6ª Prático e eficaz. Não se trata de um quisera, mas de um quero, que há de se traduzir eficazmente na prática, dispondo hic et nunc de todos os meios a nosso alcance para conseguir a perfeição a todo o custo. É muito fácil iludir-se de que se tem o desejo da perfeição por certas veleidades e caprichos que ocorrem à alma durante a oração. Mas o movimento se demonstra caminhando. Desejar a perfeição em teoria, mas “esperar terminar este trabalho”, ou “que se passe tal ou qual data” ou “esperar sarar completamente” ou “ao sair de tal ofício ou cargo exigente”, etc., etc., é viver em perpétua ilusão. De prazo em prazo, de prorrogação a prorrogação, a vida vai passando insensivelmente, e nos expomos a comparecer perante Deus com as mãos um pouco menos que vazias.
b) Como aumentar o desejo de santidade
Insistindo nesse assunto tão transcendental, vamos propor agora os meios mais importantes para avivar em nós o desejo eficaz da perfeição e da mais elevada santidade. São estes:
I. Pedi-lo incessantemente a Deus. Enquanto sobrenatural, só do alto pode nos vir, já que é absolutamente impossível que brote de nossas próprias forças naturais. O meramente natural não produzir jamais nenhum efeito sobrenatural, ao contrário do que afirma a heresia pelagiana expressamente condenada pela Igreja (D 101ss/DH 222ss).
Deus se comprometeu a nos conceder tudo quanto pedimos com a oração revestida das devidas condições. A promessa divina consta explicitamente no evangelho: “Pedi e vos será dado! Procurais e encontrareis! Batei e a porta vos será aberta! Pois todo aquele que pede recebe, quem procura encontra, e a quem bate, a porta será aberta” (Mt 7,7-8). Estas categóricas palavras foram pronunciadas pelo próprio Cristo no sermão da Montanha, dirigindo-Se a todos os seus discípulos, e não a uma só classe seleta e privilegiada: “Todo aquele que pede, todo aquele que busca, todo aquele que chama...”, sem nenhuma limitação ou restrição.
Pois, se assim o é, como se explica que não tenhamos obtido de Deus o grande dom de desejar eficazmente a perfeição e a santidade cristãs? A explicação pode ser mais simples: porque não a pedimos, ou a pedimos insuficientemente ou sem reunir as devidas condições para que a oração resulte infalivelmente eficaz.
Para que a oração resulte infalivelmente eficaz segundo a promessa evangélica deve reunir as seguintes condições indispensáveis: 5
ii) Confiante, ou seja, esperando-a com toda segurança e certeza da misericórdia de Deus.
iii) Perseverante, repetindo-a mil vezes, sem se cansar nem desfalecer jamais, mesmo quando Deus parece não querer nos escutar. A razão de tardar em nos escutar, apesar de nossa insistência, é que Deus quer provar nossa fé e confiança em sua bondade e misericórdia, e fazer-nos ver, ao mesmo tempo, que por nós mesmos jamais poderíamos alcançar o que esperamos obter confiadamente de sua infinita misericórdia.
Quando reunidas essas três condições principais, a oração de petição resulta infalivelmente eficaz, em virtude da promessa evangélica expressada pelo próprio Jesus Cristo no sermão da Montanha.
II – Renovar com frequência o desejo de santidade, como já dissemos. Diariamente nos momentos mais solenes e importantes (santa Missa, sagrada comunhão, orações privadas). Não é necessário pronunciar fórmula alguma; basta um impulso amoroso do coração, uma breve e simples jaculatória, etc., etc.
III- Meditar com frequência nos motivos para querer a santidade. Eis aqui os principais:
i) Temos a obrigação estrita de aspirar à perfeição em virtude da vocação universal à santidade, segundo vimos amplamente ao expor a magnífica doutrina do Concílio Vaticano II.
ii) É o maior dos bens que podemos alcançar nesta vida. Em comparação a ele, são como “esterco e lixo” todos os bens deste mundo (Fl 3,8).
iii) A perfeita imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos amou até derramar todo o seu sangue por nós, exige a máxima correspondência e o máximo esforço de nossa parte: amor com amor se paga. A visão de Jesus Cristo crucificado deveria ser o incentivo mais nobre e eficaz para nos impulsionar à mais alta santidade. Págs. 47-51.
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5 Cf. SANTO TOMÁS, II-II, 83, 15 AD 2.
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