sua liberdade de tomar decisões conscientes. Jesus não transferia para
Deus, para seus pais ou para terceiros a responsabilidade que, por direito, lhe
cabia. Ele exerceu se direito humano de aceitar a responsabilidade pelas
consequências de suas ações, e ao fazê-lo ele também definiu o padrão para a
nossa vida. Págs. 26 - 27.
[...]. No geral, o mundo terapêutico mantém-se
indiferente com relação ao modo como o paciente vê sua vida. A insistência de
Frankl em se assumir responsabilidade pelo que se é e pelo que se pode vir a
ser, então, é uma mudança oportuna com relação a grande parte do determinismo
que o mundo da terapia ensinou, [...]. É necessário, então, que uma psicologia
das profundezas seja suplementada com uma psicologia das alturas que não
desconsidere as dimensões abismais escuras do ser do homem, mas que também
reconheça as altitudes que ele pode alcançar. Sem por um momento sequer reduzir
a importância do esforço de Freud de trazer à tona as forças demoníacas que se
ocultam no inconsciente, eu gostaria de dizer, ecoando Frankl, que existe
também um inconsciente espiritual e que o homem só encontra sua orientação
básica para a vida à medida que se entende com essas duas dimensões. [...]. Com
muita propriedade, Frankl assim se expressa: em vez de dizer que “o
homem é um animal sublimado, podemos demonstrar que ele esconde dentro de si um
anjo reprimido”.
É na atmosfera de uma psicologia das alturas que
termina a experiência das tentações. De que forma melhor o resultado poderia
ser registrado do que dizendo que “os anjos de Deus se aproximaram e
puseram-se a servi-lo” (Mt 4,11)? Quando foram tomadas decisões
fundamentais sobre uma orientação de vida, quando foi escolhida uma direção que
mantém a vida da pessoa aberta a Deus e, por consequência, aos valores supremos
da vida, uma sensação de contentamento sereno preenche o coração, uma sensação
tão diferente da angústia da luta espiritual quanto são os anjos diferentes do
diabo. p. 29.
2. ACIONANDO O PODER DESAFIADOR DO ESPÍRITO HUMANO
ZAQUEU (cf. Lc 19, 1-10)
Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade.
Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos. Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali.
Quando chegou àquele local, Jesus levantou os olhos e disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa”. Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus, cheio de alegria. Ao verem aquilo, murmuravam todos entre si, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um pecador.
Zaqueu, de pé, disse ao
Senhor: “Senhor, vou
dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa,
vou restituir-lhe quatro vezes mais”.
Jesus disse-lhe: “Hoje veio a salvação a
esta casa, porque ele também é um filho de
Abraão; pois, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.
De todos os relatos sobre os encontros de
Jesus com seus contemporâneos, nenhum é mais límpido e minucioso do que o
episódio envolvendo Zaqueu. Deparamo-nos com a história atemporal de uma luta
por posição que resultou em alienação pessoal e em afastamento da comunidade. E
nos deparamos com uma amostra de como a pessoa alienada pode reintegrar-se à
comunidade. De muitas formas, Zaqueu tipifica o homem contemporâneo de maneira
muito mais decisiva do que talvez queiramos admitir. A sensação de alienação ou
isolamento é normalmente percebida como marca característica da vida urbana
contemporânea; basta consultar as estatísticas relativas ao número de pessoas
que moram sozinhas em um ou dois cômodos para perceber como isso é verdade.
[...]. Págs. 31 - 32.
[...].
Vendo Zaqueu sob essa luz, como um homem
excluído dos relacionamentos, impelido à posição do inimigo por sempre
deparar-se com a rejeição em suas tentativas de alcançar uma posição adequada
na comunidade, começamos a entender o verdadeiro significado do episódio do
Evangelho. Sim, Zaqueu é descrito como uma pessoa de estatura baixa, fato
que ele procura compensar subindo na árvore. Num sentido mais profundo, porém,
ele estava no “alto de uma árvore”, ou seja, não conseguia encontrar as pessoas
no nível do chão, numa relação face a face. [...]. p. 35.
