quarta-feira, 4 de outubro de 2023

TRECHOS SELECIONADOS DE ALGUNS CAPÍTULOS: Jesus e a Logoterapia. O ministério de Jesus interpretado à luz da psicoterapia de Viktor Frankl (3ª Parte)

Livro; Jesus e a Logoterapia
Realizando valores criativos
Pedro (cf. Mt 16,13-19; Lc 22,31-34; 54-62)

Ao chegar à região de Cesárea de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?”
Eles responderam: “Uns dizem que é João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos profetas.”
Perguntou-lhes de novo: “E vós, quem dizeis que Eu sou?”
Tomando a palavra, Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Jesus disse-lhe em resposta: “És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou, mas o meu Pai que está no Céu. Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra será desligado no Céu”. (Mt 16,13-19).
E o Senhor disse: “Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos”.
Ele respondeu-lhe: “Senhor, estou pronto a ir contigo até para a prisão e para a morte”. Jesus disse-lhe: “Eu te digo, Pedro: o galo não cantará hoje sem que, por três vezes, tenhas negado conhecer-me”. (Lc 22,31-34).


Apoderando-se, então, de Jesus, levaram-no e introduziram-no em casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia de longe. Tendo acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se e Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: “Este também estava com Ele”. Mas Pedro negou-o, dizendo: “Não o conheço, mulher”. Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: “Tu também és dos tais”. Mas Pedro disse: “Homem, não sou”. Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: “Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu”. Pedro respondeu: “Homem, não sei o que dizes”. E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: “Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes”. E, vindo para fora, chorou amargamente. (Lc 22,54-62).

A história de Simão Pedro é a história de uma transformação radical, o testemunho inequívoco do impacto exercido por Jesus sobre um homem. De forma ainda mais específica, porém, ela demonstra a mudança que pode ocorrer quando uma causa importante absorve a vida de um homem. Desde o início do relato, Pedro aparece como uma pessoa bem-intencionada, mas desajeitada; suas intenções são sempre boas, mas suas declarações impulsivas raramente se transformam em ação concreta. Qualquer que seja a impressão que tenhamos a respeito das tentativas de Pedro de caminhar sobre as águas (cf. Mt 14,25-33) ou de defender Jesus no Jardim do Getsêmani (cf. Jo 18,10-11), ele é representado como um homem de emoções intempestivas cujo coração está no lugar certo, mas cujas ações são frequentemente inoportunas. Rápido em afirmar sua lealdade, sua tríplice negação de que nem sequer conhecia Jesus, não obstante ter sido prevenido, foi típica de sua instabilidade quando posto sob pressão. No entanto, Pedro se tornou o porta-voz dos discípulos, era o líder do círculo interior dos mais próximos de Jesus e exerceu a liderança depois da morte e ressureição de Jesus (cf. At 1-5).

Podemos compreender a transformação na vida de Pedro principalmente em termos de missão que ele se comprometeu a cumprir. A tríplice investidura “Apascenta as minhas ovelhas”, registrada em Jo 21,4-19, destaca a consciência do propósito que o motivou de da morte de Jesus. Suas deficiências passadas diluíam-se diante das tarefas futuras que o aguardavam. É como se a ordem de Jesus no primeiro encontro com Pedro se tornasse o objetivo da sua vida: “Faze-te ao largo; lançai vossas redes para a pesca” (Lc 5,4). [...]. Uma das teses fundamentadas de Frankl é que, diante de uma missão digna de ser realizada, a vida passa por uma transformação radical. Ele também sustenta que cada pessoa tem uma missão, uma tarefa de vida à sua espera. [...]. p. 95.

Essa atitude advogada por Frankl não pergunta o que o homem pode esperar da vida, mas sim o que a vida espera do homem. Falando de suas experiências nos campos de concentração, ele escreve:

Precisamos parar de perguntar sobre o sentido da vida, precisávamos pensar em nós mesmos como alguém que estava sendo questionado pela vida – a cada dia, a cada hora. Nossa resposta devia consistir em ação concreta, não em conversas e reflexões. No fim das contas, viver significa assumir responsabilidade de encontrar as respostas corretas para os problemas que a vida apresenta a realizar as tarefas que ela incessantemente atribui a cada um.

