quinta-feira, 4 de julho de 2019

TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: AS VIRTUDES DERIVADAS OU ANEXAS (PARTE 3)

A VIRTUDE DA PIEDADE 

1. NOÇÃO 
Como virtude especial derivada da justiça, pode ser definida como: “Um hábito sobrenatural que nos inclina a tributar aos pais, à pátria e a todos os que se relacionam com eles a honra e os serviços devidos” (101,3).
[...] 

3. SUJEITOS 
Como acabamos de dizer, os sujeitos sobre os quais recaem a virtude da piedade são três:
a) Os pais, aos quais se refere principalmente, porque eles são, depois de Deus, os princípios de nosso ser, educação e governo.
b) A pátria, porque também ela é, em certo sentido, princípio de nosso ser, educação e governo, enquanto que proporciona aos pais – e por meio deles a nós – muitas coisas necessárias ou convenientes para isso.
c) Os consanguíneos, porque, mesmo que não sejam princípio de nosso ser e governo, neles estão representados, de algum modo, nossos próprios pais, já que todos procedemos de um mesmo tronco comum e “possuímos o mesmo sangue”, como disse Judá aos demais filhos de Jacó que queriam matar a seu irmão José por inveja (Gn 37,27).
Por extensão podem se considerar como parentes aqueles que formam como uma mesma família espiritual (p. ex. os mesmos de uma ordem religiosa, que chamam “pai” comum ao fundador da mesma).

III. A FORTALEZA E SUAS DERIVADAS 

Diferente das outras três virtudes cardeais, a fortaleza não tem partes subjetivas, senão unicamente partes integrais e potenciais ou derivadas, pela razão que vamos indicar. 
a) Partes subjetivas ou especiais
A fortaleza não tem partes subjetivas ou de diversas espécies, por se tratar de uma matéria muito especial e determinada, como são os perigos de morte. Mas, dentro dessa unidade específica subjetiva, destaca um certo ato principal que é o martírio, do qual diremos algumas palavras.

1. MARTÍRIO 

Pode ser definido como: “o ato principal da vida da fortaleza pelo qual se sofre voluntariamente a morte em testemunho da fé ou de qualquer outra virtude cristã relacionada com a fé”.
Segundo essa noção, o martírio se relaciona com quatro grandes virtudes cristãs:
a) Com a fortaleza, que é a virtude da qual brota diretamente (virtude elicitiva). Constitui seu ato principal, já que leva a uma máxima tensão a resistência contra o mal. Não há maior resistência contra o mal: antes entregar a vida do que trair a fé ou apartar-se do caminho da virtude.
b) Com a fé, que é a virtude final pela qual se sofre o martírio, mesmo se tratando de outra virtude cristã (p. ex. em defesa da castidade). Se não se relaciona com a fé não haveria verdadeiro martírio (p. ex. uma mulher que se deixa matar somente para conservar a honra, desde o ponto de vista puramente humano). Por isso se diz com razão que o mártir é uma testemunha da fé cristã, ao dar sua vida por ela.
c) Com a caridade, que é uma virtude imperante, ou seja, a virtude motora que impulsiona a sofrer o martírio por amor de Deus ou de Cristo. Sem ela, o martírio careceria de valor meritório, como diz expressamente São Paulo (1Cor 13,3). E como a virtude imperante influi no ato realizado com maior profundidade do que a própria virtude elicitiva, segue-se que o martírio é o maior ato externo de caridade que pode se fazer nesta vida: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).
d) Com a paciência, que brilha em grau heroico nos mártires, suportando, sobretudo, as longas privações e tormentos que costumam preceder ao próprio ato do martírio.

[...].

VI. A TEMPERANÇA E SUAS DERIVADAS 

A temperança, como virtude cardeal, tem partes integrais, subjetivas e potenciais (ou derivadas). Vamos nos limitar a um simples enunciado com clareza suficiente para nos dar uma ideia exata de cada uma delas.
a) Partes integrantes
São, como sabemos, aqueles elementos que integram uma virtude ou a ajudam em seu exercício. A temperança tem dois:
1º Vergonha. Não é propriamente uma virtude senão uma “certa paixão louvável que nos faz temer o opróbrio e confusão que se segue de um pecado torpe, impulsionando-nos a evita-lo”. Seu pecado oposto é, naturalmente, a desvergonha.
2º Honestidade. Como parte integral da temperança, a honestidade “é o amor ao decoro que provém da prática da virtude”. Coincide propriamente com o honesto e o espiritualmente decoroso. É uma certa limpidez ou pulcritude espiritual que se opõe frontalmente ao torpe, e por isso pertence à temperança. 
b) Partes subjetivas ou espécies
São as diversas espécies nas quais se subdivide uma virtude cardeal. Como a temperança tem por principal missão moderar a inclinação aos prazeres procedentes do gosto e do tato, suas partes subjetivas se distribuem em dois grupos?

i) Sobre o gosto ou a nutrição:
Na comida: abstinência
Na bebida: sobriedade

ii) Sobre o tato ou a geração Temporalmente: castidade
Perpetuamente: virgindade

c) Partes potenciais ou derivadas São as virtudes anexas ou derivadas, que se relacionam em alguns aspectos com sua virtude cardeal, embora não tenham toda sua força ou se ordenem somente a atos secundários. As correspondentes à temperança são as seguintes:
i) Contra as tentações desordenadas muito veementes: continência (refreando as paixões fortes). Moderando a ira segundo a reta razão: mansidão.
ii) Moderando o rigor do castigo: clemência. Moderando os movimentos internos e externos dentro de seus justos limites, segundo seu estado ou condição: modéstia, subdividida em outras cinco:

1. Na estima de si mesmo: humildade.

2. No desejo da ciência: estudiosidade.

3. Nos movimentos do corpo: modéstia corporal.

4. Nos jogos e diversões: eutrapelia.

5. Nos vestidos e adornos: modéstia no ornamento.


Tal é o maravilhoso cotejo das virtudes correspondentes às diversas partes da virtude cardeal da temperança. Ante a impossibilidade material de examiná-las todas dentro dos limites de nossa obra, é preciso fazer uma exceção com a mais importante de todas: a humildade, que é uma das duas grandes virtudes fundamentais que sustentam e levantam todo o edifício sobrenatural, como veremos na continuação. Págs. 265 - 269; 272 - 274.


Link para a continuação do post: TRECHOS DA OBRA: SER OU NÃO SER SANTO... EIS A QUESTÃO: AS VIRTUDES DERIVADAS OU ANEXAS (ÚLTIMA PARTE)


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