Uma contribuição importante da psicologia
profunda consiste em revelar a relação existente entre causa e
efeito. Todo comportamento pressupõe um motivo, e esse motivo muitas vezes
oculto no início, pode ser descoberto. A explicação da sequência causa-efeito
tanto no nível consciente como inconsciente contribuiu imensamente para uma
efetiva compreensão do homem. Por exemplo, aceitar, como aceita Harry Stack
Sullivan, que cada indivíduo desenvolve sua “operação de segurança” específica,
suas próprias formas de defesa do seu senso de autoestima e de seus sentimentos
de significado pessoal, é começar a entender que a ação, apesar de
inexplicável, está imbuída de um propósito. No caso de Zaqueu, o motivo pra
assumir a odiada posição de coletor de impostos, para se tornar um lacaio do
inimigo estrangeiro, passa a fazer sentido à luz do conceito de “operação
de segurança”. Não conseguindo atuar de modo significativo no seio da
própria comunidade, sendo levada a se sentir alienada e isolada da comunidade,
a pessoa encontrará uma posição de prestígio em formas opostas à comunidade que
a rejeitou inicialmente. Págs. 35 - 36.
[...]. A pessoa se torna seletivamente
desatenta às oportunidades de tentar alguma outra alternativa. Daí que a
operação de segurança tende a se tornar cada vez mais o método habitual de
reação. Como o padrão habitual de comportamento foi originalmente uma manobra
de defesa e proteção, arriscar uma mudança é expor o eu, tornar-se vulnerável à
angústia pessoal. Daí que a mudança de comportamento originalmente escolhida
como mecanismo de defesa se torna cada vez mais difícil. Assim Zaqueu, tentando
proteger uma autoestima vacilante, abandona seu próprio povo e resolveu
arriscar-se com os odiados conquistadores. Mas ele não era feliz. Preso em sua
própria operação de segurança, ainda alimentava a esperança de poder mudar sua
situação de algum modo. Incapaz de ir ao encontro de Jesus, que despertara sua
curiosidade, ele só podia tentar vê-lo a distância. [...]. p. 36.
[...].
O próprio Zaqueu podia mudar. Criticado como
“colaboracionista”, traidor da própria comunidade, envolvido em transações
desonestas e ardilosas, embaraçado em emaranhados físicos, psicológicos e
sociológicos, não obstante ele podia mudar. [...]. É a partir do mundo da
psiquiatria que redescobrimos a chave para a mudança tão vividamente
demonstrada nesse encontro de Jesus com Zaqueu. Mais importante do que qualquer
teoria, mais básica do qualquer técnica, mais significativa do que qualquer ensinamento
é a relação de pessoa a pessoa existente entre dois indivíduos. Quer seja
interpretada em termos de transferência e contratransferência ou de aumento da
autoestima através de avaliações refletidas positivas ou de percepção mais
realista do eu conforme refletida e definida por um terapeuta empático, a chave
para a mudança está claramente na qualidade do relacionamento com outra pessoa.
Além da aceitação compreensiva implícita em todo aconselhamento responsável,
com fator que torna a relação eficaz está claramente demonstrado no incidente
de Zaqueu: Jesus se arrisca de modo tão sincero e verdadeiro que
Zaqueu encontra coragem para assumir o risco de mudar a si mesmo. Págs.
40 - 41.
[...]
[...]. Para “enfrentar” a crítica da multidão,
Jesus se põe na relação íntima de um convidado à casa de Zaqueu. Nesse simples
ato, ele põe de lado toda prerrogativa de autoridade e se torna aquele em quem
Zaqueu confia para cuidar de sua necessidade humana de renovação e de sua
necessidade espiritual de companhia. Ignorando totalmente a multidão, ele
demonstra, nesse modo ativo e específico, sua aceitação do forasteiro. A
transformação que se segue é apenas o resultado esperado da aceitação
demonstrada nessa grande profundidade. O convite de Jesus supunha que essa mudança
podia ocorrer. Não era uma aceitação que se baseava na mudança, mas que
antecipava a mudança. [...]. A máxima de Goethe, seguidamente citada por
Frankl, diz muito claramente: “Considerando as pessoas como elas
são, nós a pioramos. Tratando-as como se fossem o que deveriam ser, as ajudamos
a se tornar o que são capazes de ser”. Era assim, invariavelmente,
que Jesus agia com as pessoas. Págs. 42 - 43.
[...].
[...] a promessa de reparação pelos males
praticados deixa claro que o primeiro passo para uma mudança já foi dado, a
aceitação da responsabilidade pessoal para moldar padrões de relações futuras.
Que a mudança se completou está implícito nas palavras finais de Jesus.
Salvação significa uma nova espécie de relação que inclui o humano e o
sobrenatural. A salvação (ou “Saúde” na tradução de Tyndale) só pode ser
completa quando as relações são positivas tanto na dimensão humana, de homem
para homem, quanto na dimensão sobre-humana, de homem para Deus. Uma mudança só
é verdadeira quando chega a todos os níveis, conciliando o homem não só com
seus semelhantes, mas também com Deus. p. 43. [...].