sexta-feira, 23 de novembro de 2018

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: O PORQUÊ DE TANTOS FRACASSOS (PARTE 1)

TRECHOS DA OBRA; SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO; O PORQUÊ DE TANTOS FRACASSOS; PARTE 1
COMO ACABAMOS DE DIZER, a razão fundamental que explica tantos fracassos no caminho rumo à santidade daqueles que já o tentaram alguma vez, consiste em não ter empregado suficientemente os meios necessários e adequados para consegui-la. Sem utilizar convenientemente todos os meios necessários é totalmente impossível de se chegar ao fim: é algo evidente que não necessita de demonstração.
Entre os meios indispensáveis para alcançar nosso objetivo, há os de primeira categoria – são os que veremos amplamente na segunda parte deste livro – e outros que, embora também sejam necessários, são como pressupostos preparatórios de ordem natural ou sobrenatural. Examinaremos estes dois últimos no presente capítulo.
Entre esses meios que auxiliam e preparam para a ascensão à santidade, há um de ordem psicológica puramente natural, os outros dois pertencentes à ordem sobrenatural, que estão sob a influência da divina graça. São estes:

De ordem psicológica puramente natural:
A falta de energia de caráter.

De ordem sobrenatural:
A falta de verdadeiro desejo de santidade.
A falta ou deficiente direção espiritual.

Vamos examiná-los um por um.
1- Não é de surpreender que, para atingir um fim sobrenatural, deva-se empregar alguns pressupostos de ordem puramente psicológica e natural. Não porque o natural possa por si mesmo produzir algum efeito sobrenatural – heresia pelagiana condenada expressamente pela Igreja (D101SS/DH 222SS)
1 – mas porque o sobrenatural pode encontrar em seu desenvolvimento algum obstáculo natural a ser necessariamente removido para seguir adiante. Ou seja, o natural atua unicamente removendo os obstáculos que impedem e dificultam o caminho (“ut removens prohibens” como dizem os teólogos) e não porque possa produzir, por si mesmo, qualquer efeito sobrenatural. Não esqueçamos, ademais, que a graça não destrói a natureza, mas a eleva e aperfeiçoa, colocando-a a seu serviço.
O principal obstáculo de ordem natural que é necessário remover para seguir adiante é, sem sombra de dúvida, a falta de energia de caráter.
Vamos examiná-lo cuidadosamente. São legiões as almas incapazes de tomar uma resolução enérgica para resolver algum problema difícil que se lhes coloca adiante. Não se excitam nunca ou o fazem muito debilmente. Por causa de sua calma e lentidão, perdem uma multidão de boas ocasiões que, bem aproveitadas, poderiam levá-las ao êxito. Em algumas circunstâncias extremas, se sacrificam até onde for preciso; mas, no geral, lhes falta entusiasmo e espontaneidade, porque sua natureza é muito indolente e muito débil. Santa Teresa disse delas com muito acerto: “As penitências que fazem estas almas são tão reguladas quanto sua vida... Não tenhais medo que se matem, porque sua razão está muito em si”. (Santa Teresa). Onde falta vontade enérgica não há homem perfeito. Para sê-lo, não basta um indolente queria, é preciso chegar a um enérgico quero. “A vontade não é onipotente, mas pode-se vencer centenas de resfriados e muitos outros males se alguém se empenha nisto”.
2 Com uma vontade enérgica pode-se chegar à plena possessão de si mesmo, ao domínio e emancipação das paixões, à plena liberação das malsãs influências exteriores. Pouco importa se todos aqueles que lhe rodeiam se afastam do reto caminho; ele seguirá imperturbável sua marcha para o ideal, ainda que fique completamente só. Não há força humana que possa dobrar sua vontade e afastar-lhe do cumprimento do dever: nem castigos, nem ameaças, nem seduções, nem adulações. Morrerá mártir se preciso, mas não apostatará. Se lhe colocam diante de uma montanha de dificuldades, repetirá a frase de Napoleão: “Fora com os Alpes!”, e seguirá adiante apesar de tudo. Enfim, são eles que Santa Teresa descreve magistralmente, com toda precisão e clareza:
“Digo que importa muito e acima de tudo, uma grande e muito determinada determinação de não parar até chegar a ela (fonte de água viva), venha o que vier, suceda o que suceder, custe o que custar, murmure quem murmurar; quer chegue ao fim, quer morra no caminho, ou falte coragem para os sofrimentos que neles se encontram, havemos de prosseguir ainda que o mundo venha abaixo”. (Santa Teresa, Caminho de Perfección 21,2).
Aqueles que acertem em tomar para si esta muito “determinada determinação”, fecundada pela graça de Deus, levarão já em si, em germe e esperança certa, o heroísmo e a santidade. Págs. 39-43.


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1 A sigla D designa a obra de Heinrich Denzinger (1819 – 1883): Enchitidion symbolorum, definitionum et declarationum de rubus fidei et morum. Nela estão reunidas as definições dogmáticas e declarações da Igreja ao longo dos séculos nos concílios e documentos pontifícios. A partir da 32ª edição, a numeração foi alterada consideravelmente, devido à atualização e inclusão de novos documentos. [...].
2 P. Weiss, El Arte de Viver C.4 N.6.12.


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