[...].

Já mencionamos que, para Frankl, a missão mais importante do homem consiste em encontrar um sentido para a vida. Uma das grandes contribuições que ele nos dá é a de explicitar como podemos encontrar esse sentido pessoal. Ele especifica três modos principais como podemos encontrar esse sentido pessoal: a realização de valores criativos, de valores experienciais e de valores atitudinais. No momento, concentramo-nos na primeira modalidade: valores criativos. O sentido na vida de uma pessoa realiza-se de modo mais imediato através do ato criativo, do envolvimento ativa na vida com a finalidade de contribuir por meio das realizações pessoais.

Quem já não sentiu a satisfação de um trabalho bem executado ou do alívio proporcionado pelo cumprimento de uma incumbência? E quem já não experimentou a depressão que se instala quando não há trabalho a ser feito, obrigação a ser cumprida, tarefa que requeira um potencial pouco usado? Frankl revela como o desejo de publicar a formulação básica da logoterapia ajudou a dar sentido à sua vida nos anos vividos nos campos de concentração. Pouco antes de entrar em Auschwitz, ele perdeu o manuscrito já concluído, mas no período em que ficou preso conseguiu reescrever os temas principais, em parte usando taquigrafia. Quando confinado ao seu beliche com febre tifoide elevada, ele escreveu no verso de formulários mimeografados, com o toco de um lápis, materiais furtados para ele por um dos colegas. Segundo ele, apesar da febre ardente, os pensamentos eram muito claros, e a versão final publicada sofreu poucas alterações com relação ao que ele escrevera. págs. 96-97.

[...].

É claro que aceitar a responsabilidade de executar tarefas de vida, de realizar valores criativos, requer uma etapa intermediária: alguém precisa apresentar o desafio! É evidente que Jesus via seu ministério nesses termos. Ele sempre oferecia um desafio às pessoas que encontrava. Às vezes, esse desafio estava implícito na maneira descrita pelo dramaturgo em “The Passing of the ‘Third Floor Back’”, a peça em que um pensionista desconhecido, ocupando o quarto dos fundos no terceiro andar de uma pensão decadente, afeta de tal forma a vida dos demais pensionistas, a ponto de evocar o melhor do ser de cada um deles e produzir uma mudança radical em suas vidas. Com mais frequência, pelo menos na narrativa evangélica, Jesus apresentava o desafio de modo incisivo: “Vai! Vende! Dá! Vem! Segue!”. Para Simão Pedro, o desafio foi, a um só tempo, uma afirmação e uma esperança: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas;... tu és Pedro [isto é, pedra, do grego petros]” (Mt 16,17-18).

[...].

O senso de indignidade inicial de Pedro está muito bem descrito no relato. Veja, por exemplo, o que ele disse no primeiro contato com Jesus: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!” (Lc 5,8). E pense na cena vivida no pátio da casa do sumo sacerdote onde Pedro negou conhecer Jesus três vezes, cada vez com mais veemência, à medida que a consciência lhe ia pesando mais; depois, cruzando o olhar de Jesus, e ouvindo o galo cantar, ele compreendeu o que havia feito, e então “saiu e chorou amargamente”. Mas Pedro descobriu que o fracasso não era o fim de tudo. Mesmo que não pudesse voltar atrás, ele podia redimir seu passado mudando a si mesmo. Ele jamais poderia apagar o fato de fracassar no momento de crise, mas podia expiar o fracasso tornando-se outro homem, mudando de vida. Nas palavras de Frankl, ele podia desvincular-se do seu ato, distanciando-se dele moralmente. Demonstra-se arrependimento verdadeiro mudando de vida. A mudança de Pedro transparece claramente na história subsequente da Igreja Cristã primitiva. Transparece igualmente que ele fora ajudado a superar seu fracasso. págs. 99-100.

