10 de setembro de 2017

A RELAÇÃO DA REJEIÇÃO PATERNA NA CONDUTA SEXUAL DE RISCO DAS MULHERES

Artigos, Rejeição Paterna, Psicologia, Transtorno da Personalidade Borderline, Relação Paterna
Com base nas experiências de mulheres que foram rejeitadas por seus pais durante a infância ou pré-adolescência, é possível observar que, na vida adulta, muitas delas adotam comportamentos desregrados e inconstantes em seus relacionamentos amorosos e sexuais. Essa dinâmica pode estar intimamente ligada às rejeições sofridas na infância, uma vez que a rejeição paterna é reconhecida como um fator que contribui para o desenvolvimento de comportamentos sexuais disfuncionais. Como resultado, essas mulheres frequentemente se veem envolvidas em relações que acabam falhando, buscando compensar a dor e a frustração originadas do desprezo parental.

Um transtorno que se destaca nesse contexto é o Transtorno da Personalidade Borderline, associado a comportamentos sexuais de risco, sem necessariamente se enquadrar nas definições de perversão sexual ou ninfomania. De acordo com o DSM-V, os indivíduos com esse transtorno “fazem esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado” (Critério 1). A percepção de uma separação ou rejeição iminente, além da perda de estruturas externas que oferecem segurança, pode provocar profundas alterações na autoimagem, nos afetos, na cognição e no comportamento desse indivíduo.

Outro aspecto a ser considerado é que a prevalência do Transtorno da Personalidade Borderline é significativamente maior em mulheres do que em homens, com cerca de 75% dos diagnósticos sendo realizados em mulheres. Segundo o DSM-V, indivíduos com esse transtorno apresentam um padrão de relacionamentos instáveis e intensos. Eles tendem a idealizar potenciais cuidadores ou parceiros desde os primeiros encontros, exigindo que passem muito tempo juntos e compartilhando detalhes extremamente íntimos logo no início do relacionamento. Contudo, essa idealização pode rapidamente se transformar em desvalorização, caso a pessoa sinta que o outro não se importa o suficiente ou não está presente da maneira que esperava.

A palavra "rejeição" aparece no contexto do diagnóstico, mencionada como critério 1 no DSM-V. No entanto, gostaria de ressaltar que, até o momento, não encontrei nenhum artigo científico ou referência bibliográfica que discorra especificamente sobre a "rejeição paterna" como um fator predominante na manifestação do Transtorno da Personalidade Borderline. É importante notar que, embora o DSM-V utilize o termo "rejeição" de forma geral, isso pode insinuar que a rejeição por parte do pai é um dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento desse transtorno.

À luz de tudo que já discutimos, surge a pergunta: "A rejeição paterna é um fator predominante no desenvolvimento desse transtorno comportamental em mulheres? " A resposta, sem dúvida, é sim. O pai desempenha um papel crucial no desenvolvimento psicossexual de filhos e filhas, e, neste caso específico, das mulheres.

O DSM-V nos revela que muitas delas tendem a idealizar a figura do pai ausente em seus parceiros sexuais. Quando não encontram essa idealização refletida em seus relacionamentos, sentem-se desvalorizadas e partem em busca de outro parceiro, na esperança de amenizar a dor do trauma deixado pela ausência paterna. No entanto, esse comportamento não resolve o problema; na verdade, é uma forma de repressão que impede uma confrontação verdadeira e uma resolução efetiva do trauma.

Concluo o texto com algumas citações do artigo intitulado: A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil, da autora: Edyleine Belline Peroni Benczik. Vamos analisar algumas delas:

1) As teorias psicológicas e as pesquisas científicas afirmam e fundamentam o papel da figura paterna no desenvolvimento e no psiquismo infantil. É pressuposto da teoria psicanalítica o papel estruturante do pai, a partir da instauração do complexo de Édipo. Na trama familiar, o sujeito se constrói e sai do estado de natureza para ingressar na cultura. Freud, em seu trabalho Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância, afirma: “na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada”.
2) Para Aberatury (1991), o lugar do pai, entre seis e doze meses, não é tão destacado na literatura, como acontece com a figura materna, no entanto, o contato corporal entre o bebê e o pai, no cotidiano, é referência na organização psíquica da criança, devido à sua função estruturante para o desenvolvimento do ego.
3) A partir de um estudo de caso clínico e de uma rigorosa revisão da literatura, relacionada à importância da figura paterna na vida dos filhos, Eizirik e Bergamann afirmam que a ausência paterna tem potencial para gerar conflitos no desenvolvimento psicológico e cognitivo da criança, bem como influenciar o desenvolvimento de distúrbios de comportamento.
4) Segundo Muza, crianças que não convivem com o pai acabam tendo problemas de identificação sexual, dificuldades de reconhecer limites e de aprender regras de convivência social. Isso mostraria a dificuldade de internalização de um pai simbólico, capaz de representar a instância moral do indivíduo.
5) A privação do pai pode ter consequências graves, a longo prazo, com problemas na modulação e na intensidade do afeto. 6) O vazio promovido pela ausência do pai, segundo Ferrari, é formado pela noção das crianças de não serem amadas pelo genitor que está ausente, com uma grande desvalorização de si mesmas, em consequência disso. Além dessa autodesvalorização, ocorrem os sentimentos de culpa por a criança se achar má, por acreditar haver provocado à separação e até por ter nascido.

Como destacam as citações, o papel do pai é fundamental para o desenvolvimento saudável dos filhos, especialmente nos primeiros anos de vida. Essa presença paterna é crucial para que, na fase adulta, os indivíduos não enfrentem dificuldades nas interações sociais, comportamentos disfuncionais afetivos e questões psíquicas. Embora o artigo que usamos para contextualizar essa discussão foque na relação pai-filho, não podemos ignorar que esses conceitos se aplicam também às filhas. Os pais têm um papel significativo na formação das mulheres, especialmente no que se refere a evitar comportamentos anormais, como os associados ao Transtorno da Personalidade Borderline; e a formação de um senso moral e à construção de uma vida emocional saudável.


Referência:

BENCZIK., Edyleine Bellini Peroni. A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. Psicopedagogia: Trabalho realizado no Psiquê - Núcleo de Psicologia, São Paulo, p.67-75, 18 jan. 2011.

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