Em realidade, este segundo obstáculo quase coincide com o anterior, ou tem com ele muitos elementos comuns. Mas, de qualquer forma, oferece alguns matizes muito importantes que convém examinar.
De pronto, tal obstáculo já pertence plenamente à ordem sobrenatural. Ninguém pode possuir um sincero e autêntico desejo de santidade ou perfeição cristã, senão sob a influência da divina graça.
Santo Tomás de Aquino, ao ser questionado por sua irmã sobre o que deveria fazer para chegar à santidade, limitou-se a responder: querer. É de se supor que o Doutor Angélico explicaria depois à irmã o verdadeiro sentido e alcance dessa lacônica resposta.
Poderia repetir aqui, apenas elevando à ordem sobrenatural, tudo quanto já dissemos sobre a energia de caráter. Somente as almas esforçadas e enérgicas, com ajuda da divina graça, conseguem escalar até o cume da montanha do amor.
a) Qualidades do desejo de santidade
Para se obter dele toda sua eficácia santificadora, o desejo da perfeição deve possuir as seguintes qualidades:3
2ª Profundamente humilde, quer dizer, sem jamais apoiá-lo sobre nossas próprias forças, que são pura fraqueza e miséria diante de Deus. Nem devemos aspirar à santidade vendo nela um modo de nos engrandecer, mas unicamente como o meio mais excelente para amar e glorificar a Deus com todas as nossas forças.
3ª Sumamente confiado. É o complemento da qualidade anterior. Nada podemos por nós mesmos, mas tudo podemos naquele que nos conforta (Fl 4, 13). O Senhor permite que se coloquem diante de nós verdadeiras montanhas de dificuldades precisamente para provar nossa confiança n’Ele. Quantas almas abandonam a senda da perfeição ao surgirem estas dificuldades, por esse desalento e falta de confiança, pensando que não é para elas uma coisa tão árdua e difícil! Somente os que seguem adiante apesar de tudo, pensando que das mesmas pedras pode Deus suscitar os filhos de Abraão (Mat 3,9), chegarão a coroar-se com os louros da vitória.
A este propósito escreve Santa Teresa:4
4ª Predominante, ou seja, mais intenso que qualquer outro. Nada tem razão de bem senão a glória de Deus, e, como meio para ela, nossa própria perfeição. Todos os demais bens devem subordinados a esse supremo. É a pérola de grande valor do Evangelho, para cuja aquisição o mercador deve vender tudo quanto possui (Mt 13, 46). Ciência, saúde, apostolado, honras..., tudo vale infinitamente menos do que a santidade. “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e Sua justiça e todas as coisas lhes serão dadas por acréscimo” (Mat 6,33). O desejo da perfeição não pode ser um entre tantos, posto à margem de muitos outros que disputem com ela a primazia. Tem de ser o desejo fundamental dominante de toda nossa vida. Aquele que quer ser verdadeiramente santo, precisa dedicar-se a isso profissionalmente, deixando de lado tudo o mais e considerando as coisas deste mundo como inteiramente caducas, segundo diz São Paulo: “Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3.3). Por não se decidirem totalmente a isso e andar aos tropeços entre as coisas de Deus e as do mundo, fracassam tantas almas no caminho de sua santificação. Págs. 43-46.
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3 Cf. Teologia de la Perfección Cristiana, n. 623.
4 SANTA TERESA, VIDA 13,12.
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