[...].

Muitos em nossos dias ficam confusos com as exigências do sucesso. Ensinados por nossa cultura que “tudo que vale a pena fazer, vale a pena fazer bem”, muitos caem facilmente na armadilha de concluir que o único resultado permitido é o do sucesso. Embora essa exigência de sucesso raramente tenha qualquer validade objetiva, apesar de raramente ser imposta por alguém, ela não obstante opera, em muitas vidas, com uma eficácia fatal. [...]. Uma característica de Jesus era que o apoio emocional que ele oferecia tão livremente era sempre honesto em sua avaliação e sincero em sua franqueza. Ele não se sentia coagido a abrandar os fatos em favor do apoio a uma autoestima abalada. Conhecendo o temperamento de Pedro, ele mostrou como era fácil externar protestos de lealdade quando cumpri-los seria algo bem diferente. [...].

É uma verdade universalmente aceita que relacionamentos pessoais verdadeiros devem ser abertos e honestos. Era importante Jesus falar abertamente a Pedro a respeito de profissões de lealdade demasiado espontâneos, mas não só importante; era também desejável que a relação deles fosse suficientemente livre para possibilitar a expressão de aspectos menos agradáveis. Quando Jesus criticou o sonolento Pedro, que não conseguiu manter-se acordado durante a crise pessoal de Jesus no Horto das Oliveiras, ele podia falar sobre o fato livremente. Esse tipo de liberdade demonstrada por Jesus em tantos dos seus relacionamentos está recebendo destaque em muitos escritos atuais como um aspecto fundamental na terapia. Paul Tournier escreve sobre a importância de uma liberdade nas relações humanas que permita uma expressão aberta de sentimentos genuínos.

Percebi que, adotando um tom mais pessoal, eu ajudava outros a se tornarem mais pessoais, não apenas no consultório, mas em conversas comuns na rua, no serviço militar e numa conferência médica. Compreendi como os homens anseiam por esse contato verdadeiro do qual brota nova vida para soprar como brisa livre entre nós e dentro de nós.

[...]. Frankl comenta um caso semelhante em seu livro:

A agressividade do terapeuta indica sua disposição de encontrar o paciente num nível de homem para homem, colocando-se no mesmo nível do paciente... Demonstrou ao paciente que ele era considerado com seriedade, como uma pessoa responsável por sua ação – em outras palavras, como uma pessoa que devia estar pronta para assumir responsabilidade.

Seguramente, o relacionamento de Jesus com Pedro (e, na verdade, com todos aqueles com quem ele convivia mais intimamente) era mais do que um relacionamento aberto sincero. O aspecto realmente sustentador dessa relação era a aceitação, seja como for que Pedro agisse. Seria difícil descrever o olhar trocado entre os dois no pátio do sumo sacerdote, mas certamente deve ter sido um olhar de aceitação compreensiva, não um olhar de rejeição. [...]. Nem é preciso dizer que a mudança básica que se processou na vida de Pedro consistiu na transformação de uma confiança em recursos pessoais numa confiança em poderes maiores do que os seus próprios. Diante da magnitude da sua missão, suas deficiências humanas perderam importância. [...]. p. 103.


Realizando valores experienciais
Marta e Maria (cf. Lc 10,38-42)

Continuando o seu caminho, Jesus entrou numa aldeia. E uma mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, a qual, sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra. Marta, porém, andava atarefada com muitos serviços; e, aproximando-se, disse: “Senhor, não te preocupa que a minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe, pois, que me venha ajudar”.
O Senhor respondeu-lhe: “Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas; mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada”.


As diferentes formas de hospitalidade oferecidas por Marta e Maria não só demonstram duas atitudes diante da vida, mas também expõem realisticamente o dilema da mulher contemporânea. O incidente, além disso, mesmo breve, dá uma ideia muito boa a respeito da eficácia do ministério de Jesus. Paul Tillich nos ajuda a entender esses poucos versículos quando escreve: “As palavras de Jesus a Marta são algumas das mais memoráveis de toda a Bíblia”. Parte do apelo dessa cena deriva da simpatia que em geral sentimos Marta. Quaisquer que fossem as necessidades do momento, alguns afazeres corriqueiros precisavam ser executados. Alguém tinha de preparar a refeição. [...]. Do seu ponto de vista, sua reclamação era perfeitamente oportuna e ela deve ter esperado com toda confiança que Jesus a apoiaria integralmente. págs. 105-106.

Mas Jesus não fez isso. Pelo contrário, aproveitou a oportunidade para ajudar Marta a compreender-se melhor. [...]. Na verdade, a única crítica que enunciou consistiu nem comentário sobre o que a própria Marta estava fazendo. “Tu te inquietas e te agitas por muitas coisas”. É como se dissesse: “Em vez de criticar a conduta de Maria, presta mais atenção a ti mesma”. Como Jesus bem compreendia, o trabalho pode se transformar numa atividade agitada para encobrir uma vida sem sentido. Em vez de ser uma expressão de amor, ele pode indicar uma necessidade de amor. Carol Wise lembra que “em alguns relacionamentos, o eu se sente tão ameaçado a ponto de acreditar que deve preservar todas as relações por meio da atividade. [...]. Não basta apenas trabalhar; o motivo que impele ao trabalho também é importante. Certamente, faz sentido a passagem de Marta e Maria vir na sequência da parábola do bom samaritano, como a dizer que o serviço em não conta toda a história da vida.

O objetivo de Jesus não foi reduzir a importância da área da realização criativa. O que ele quis dizer foi que essa não é a única área da vida onde podemos encontrar sentido e, na verdade, quis sugerir que Maria estava encontrando sentido num nível ainda mais significativo. Em termos da mulher de hoje, poder-se-ia dizer que Maria se recusava a assumir o papel cultural geralmente aceito da dona de casa. Ela afirmava categoricamente sua condição de pessoa, não apenas de mulher; ela se negava a amoldar-se ao estereótipo caracterizado como “mística feminina”. A expressão “mística feminina” foi criada pela escritora Betty Friedan, que a adotou para título de um livro instigante e provocador. Com detalhes meticulosos, ela documenta as forças que afastaram a mulher contemporânea da participação plena no mundo das ideias criativas e da ação influente e a reconduziram ao cenário doméstico centrado em torno do círculo familiar. [...]. págs. 106-107.

Era esse padrão de atividade frenética limitante que Maria rejeitava, e o que Jesus apoiou foi a escolha por ela feita de um comportamento mais favorável a uma verdadeira realização de si mesma. Uma contribuição importante da logoterapia é o princípio segundo o qual o sentido na vida do indivíduo não pode limitar-se a uma área restrita. Assim, por exemplo, a mulher que não tem a experiência da maternidade é irrealista se, por causa disso, acredita que sua vida deixa de ter valor. E o homem que não encontra satisfação na sua atividade profissional é igualmente irrealista se espera extrair sentido apenas no seu trabalho. Diante da negação de valores óbvios, é preciso procurar sentido em outra coisa, em outros níveis. [...].

Os valores experienciais se realizaram quando vivemos uma determinada realidade ou quando encontramos uma determinada pessoa. Assim, realizamos esses valores “entregando-nos à glória de uma experiência” como, por exemplo, quando “sentados num bonde..., temos a oportunidade de contemplar um pôr do sol maravilho ou de inspirar o aroma fragrante de acácias em flor”. Frankl analisa uma entrevista terapêutica com um pintor ornamental de sessenta e um anos cuja doença neurológica progressiva o impedia de continuar a fazer o que ele tanto amava. “Voltei espontaneamente a atenção para os valores experienciais, pois não havia mais acesso a valores criativos... Procurei evocar seus sentimentos de gratidão por suas realizações profissionais passadas, por suas experiências artísticas valiosas do presente e por sua excelente vida conjugal”. [...] págs. 108-109.

Mais importante do que viver a experiência de alguma coisa, porém, é encontrar alguém. A “melhor parte” escolhida por Maria era a “pouca coisa necessária” – um encontro pessoal. Podemos pressentir como a atitude de Maria de sentar-se aos pés de Jesus e de ficar ouvindo seus ensinamentos deve ter sido importante para ele. O incidente acontece pouco depois da menção de que “ele tomou resolutamente o caminho de Jerusalém” (Lc 9,51), enfrentando a crise inevitável que o levaria à morte. Por mais que Jesus precisasse de alimento para sustentar o homem físico, sua necessidade mais profunda era certamente de um ouvinte sensível a quem pudesse confiar as aflições mais íntimas do seu coração.

Aprendemos com Carl Rogers e com a “terapia centrada no cliente” o quanto é importante saber escutar. Rogers acredita que a comunicação fica prejudicada porque as pessoas não escutam realmente, e, por isso, não ouvem de fato o que é dito. [...]. Naturalmente, Maria fez mais do que escutar. Ela fez suas as preocupações de Jesus, entrou no mundo dele com ele. Ela encontrou sentido para a própria vida ao envolver-se com as preocupações do outro. É nesse contexto que Frankl relata o caso de um homem esmagado pela sensação de cansaço da vida até encontrar uma jovem em situação semelhante: “Ao encontrar uma jovem quase na mesma situação que ele e intuir ser missão sua confortá-la nessa fadiga existencial, sua própria experiência reassumiu imediatamente um novo sentido”.

Na vida pessoal de Frankl, valores criativos e experienciais tendem a agregar-se quando ele cria empatia com os interesses e necessidades de seus pacientes e encontra sentido renovado para sua vida. No campo de concentração, pouco antes de ser libertado, ele teve oportunidade de fugir, e até fizera planos para isso, até que um dos seus pacientes lhe perguntou com voz exaurida: “Você também vai fugir?”. Frankl descreve a sensação de mal-estar que o invadiu e sua súbita decisão:

De repente decidi tomar o destino em minhas mãos. Sai correndo da barraca e disse ao meu amigo que não podia acompanhá-lo na fuga. Assim que... tomei a decisão de ficar com meus pacientes, a sensação de mal-estar se dissipou. Eu não sabia o que aconteceria nos dias seguintes, mas instalou-se em mim uma sensação de paz interior que eu jamais sentira antes. Volte para a barraca, sentei no chão junto ao meu companheiro e procurei consolá-lo.

Já dissemos que não há uma maneira única de realizar valores e que diferentes circunstâncias exigem diferentes abordagens. É evidente, porém, que algumas formas são mais importantes que outros. Só conseguimos compreender a conhecida passagem sobre o “amor” de 1Cor 13 em todo seu vigor quando lemos com ela o último versículo do capítulo 12: “Aspirai aos dons mais altos. Aliás, passo a indicar-vos um caminho que ultrapassa a todos. Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse amor, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine”. Sim, certamente há valor nos dons espirituais que se expressam em línguas exóticas, mas há uma forma ainda mais excelente de fazer isso, a forma do relacionamento com as pessoas, tão compreensiva, acolhedora e tolerante que se torna transformadora. [...]. Jesus admoestou Marta não porque ela está errada ao realizar os afazeres domésticos, mas porque está menos certa que Maria. Maria deu prioridade ao que é mais importante: os relacionamentos pessoais. Para ela, encontros são mais importantes do que realizações; pessoas valem mais do que coisas. Diferentemente do jovem rico que construíra sua vida sobre coisas de tal modo que não conseguiu desvencilhar-se delas, Maria estabelecera uma prioridade básica a que não renunciaria mesmo que esta criasse alguma tensão com a irmã. págs. 111-113. [...].

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